quarta-feira, 17 de junho de 2020

Uma declaração de amor ao Family Mart

Você passa pela porta automática de vidro e entra, uma músiquinha MIDI toca e você ouve um IRASHAIMASSEEE~, o cheiro de bentôs, nikuman e café entram no seu nariz, você acabou de entrar num Family Mart.

Family Mart perto do apê em Yamanashi.

Uma loja de conveniência (ou konbini) é um mini mercadinho só que muito mas muito melhor: numa konbini você vai achar de tudo, de ingredientes pra cozinhar, roupas íntimas de boa qualidade, artigos de papelaria, petiscos, frutas e bentôs (marmitas japonesas) até comida relativamente fresca, ingressos pra show, passagens de ônibus, bebidas de todos os tipos (alcoólicas ou não, quentes e geladas), pães e bolos. Tudo isso num espaço de uns 100m², até menos na real.

A konbini é uma verdadeira instituição japonesa, é a única coisa aberta depois das 22h em muitas cidades no interior do Japão e elas são espalhadas aos montes em Tokyo, coisa de duas por quarteirão sem qualquer exagero. Além de tudo que falei no parágrafo anterior as konbinis também são os únicos lugares com caixas 24h que são realmente 24h fora de Tokyo, você pode pedir pra Amazon entregar as encomendas lá caso não esteja em casa e são o único lugar com lixeiras 24h, já que não tem lixeira pública no Japão, e tem banheiro também.

Existe uma série de redes de konbini pelo Japão mas as mais famosas (e maiores) são: Family Mart, 7-Eleven e Lawson. E todo mundo que fica pelo menos um tempo no Japão vai ter uma rede de konbinis favorita, eu te garanto que isso gera mais treta que qualquer briga por futebol lá.

Ao fundo, à esquerda está o Lawson mais famoso do mundo para fãs de Kinoko Teikoku.

Lawson foi a que menos frequentei quando estive no Japão, mais porque ela era a mais longe do nosso apê em Yamanashi e não tinha muitas vantagens sobre as outras redes. O único Lawson onde comprei algo pra comer foi o de Shimokitazawa, e foi porque apareceu num clipe do Kinoko Teikoku. Eu me lembro da minha compra até hoje: uma cerveja "Suiyobi no Neko", um pacote de beef jerky e um pacote de lula seca, por algum motivo eu não comprei onigiris, com a sacola com essas compras eu percorri a rua onde o Kinoko Teikoku gravou o clipe do Chronostasis e chorei, chorei porque era a última vez que eu veria Shimokitazawa em um bom tempo.

7-Eleven é a maior rede de konbinis no Japão mas eu só ia lá na ocasião de voltar com fome de Tokyo ou do Shopping Center perto e parar no caminho entre a estação de trem e nosso apê pra comprar um bentô. O que eu mais odiava do 7 era o cheiro persistente de Oden em toda santa loja deles, puta merda, é algo que você realmente só fica enjoado depois de um tempo mas pô, eu não me importo com o cheiro de oden num restaurante mas numa konbini era meio enjoativo, ainda mais no inverno que tava, você entrava pela porta e vinha um bafão de ar quente com cheiro de oden na tua cara. A maior razão pela qual eu ia no 7 era porque o sistema de venda de ingressos deles funciona a partir de código numérico ao invés da busca textual do Famima, como eu não sabia um puto de japonês na época, eu tinha que ir até o 7 só pra comprar alguns ingressos.

Family Mart (ou Famima) é minha grande paixão, além de que tinha um no lado do nosso apê, o frango frito que eles vendiam era maravilhoso ~FAMICHIKI EU TE AMO~, sério, os nossos jantares em dias de folga e de pouca grana eram o curry pronto pra fazer no banho maria, arroz e o que tivesse na geladeira, quando sobrava uns 120JPY eu corria pro Famima pra pegar o delicioso FAMICHIKI, eu te juro que era melhor que qualquer KFC e olha que comi pra cacete no KFC no Japão. Além disso tinha uma caralhada de sabores de onigiri lá e muitas vezes nas minhas viagens solo pelos arredores de Tokyo, meu café da manhã foi um onigiri e um café (que também era ótimo) do Famima.

Tá bom, a esse ponto você já percebeu que isso não é mais uma comparação, é uma verdadeira homenagem ao Family Mart. Acho que pela familiaridade com o Famima por ele ser nosso vizinho em Yamanashi, toda vez que eu precisava ir numa konbini, eu ia num Family Mart.

Yamanashi? Famima na frente do nosso apê.
Kofu? Famima embutida na estação de Kofu, atrás da estátua do Takeda Shingen.
Shinjuku? Famima da rodoviária.
Yoyogi? Só descer as escadas do Customa, virar pra direita, duas lojas pra frente tinha um Famima e tinha outro no lado do meu primeiro show no Zher The Zoo.
Harajuku? Famima na entrada da Takeshita-dori.
Shimokita? Descendo da rua do meu hostel, virando pra esquerda, estava lá o Famima.
Yokohama? Famima dentro da estação Minatomirai.
Tsukuba? Famima na estação onde eu tava ficando.

O Family Mart era uma ilha de conforto em qualquer lugar que eu fosse no Japão, certo que eu mal saí de Tokyo e Yokohama mas era tão reconfortante saber que não importava onde eu fosse, teria um lugar onde eu poderia pegar wifi, comprar onigiri e comprar ingressos e passagens. Eu fui pra mais de dez Family Marts diferentes e comprei de tudo nelas: Shounen Jump, caneta permanente, cortador de unha, ingresso pra show, passagem de ônibus, bentôs, onigiris e cafés.

Umas konbinis ainda tinham um espaço pra sentar pra comer o bentô, pelo o que fiquei sabendo dos meus primos isso era uma iniciativa relativamente nova, mas as lojas já esquentavam a marmita e vendiam café moído na hora, então era o que faltava pra eles pegarem marketshare de cafeterias. Eu particularmente sempre ficava na área pra sentar na konbini perto de casa porque tinha wifi e a van do trampo buscava a gente no estacionamento do Famima, além do frio de rachar o cu que estava naquela época.

As konbinis no interior (fora de Tokyo pelo menos) tinham uma atmosfera incrível, geralmente ficavam no meio de um estacionamento relativamente grande pro tamanho da loja em si e como a iluminação pública no interior do Japão é quase inexistente, as luzes das konbinis são visíveis de longe, cyberpunk pra caralho.

Quão cyberpunk é isso? Foto não é minha, tirei daqui.

Além do Famima, Seven e Lawson tinha uma série de konbinis menores: Mini Stop era famosa pelos lanches feitos na hora estilo Subway, Daily Yamazaki era reconhecida pela variedade de pãezinhos frescos e o Seicomart é a folclórica rede de konbinis que só tem em Hokkaido que queria ter conhecido.

E é uma coisa que você só passa a sentir que gosta depois de sair do Japão, porque konbini e vending machine são as coisas que mais têm lá e você cansa de vê-las a cada esquina mas são essas pequenas coisas que fazem o Japão ser do jeito que é, porque konibins em sua concepção são coisas que só podem funcionar no Japão, é o único lugar no mundo onde lojas 24h conseguiriam funcionar sem precisar de segurança e os preços mais altos são aceitáveis pela conveniência das lojas.

Se eu pudesse trazer só UMA coisa do Japão, levando em conta condições ideais de que ia dar certo comercialmente e não ocorreriam assaltos e depredações constantes, eu traria as konbinis pro Brasil. A Hirota e, em menor escala, o Extra e o Carrefour, estão tentando fazer um modelo BR de konbinis, a Hirota em particular até tem uma mini-Daiso dentro pra vender coisas mais variadas e ainda vendem bentôs e comida pronta pra esquentar no micro-ondas dentro da loja, pena que a operação deles é bem limitada e a comida provavelmente não é boa, nunca experimentei mas o preço também não ajuda.

Mas é, konbinis, elas definitivamente não serão nada demais se você for turistar no Japão por umas semanas mas se você ficar por mais tempo é quase certeza que vai acabar precisando delas.

O post foi longo (e poderia ser maior) mas acho que por hoje tá bom.

valeu, falou, té mais!

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