domingo, 24 de dezembro de 2023

CAIU NA VILA... era só isso mesmo, o Santos caiu na Vila bicho

O inevitável aconteceu: o Santos foi rebaixado.

Eu achei que estaria mais triste mas, sinceramente, era algo inevitável. O Santos tá uma merda desde os últimos títulos paulistas uns 7 anos atrás e, tirando a breve ilusão que foi ter chego à final da Libertadores de 2020, esse time já não me dava esperança faz muito tempo, muito mesmo.

O santista médio mais pessimista no começo de 2023 não esperava que o Santos ia ser rebaixado neste ano ao mesmo tempo que não ficou tão surpreso quando o inevitável aconteceu na última quarta. 

Eu tive um evento corporativo no dia da última rodada do Brasileirão e estava crente que não tinha como o Santos ser rebaixado, pô! O Bahia precisava ganhar do Atlético Mineiro que tava ainda com uma recompensa financeira gorda pra poder mirar no vice campeonato e o Vasco precisava ganhar do Bragantino, que não é o melhor dos times mas poxa, eu tinha fé na Red Bull.

Mas não, o Bahia bateu com sobras o Atlético e o Vasco fez o dever de casa contra o Bragantino, e o Santos perdeu.

O Santos foi rebaixado.

Eh, era uma coisa inevitável visto o estado deplorável do time. Pra falar a verdade eu já esperava que isso ia acontecer neste ano, o Marcelo Fernandes me deu uma breve esperança ganhando dos times na ponta de cima da tabela mas estava óbvio que haveria problemas quando o time começou a tropeçar nos jogos "mais fáceis", enfim, nada que o torcedor do Santos estivesse tão surpreso de presenciar neste ano.

Eu já não assistia jogos do Santos desde aquela fatídica final da Libertadores de 2020 (que foi jogada no começo de 2021) e naquela época minha vida tava uma merda e acabou que no mesmo dia da final eu tinha recebido pelo menos umas 3 respostas negativas para processos seletivos para estágio, aquele foi um dos fins de semana mais merda dos últimos anos.

Mas dessa vez eu tava voltando de casa com três pudins que peguei do evento corporativo que eu tava e com nenhuma preocupação do Santos cair pra Série B "Porra, falaram que a chance é de 3%" Pois é.

Mas enfim, eu não estou terrivelmente abalado pelo Santos cair pra segunda divisão, é mais uma decepção acumulada desde, sei lá, 2016. 

Espero que a nova diretoria (que não é tão nova né) saiba reerguer o Santos tão bem quanto a do Palmeiras, assim como espero que um patrocinador fodido de grande bote um aporte bilionário no time... na moral que só espero que o Santos não caia pra Série C e como esse time é fodido de imbecil, se isso acontecer é capaz que seja por falir, escalar jogador irregular, etc.

Eu estou escrevendo este post desde o dia seguinte à derrota do Santos para o Fortaleza, então... 6/12, estou há 18 dias digerindo a merda que aconteceu com esse time.

E é um caralho né, tem gente que entendeu porque uma pessoa estaria mal pelo seu time estar sendo rebaixado pela primeira vez e tem gente que não, não vou declarar de que gênero era cada uma dessas pessoas mas às vezes acho que devia me deixar influenciar menos pelo o que acontece com um time da Baixada Santista.

Apesar de tudo isso eu amo o Santos Futebol Clube, é legal ter esse sentimento e identificação com um time de futebol e ter visto o Santos de Neymar e Ganso em pleno auge em 2010~2012 foi super bacana, mesmo que não tivessem ganho os títulos na época, era um time super divertido de se assistir.

Enfim, agora espero ansiosamente para ver meu Santos jogar contra o Operário e o Ituano de sexta e sábado.

Provavelmente vocês não me verão falando de futebol tão cedo.

Voltaremos à nossa programação usual de posts sobre música japonesa ou sobre minha vida pessoal no próximo post.

vlw flw té mais!


domingo, 22 de outubro de 2023

アイドル

Eu amo Oshi no Ko, amo amo amo de coração. 

É um mangá que me prendeu desde quando comecei a ler uns anos atrás (ano passado ou retrasado) e isso foi um pouco depois de me adentrar no universo das vtubers, então eu entendia um pouquinho da fixação por idols.

Hmm, era pra ser um post rápido sobre Oshi no Ko mas eu achei um tema bacana: Idols.


 

Nota: Eu sei que tem muito fã diehard pesado de idols japonesas na internet (inclusive brasileira), então já aviso: EU SOU INICIANTE NO ASSUNTO IDOLS, SEI MUITO POUCO E AINDA ESTOU APRENDENDO SOBRE O ASSUNTO. Se quiserem fazer correções sintam-se à vontade pra comentar neste post.

Cara, acho que é uma coisa muito maneira de estudar, e deve ter uma caralhada de artigos sobre, mas quando a gente vê o conceito de idol e toda a história que culminou nos grupos de kpop de hoje em dia, não é absurdo falar que toda essa subcultura surgiu no pós-guerra com a Hibari Misora, a cantora favorita de 9 a cada 10 batchans no Brasil.



 

A Hibari Misora foi a primeira grande estrela do Japão pós-guerra e ela era atriz de sucesso também, foi ela quem criou meio que os moldes de como uma idol deveria ser. 

Só que hoje em dia é meio consenso que o conceito de idol em si surgiu um pouco depois, com um filme francês chamado Cherchez l'Idole. Nesse filme a cantora Sylvie Vartan faz uma apresentação que moldou o que seria uma idol ideal no Japão. O lançamento do filme criou uma febre e um culto pela imagem da Sylvie Vartan.


Sim, uma cena de dois minutos num filme francês que sequer tem uma página decente na Wikipedia hoje foi o que criou (ou pelo menos deu o nome) a indústria de Idols, incrível. E esse conceito veio junto com uma forma menos orgânica para a criação de idols, onde programas de auditório faziam (e ainda fazem) concursos e audições para selecionar novas idols.

Você que não sabe absolutamente nada de música japonesa antes do Jpop: a música popular japonesa tinha uma divisão bem clara entre Enka e Kayokyoku. O Enka já tinha certa influência ocidental (a mais óbvia era o uso de orquestras inteiras) mas o jeito de cantar ainda era muito ligado ao canto tradicional japonês, como pode-se ver no vídeo acima da Hibari Misora. O Kayokyoku já era um pop mais ocidental mesmo, apesar de ter suas particularidades que fazem com que boa parte do gênero possa ser confundido com Enka hoje.

Mas enfim, eu não curto Enka então do gênero só vou falar da Hibari Misora mesmo. Até porque o conceito de Idol é extremamente atrelado ao Kayokyoku mesmo.

O Kayokyoku, ou Jpop dos anos Showa, é o que eu considero a era de ouro das idols. Era o Jpop antes do Jpop, apesar de ser meio espinhoso falar com certeza onde um termina e outro começa, mas é fato que idols como daquela época já não existem mais.

Pra mim a maior idol de todos os tempos, e o molde definitivo do que seria uma idol, é a Momoe Yamaguchi:



Linda, voz marcante, carisma absurdo, a Momoe tinha tudo. Acabou se casando aos 21 anos, se aposentando no auge da carreira. É minha kamioshi (idol favorita de todas) até hoje.

Outras idols do Kayokyoku que valem a pena citar:

Akina Nakamori





Seiko Matsuda, acho que a idol mais famosa do Kayokyoku:




Foi no Kayokyoku que um animal teve a brilhante ideia de colocar um monte de idols num grupo grande o suficiente para ninguém em sã consciência lembrar do nome de todos os membros, assim foi criado o Onyanko Club:


Por trás do Onyanko Club estava um compositor novato que seria muito conhecido dali a pouco: o Yasushi Akimoto.

Na transição do kayokyoku pro Jpop as idols estavam em baixa, talvez porque a economia japonesa foi pro saco, mas por bem ou por mal os anos 90 foram uma seca para o mercado de idols.

Mas nos anos 90 surgiu o Morning Musume, grupo que existe até hoje:


No começo dos anos 2000 o nosso amigo Yasushi Akimoto (lembram dele?) que tinha criado o Onyanko Club nos anos 80, decidiu criar mais um grupo de idols ginorme, o AKB48:


Cara, daí pra frente foi uma clusterfuck do caralho: criaram grupos 48 pra cima e pra baixo, depois o Akimoto criou os grupos 46 (um pouco menos piores, acho) e o Japão ficou infestado de grupos ginormes de idols descartáveis.

Enquanto o Japão, como sempre, focava no mercado interno na hora de criar grupos de meninas bonitinhas e, preocupantemente, infantilizadas, a Coreia do Sul dava luz ao kpop como conhecemos hoje, muito influenciado pelo mercado de idols do Japão:

Pra falar a real: eu não sei nada sobre idols japonesas, e sei menos ainda de idols coreanas, mas julgo que Girls' Generation tenha sido um dos primeiros grandes grupos de kpop.

Mas enfim, dessa época dos grupos 48 e do começo do Kpop moderno até hoje, o conceito de idol se dobrou e desdobrou, criaram grupos de idols com os conceitos mais absurdos que você possa imaginar, tipo misturar o kawaii típico das idols com um gênero nada a ver tipo metal, assim surgiu o Babymetal:

O negócio é que, apesar das vendas físicas continuarem altas por estarem atreladas a sistemas de loteria para ingresso de show, os grupos tradicionais de idols no Japão estão decaindo e a popularidade das idols coreanas está aumentando. O interessante é que as idols coreanas são bem mais populares entre o público feminino do que o masculino no Japão, eu posso te dar uma miríade de bons motivos pra isso mas se resume em: o kpop não é pra gente que precisa sexualizar (e as vezes infantilizar...) até as artistas que ouve.

Enfim, qual é o próximo passo você me pergunta? Idols virtuais, obviamente.

Cara, o caso da Hatsune Miku é extremamente particular porque ela não surgiu como uma idol na sua criação e se tornou um símbolo cultural enorme com o tempo, mas acho que dá pra falar que ela foi a primeira grande idol virtual.


 

Eu não sei o quão familiarizado vocês estão com o conceito de V-tubers mas em suma: são streamers que, ao invés de usarem uma câmera para se filmarem enquanto transmitem na internet, usam um detector de movimento que transforma a pessoa num avatar virtual. A grande sacada do capitalismo japonês foi misturar esse conceito novo com uma reinvenção do que é ser uma idol. A minha Vtuber favorita é a Hoshimachi Suisei:

A grande diferença entre a Miku e as V-Tubers é que a Miku realmente não tem uma pessoa de carne e osso por trás cantando, é um sintetizador, enquanto as V-Tubers só têm de virtual mesmo a aparência.

E é isso. Acho que as idols virtuais vieram pra ficar, porque elas solucionam o grande problema que as idols sempre tiveram que enfrentar: fãs malucos. Além de ser um personagem feito pra ser idol, que pode ser moldado a bel prazer dos produtores. Eu sendo fã tanto da Hoshimachi Suisei quanto da Momoe Yamaguchi amo de coração as duas mas de maneiras diferentes.

Agora, você me pergunta o que acho da indústria de idols? Acho uma merda.

Eu não sei ABSOLUTAMENTE NADA de idols homens, então minha opinião vai ser totalmente baseada em alguém que sabe MAIS OU MENOS da história das idols mulheres e assim... é uma merda pelo mesmo motivo de ser legal: as idols vendem um sonho.

Acho que o motivo de eu gostar tanto de Oshi no Ko é que a obra foca bem nessa "mentira linda" que é o universo das idols. Você wota (fã de idols) malucão NUNCA vai se casar com sua idol, ela sempre vai estar no palco e não vai saber que você sequer existe (na maioria das vezes) mas acho que essa é a beleza da coisa, a promessa, a ilusão da construção da imagem da idol é um negócio espetacular, eu admiro demais o esforço que vai no negócio todo, só que a merda é que o que isso gera de relacionamento para-social não tá escrito.

Ah, lembrei de outra obra além de Oshi no Ko que é do caralho pra entender um pouco mais de idols: Perfect Blue, meu filme de anime favorito.


Hmm, acho que tá bom de texto por hoje. Eu escrevi boa parte deste texto faz um tempo e terminei hoje com uns 3 parágrafos. 

Cara, esse assunto de idols é uma coisa absurda de interessante, e anda de mãos dadas com a história da própria música japonesa. As idols do kayokyoku (dos anos 70 e 80) em sua maioria eram cantoras, atrizes e multi-talento, e você não vê algo remotamente parecido no ocidente. Tem cantoras e cantores que participavam de filmes por aqui? Com certeza, mas as idols eram basicamente full-time nas duas funções, o que não queria dizer que eram necessariamente boas em ambos.

Enfim, posso ficar falando sobre o assunto por horas e horas mas quero dormir.

Ah, antes que vocês me perguntem: Sim, o City Pop faz parte do Kayokyoku mas geralmente as cantoras do City Pop eram mais cantoras mesmo, do que idols. (Eu sei bem pouco de City Pop pra falar a real, mas pode vir a ser assunto de post futuro).

Ok, é isso, escrevi demais já.

vlw flw té mais!

domingo, 15 de outubro de 2023

Uhhhhh mudando de assunto...

Cara, eu tive uma caralhada de ideias de post mas acabei jogando elas pro rascunho de volta por PREGUIÇA, tá aí umas ideias que viraram posts de uns 3 parágrafos e acabei miando de escrever:

  • História da cultura de Idols no Japão (esse tá ginorme na verdade, mas tenho zero confiança no meu taco pra postar);
  • História de como virei padrinho de casamento e como foi um casamento tradicional chinês;
  • Sukiya da São Joaquim fechou para reformas, minha história com esse restaurante;
  • O bar que frequento aqui perto de casa, e as pessoas que conheci lá.

E tem mais uma caralhada de ideias que nem sequer saíram da minha cabeça. Vamos tentar falar um pouco de tudo e transformar tudo numa maçaroca incompreensível.

A história da indústria de idols em especial é um assunto extremamente interessante não só pra quem gosta de K-Pop e J-Pop hoje como pra quem gosta de Kayokyoku (o que engloba City Pop) e Enka das antigas também, e fica complicado porque não dá pra falar das idols no Japão sem falar da indústria como um todo. O desenvolvimento do Kayokyoku é totalmente atrelado ao pessoal que era do Happy End por exemplo, que foi a banda que provou que era possível cantar Rock em japonês.

Mas enfim, das coisas interessantes que descobri foi que o conceito de Idol surgiu de um filme francês que fez um sucesso absurdo no Japão na década de 60:


Eu não achei o filme pra ver (e provavelmente eu não veria) mas pelo o que entendi a Sylvie Vartan só apareceu nessa cena e os japoneses criaram um arquétipo inteiro que perduraria por mais de 50 anos depois só pela performance dela aí, incrível. 

E o que me fez pesquisar a história das idols foi o meu vício recente em Oshi no Ko. Acho que não é exagero dizer que, pelo menos no Japão, quando você fala em idol você vai pensar na Ai Hoshino do Oshi no Ko, o mesmo acontecia com a Sylvie Vartan na década de 60, como os tempos mudam.

Acho que o conceito de idol no Japão é até mais antigo que a Sylvie Vartan, a Hibari Misora no pós-guerra não poderia ser descrita, hoje, de outra forma senão de idol daquela época, mesmo que a nomenclatura não existisse, mas isso já queria falar noutro post.


Mudando de assunto: um amigo meu da Naval, um dos melhores amigos (sou proibido de ter UM melhor amigo por questões contratuais), se casou no começo do mês e fui chamado pra ser padrinho.

Sim.

Eu fui padrinho de um casamento.

Foram uma série de primeiras-experiências para um jovem adulto e sinto que como padrinho devia ter feito mais coisa, mas isso é questão pro noivo (agora marido) me julgar. O legal é que foi um casamento chinês bem tradicional e tive uma série de choques culturais, foi uma experiência super bacana e ATESTO que foi o primeiro casamento que fui que não me senti nem um pouco desconfortável, acho que a razão principal foi que a festa começou cedo e terminou tipo antes das 18h, melhor coisa, não tenho idade pra varar mais a noite (acho que nunca tive).


Mudando de assunto: o Sukiya da São Joaquim está fechado para reformas.

Eu amo o Sukiya, tenho só lembranças boas de quaisquer vezes que comi numa franquia do restaurante. Seja nas inúmeras vezes que comi no SJ, ou quando comi na Santa Cruz, na Saúde ou na Paulista. Ou até mesmo em Yamanashi, Shinjuku(Yoyogi), Akihabara ou Shibuya. O conforto em achar um Sukiya aberto pra comer é incrível. 

O da São Joaquim em especial é como uma segunda casa pra mim. Da época que ele ainda era onde hoje estão fazendo a expansão do metrô. Eu fiquei feliz com a reforma (e mudança) que o Sukiya sofreu mas pensando hoje acho que preferia como era antes, com o balcão no centro. No Japão era bem raro ver gente comendo em grupos no Sukiya, era basicamente só gente sozinha e alguns grupos de turistas. Acho que por termos uma cultura de comer sempre em grupos o Sukiya fez a reforma na rede inteira deles pra ocidentalizar os espaços. Na maioria das vezes eu vou com amigos comer lá, mas o Sukiya mais japonês tinha um charme bem único que hoje me dá saudade. Espero que não ocidentalizem mais ainda o Sukiya.


Mudando de assunto: Hmm, acho que o post sobre o Kintaro em particular vai ter que esperar, quero escrever bastante coisa sobre.


E é isso então pessoal! Eu ando na maior correria ultimamente e não tava com tempo pra sequer pensar num post decente, então espero que este seja o bastante pra suprir essa falta de posts desde Agosto.

Acho que agora que consegui sentar pra escrever um post direito vai ser mais fácil escrever outros.

Ou não.

Valeu, falou,

Até mais!


sábado, 5 de agosto de 2023

Um studio em Shimokitazawa, um Nissan Figaro, dois maço de hi-lite mentolado e uma desilusão amorosa. Pra viagem pro favor.

[Este post é um post incompleto que tinha escrito até a metade em Abril deste ano, do vídeo pra frente eu escrevi hoje]

Eu escrevi um post faz tipo dois anos falando como não invejo os milionários e bilionários de plantão por aí mas invejo pra cacete as blogueiras (e hipsters) japonesas. 

Outro dia eu tava navegando pelo instagram, sem absolutamente nada na cabeça, quando me deparei com o perfil de uma moça que personificava tudo o que mais eu invejo: roupas estilosas, presença marcada nos shows de artistas que gosto, várias fotos em izakayas, apartamento típico japonês de 20m² e mini-varanda, além daqueles rolês super japoneses tipo fazer piquenique vendo as sakuras, viajar de trem pra praia, reunir os amigos pra comer sukiyaki, etc.

O engraçado é que tem uma série de lugares-comuns para essa galera no Japão, ou pelo menos do pessoal parecido que achei: essas meninas (e meninos também, mas meninas na maioria das vezes) hipsters sempre fumam hi-lite mentolado, bebem Horoyoi (uma Smirnoff Ice só que com mais sabores, mais suave e pelo o que lembro era melhor também) e, por mais que não esteja explícito, trabalham com arte ou vivem de part-time jobs, ou seja: o total oposto do meu estilo de vida.

Cigarro de 9 em cada 10 hipsters no Japão
 

Eu trabalho com dados num bancão, fiz engenharia naval, se eu fumar ou beber sou capaz de MORRER e me visto da mesma forma como me vestia com 12 anos, ou seja: mal.

Mas romantizo demais um estilo de vida que nunca terei e certamente nunca nem pensei em atingir. Depois do arubaito eu até tive uma vontade de morar por um tempo no Japão mas depois de começar a trabalhar eu comecei a dar graças a deus por uma semana de trabalho de 40 horas e direitos trabalhistas, coisas que julgo que perderia junto com o (resto) de saúde mental que ainda tenho se me mudasse pro Japão, isso além do trabalho que seria aprender japonês E keigo (japonês formal, consideravelmente mais difícil que o normal) do zero.

Rolê hipster que invejo infinitamente

Putz, a juventude perdida hipster japonesa me atrai tanto e é um negócio que idealizo desde que me dou por gente mas todo o pacote de ter que viver na sociedade japonesa não me parece fazer valer a pena os poucos anos de uma juventude que nem é lá muito diferente da nossa aqui no Brasil.

Vivemos todos sem a menor garantia de ter uma aposentadoria decente, sem dinheiro pra sequer comprar um carro (quanto mais uma casa!), vivendo de pequenas alegrias e sonhos de consumo que nos motivam a acordar toda segunda de manhã, acho que isso tudo não muda independente de você ser um curador de arte no Japão ou um analista de dados no Brasil.

Acho que de uns tempos pra cá, sendo talvez um fruto de eu ter terminado a merda da graduação junto com o fato de eu estar EXTREMAMENTE medicado e fazendo várias atividades fora do trabalho, me fizeram esquecer bem essa idealização que eu tinha da juventude idealizada japonesa. Acho que o Japão é muito daora porque é um país incrível e (relativamente) fácil de se viajar dentro dele, além do cenário musical de se apaixonar e com opções para todos os gostos possíveis, mas tem ponto negativo pra cacete: do machismo/homofobia/conservadorismo que transborda em todas as interações sociais possíveis até a introspectividade que aliena qualquer pessoa minimamente no sistema japonês, é fácil ver porque as taxas de suicídio são tão altas e as de natalidade tão baixas.

Mas dito tudo isso: Eu, talvez, tenho na minha porta aí uma oportunidade de ir por Japão ficar um tempinho (seis meses pra mais). Nada muito certo ou definitivo, mas possível. 

Eu já pesei os prós e contras e sinceramente? 

Vale a pena. 

Dois amigos meus pra quem eu apresentei a possibilidade de me acompanhar nessa empreitada me cortaram na hora, e eles não estavam errados: 27 anos é hora de se preocupar com a carreira pra não se fuder depois, mas 27 anos também é quando começa a doer as costas e, pra mim, é a hora de ser jovem ainda e correr atrás da minha tão sonhada juventude hipster japonesa, mesmo que ela não exista do jeito que a idealizei.

Se não der certo também eu estou suave. Vivi meus três meses de test drive de arubaito fudido viciado em shows e posso dizer com certeza que minha vida tá melhor desde que decidi tomar remédio pra ansiedade, voltar pro karate e fazer parte de um grupo de voluntários.

(...)

Pra falar a verdade eu só queria viver uma desilusão amorosa em Shimokitazawa com uma moça frígida de franja reta (parecida com a Kotone Furukawa, Fumi Nikaido ou Nana Komatsu) e chorar ouvindo Kaneko Ayano enquanto pego o trem da linha Odakyu de volta pra casa, é pedir demais?

Aqui está a playlist temática pra você também se sentir um jovem japonês recém saído da faculdade, morando longe de casa em Tokyo, provavelmente com nome sujo e três desilusões amorosas só na semana passada:


 

Enfim, é isso. 

Eh, não postei mês passado porque resolvi fazer tudo o que deixei de fazer durante a faculdade no mês passado e isso acabou atropelando várias coisas que eu tinha planejado, paciência.

Vlw Flw té mais!

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Shoegaze

Eu tava conversando com meu amigo outro dia sobre shoegaze, já que a namorada dele gosta e ele, por osmose, começou a ouvir um pouco também. Como eu estou afim de escrever sobre música, acho que focar em algo que vai (um pouco) além do Japão pode ser uma boa.

Mas enfim, o que é shoegaze?

Bem, segundo a Wikipedia:

"Shoegaze (originalmente chamado shoegazing e às vezes confundido com "dream pop")[8][9] é um subgênero do indie e rock alternativo caracterizado por sua mistura fluída de vocais obscuros, distorção e efeitos de guitarra, feedback e volume avassalador.[10][11] Surgiu na Irlanda e no Reino Unido no final da década de 1980 entre grupos neopsicodélicos[9] que geralmente permaneciam imóveis durante apresentações ao vivo em um estado de distanciamento e não-confrontamento.[8][12] O nome vem do uso pesado de pedais de efeitos, já que os artistas costumavam olhar para seus pedais durante os shows."

Eu não quero ficar repetindo coisa que dá pra achar bem mais bem escrita na internet, mas Shoegaze é basicamente rock triste pra gente introvertida, mas que foca mais no instrumental (leia-se guitarras EXTREMAMENTE distorcidas) para passar a introspectividade ao invés de contar só com as letras, eh acho que só ouvindo mesmo pra saber como é o estilo mesmo.

Eu pra falar a verdade já fui mais fã de Shoegaze, e também do Dream Pop que é um gênero irmão, mas ainda gosto bastante de algumas músicas do gênero, ainda mais de vertentes mais puxadas pro indie ou até pro twee.

Cara, eu não quero fazer aqui um guia de como você deve explorar o gênero, até porque isso tem aos montes na internet, mas vou mostrar aqui mais ou menos como foi minha jornada descobrindo novas bandas e outros estilos.

Quando você quer começar a ouvir Shoegaze, existe UM álbum que é o mais importante, o mais amado e o que influenciou tudo o que veio depois: Loveless do My Bloody Valentine.

 

Acho que não é necessariamente onde tudo começou, já que o próprio My Bloody Valentine tem um álbum anterior e dá pra traçar as origens do estilo com bandas de dream pop, mas é indiscutível que este é o álbum mais importante do gênero.

Depois desse álbum os dois mais importantes são Souvlaki do Slowdive e Nowhere do Ride.


 

Pronto, agora você já tem o básico pra ter conhecido as vertentes mais importantes do Shoegaze: 

  • A vertente mais pura (ou noise) com o Loveless;
  • A vertente mais Dream Pop com Souvlaki;
  • A vertente mais Rock Alternativo (quase Britpop) com Nowhere.

A partir daqui você pega o que mais gostou e aprofunda mais, eu sempre gostei mais de Slowdive e Ride do que My Bloody Valentine então sempre busquei bandas que fossem mais do lado dream pop/indie e que tivessem uma influência de Shoegaze.

Um chart que ajuda muito você a se localizar é esse aqui (além de facilitar meu trabalho):

 

Tem algumas coisas que discordo aí tipo o álbum do Candy Claws estar muuuuito pro lado do Loveless ao invés do Souvlaki, mas só pelo fato dos álbuns japoneses estarem aí já me deixa bem feliz. O Ceres and Calypso do Candy Claws aliás é um dos meus álbuns favoritos da vida, por favor ouçam essa obra de arte:


Eu pulei uns passos aí, apesar de ter dado uma ouvida nas coisas mais importantes tipo Chapterhouse, Cocteau Twins, Lush e acho que Pale Saints? Mas eu pulei pros álbuns japoneses aí.

Pra falar a verdade eu cheguei no Shoegaze pelas coisas japonesas, eu ouvia Mass of the Fermenting Dregs e Supercar beeem antes de saber o que era o gênero, e comecei a ouvir os álbuns essenciais junto com Kinoko Teikoku.

Mas pro Shoegaze japonês tem outro chart que achei recentemente:


Hmm, vamos ignorar que Asobi Seksu é americano e só a vocalista é japonesa (e que faz muito mais sentido analisar a banda no contexto do cenário americano) mas é um ótimo chart também, além dele fazer o certo em mesclar as vertentes, já que nenhuma divisão é muito definitiva no Shoegaze.

Eu vi vários membros de bandas que aparecem aí compartilhar esse chart no Twitter, e o que mais me chamou a atenção é como maioria falava "obrigado por lembrar da gente, mas nós não somos Shoegaze" e só depois descobri que as bandas fugiam de serem classificadas dentro do Shoegaze/Dream Pop porque as gravadoras faziam tiragens menores de discos e despriorizavam bandas com gêneros muito específicos, assim maioria se chamava de "rock alternativo" mesmo.

Mas enfim, voltando ao chart acima, aí o autor bota o Kinoko Teikoku no lugar do MBV, o Asobi Seksu no lugar do Slowdive e Supercar no lugar do Ride. Acho que pros álbuns que estão nas pontas do triângulo (Eureka, Citrus e 3OC) a comparação até faz sentido, mas as três bandas mudaram radicalmente de som com o passar dos anos, ao ponto da comparação não fazer tanto sentido assim se for pensar nas bandas como um todo. Eureka do Kinoko Teikoku em particular é um dos meus álbuns favoritos mas acho que os paralelos com Loveless são beeem pontuais.

No mais, eu seguiria esse chart dessa forma:

Primeiro: Kinoko Teikoku, começando por Eureka.


 

Depois Supercar, aí só ouviria mesmo Three Out Change. Esse álbum é extremamente longo mas é um prato cheio pra quem curte Ride e Britpop em geral, eu acho que o shoegaze passa um pouco longe aqui mas é um dos meus álbuns favoritos.


 

Aí partiria pra Mass of the Fermenting Dregs, a discografia inteira da banda é absurda, mas recomendaria começar por World is Yours.


 

Daí eu pegaria bandas com uma influência mais clara (e declarada) de Shoegaze tipo uma das minhas bandas favoritas For Tracy Hyde com um dos álbuns mais lindos já feitos: he(r)art.


 

Outra banda com influência mais forte de Shoegaze é Yuragi. Os últimos álbuns foram meio fraquinhos mas os dois primeiros EPs da banda foram fenomenais.


 

Se você chegou nesse ponto o que resta é explorar esse chart aí e recomendações no Youtube/Spotify. Eu no meio tempo que estava explorando Shoegaze acabei me apaixonando por twee-pop, que é basicamente indie pop mas muuuuito bobinho, chegando num ponto que é irônico. E por incrível que pareça tem muita banda que mistura os dois, um bom exemplo é For Tracy Hyde que citei anteriormente mas também Pains of Being Pure at Heart:


 

Enfim, o shoegaze hoje está muito ramificado e tem pra todos os gostos possíveis, desde o blackgaze que mistura com o gênero com Black Metal até esses casos aí no extremo oposto do espectro onde misturam com twee e até pop puro.

O Shoegaze é bem música pra gente estranha e antissocial, acho que é uma forma de escapismo mais pura do que ouvir música triste só pela letra, as guitarras distorcidas e o som quase ensurdecedor fazem você simplesmente não pensar em nada. Eu acabei indo mais pro twee porque é um escapismo mais concreto, é bem uma coisa nostálgica e aquela coisa toda melancólica e arrependimento e etc. MAS isso é assunto pra um próximo post, até porque preciso pesquisar mais sobre.

Enfim, este foi um post quase nada informativo mas eu estou escrevendo porque o assunto surgiu em mais de uma roda de conversa de mais de um grupo de amigos.

E acho que é isso aí, dois posts em dois dias! Mas minhas férias terminam hoje então (talvez) vai demorar pra eu animar de escrever algo novamente.

É isso aí, valeu falou té mais!


P.S. tem alguns álbuns que são dream pop, ou com uma influência muito grande do gênero e zero shoegaze, que recomendo fortemente também:

O Swimming Classroom é uma obra bem diferente de tudo que o Macaroom fez, tanto antes quanto depois, e é uma exemplo maravilhoso de como o Pop chiclete pode se misturar bem com o Dream Pop.

 

 

Outro clássico do Dream Pop japonês é a soundtrack do filme All About Lily Chou-Chou. E cara, que álbum absurdo, acho que é um dos melhores já feitos na história do gênero e foi criado pra ser de uma cantora fictícia num filme (relativamente) low budget japonês. A Salyu, que é o vocal desse álbum, tava começando a carreira dela quando participou desse projeto, e acho que a voz diferente dela junto com a falta de experiência na época combinaram bem com a composição e produção do Takeshi Kobayashi, que já tinha se provado um tremendo músico no mainstream. Mas enfim, esse álbum é do caralho, recomendo para qualquer pessoa do mundo que ouça ele.


quarta-feira, 21 de junho de 2023

férias e ah claro, Kinoko Teikoku

Eu tenho que me forçar a escrever aqui a cada mês senão vou abandonar este blog, então vamos lá.

Das atualizações mais relevantes para a minha vida estão que eu meio que entrei de cabeça no projeto lá que falei no último post, e isso incluiu ajudar num matsuri aqui perto de casa, ensinar crianças a fazer cajuzinho ( um doce que não sou muito fã pra falar a verdade) e fazer estrogonofe às 1h da manhã para ensinar crianças do Japão, e é isso.

Estou de férias desde o último feriado que foi uhhh dia 8 acho? E não estou fazendo nada de muito útil desde então. Prometi que iria pra academia todo dia! Fui só uma vez desde que as férias começaram. Falei que iria levar minha calça para fazer a barra! Nem sei onde levar essa merda por aqui perto. Mas eu arrumei meu quarto, fui buscar meu diploma na Poli e mandei botar lentes novas numa armação antiga que comprei no Japão, além de ter gasto uma quantia quase que pornográfica num tablet que ainda não sei bem pra que vou usar. Ah, fui pra um show de shoegaze nacional também.

Em suma: só estou dormindo, gastando dinheiro e ensinando crianças a cozinhar desde que entrei de férias.

Como eu ESPERO que nenhuma pessoa que tenha o mínimo de interesse romântico em mim leia este blog, posso confidenciar com vocês que tentei arranjar meus dates nessas férias, obviamente com os resultados mais desastrosos que você possa imaginar. E minha pura incredibilidade no fracasso do que parecia sucesso certo gerou um papo de tipo 4h num bar, em plena quarta-feira, com meus amigos do ensino médio sobre e-girls. Pra falar a real eu nem sei porque comecei a falar sobre isso, vamos mudar de assunto.

Essas são as primeiras férias que tiro desde Fevereiro, que usei pra emendar com o Carnaval e viajar pra Fortaleza. Eu amei a cidade e a viagem e tudo mais, mas voltei pro trabalho exausto, essas férias de agora eu tirei pra não fazer nada mesmo e até que fiz umas coisas viu. Acho que até uns anos atrás eu ia ficar super culpado por não ter conseguido fazer o que devia (por mais que isso sempre acontecesse) e eu ia ficar malzão na volta das férias, mas agora eu estou levando como posso o que tenho que levar e é isso aí.

Eu ia citar novamente a bonus track do Eureka do Kinoko Teikoku mas... ah foda-se, vou citar de novo:

"Cada um está carregando seu fardo, 

as suas lágrimas podem secar amanhã ou depois,

 mas finja que esqueceu das noites e dias que não voltarão, e sorria, sorria"

 

É uma tradução porca que fiz uns anos atrás mas essa música é tão superação da crise dos meio dos 20 anos que checar o Google só confirmou minha tese: a Chiaki Sato tinha 23~24 anos quando escreveu e lançou Eureka.

Apesar de eu amar Kinoko Teikoku desde meu ensino médio, acho que só fui entender as letras e o sentimento que as músicas passam quando fiquei mais velho, tipo com 23 anos. Não vou desenvolver muito sobre o assunto porque estou sentindo que posso fazer um post dedicado a isso, mas recomendo Kinoko Teikoku para quem esteja procurando música triste para acompanhar a crise do meio dos 20 anos, ainda mais os álbuns Eureka e Uzu ni Naru.


E acho que é isso pessoal, volto a postar quando tiver com tédio o suficiente ou com algum assunto aleatório que o Twitter não tenha caracteres o suficiente para eu expor.

valeu, falou, té mais!

terça-feira, 9 de maio de 2023

A massa de gyoza é feita só com farinha de trigo e água!

Eu estava escrevendo um post faz umas semanas mas ele ficou tão ruim que acabei nem fazendo questão de publicar (não que o nível deste blog seja lá muito alto) mas enfim, a vida aconteceu e tenho mais material pra posts nesse meio tempo.

Eu fiz trabalho voluntário, meu amigo tinha me chamado pra participar de um projeto faz um tempo já mas eu tinha preguiça e não tava muito afim de acordar cedo no fim de semana, só que desde a semana passada eu estou num estado de espírito, em que o tédio e o antidepressivo que tomo me acometeram no mesmo instante, onde qualquer rolê que me propuserem eu estou aceitando, QUALQUER ROLÊ. 

Pois bem, mandei mensagem pro meu amigo no sábado perguntando se tinha algum rolê em mente e ele me perguntou se eu tava afim de fazer uns gyozas com crianças (na sua maioria) japonesas.

Bora.

O projeto tem como objetivo integrar as culturas japonesa e brasileira através da culinária... japonesa, ensinando crianças como cozinhar e tudo mais, por questões demográficas de divulgação do evento acabou que grande maioria das crianças eram japonesas japonesas do Japão, não japonês tipo eu, japonês do Japão mesmo que só fala japonês. Sinceramente, tem causas mais nobres para se voluntariar por aí mas entre isso e ficar em casa morgando, acho que é preferível fazer isso.

Sábado foi o prep work e domingo foi o trabalho em si, como eu caí meio que de paraquedas no negócio, eu acabei sendo o fotógrafo do evento e ajudei também na cozinha. Eu não falo um puto de japonês quase então não conseguiria ser um monitor muito bom para a criançada.

O evento foi bem bacana, teve um caos lá pelo meio mas deu tudo certo no final. Os guiozas ficaram bons (inclusive os feitos pelas crianças) e ainda testei minhas habilidades de fotógrafo e tirei mais fotos no dia do que nos últimos 5 anos. Aprendi a fazer guioza também, é mais fácil do que parece!

O que esse evento me fez refletir foi como eu devia ter feito trabalho voluntário antes. Na Poli eu só cocei o saco por 7 anos e meio e era a pessoa mais desocupada do mundo naquele lugar, devia ter feito algo de mais útil pra (preparem-se para o clichê) retribuir para a sociedade o fato de eu estar estudando numa faculdade pública.

Enfim, let bygones be bygones, o que importa é que ainda dá pra fazer coisas assim mesmo formado já. O que vou fazer vai depender de como vão estar meus níveis de serotonina.

E acho que é isso? Espero fazer coisas além de trabalhar 8h por dia cinco vezes por semana, se vai ser um trabalho voluntário ou uma eventual pós-graduação que vão suprir meu vazio existencial teremos que esperar para ver, só preciso ser saudável enquanto faço tudo isso.

Hmm, eu queria intercalar entre posts sobre meu dia-a-dia/pensamentos aleatórios e sobre música japonesa mas sou muito preguiçoso pra organizar qualquer coisa, mas no próximo post queria falar sobre música japonesa.

É isso galera, 

vlw flw, té mais!

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Playlist de um dia normal

Acho que já fiz isso antes mas fodasse, você quer me conhecer? Então aqui estão algumas músicas para me conhecer:

Midori - Donzoko

Se eu estiver em qualquer momento de desespero ou angústia essa música começa a tocar na minha cabeça. Acho que Midori foi uma das bandas mais geniais que surgiram no Japão no século XXI e nada representa tão bem o caos que impera debaixo da imagem certinha da sociedade japonesa quanto o som da banda Midori com a Mariko Goto gritando e uma banda de jazz extremamente habilidosa tocando ao fundo. 

Essa música surge na minha cabeça pelo menos uma vez por dia.

O que penso quando essa música está na minha cabeça: "Ah mano, de novo isso..."


Usagi - Yakouchuu



Depois de Midori nada melhor que uma música do Usagi, banda que deu origem a Midori. Essa é outra música pros tempos de desespero mas essa é pra quando eu também estou puto e quase chorando. O verso final da música e o crescendo até atingir aquele ponto é maravilhoso, o Akemi-san to Midori-san é definitivamente uma das joias escondidas da música japonesa contemporânea.

O que penso quando essa música está na minha cabeça: "FODA-SE TUDO PORRAAAAAA-"


Aimyon - Marigold


Japão, Janeiro de 2019. 

Acho que Marigold junto com Lemon e, por mais que eu odeie, USA do Da Pump, são os símbolos da música japonesa mainstream pré-pandemia. Por mais que Yoasobi tenha surgido um pouco antes de 2020, toda a fórmula deles se beneficiou e passou a ser cara do Jpop pós-Covid, assim como toda a pletora de V-tubers e V-singers. Marigold foi a swan song do que o Jpop estaria se tornando num Japão mais pra frentex que estaria hospedando uma olimpíada dali pouco mais de um ano.

E foi o Japão que vi quando fui lá.

Pra mim essa música representa minha viagem pro Japão (o que vocês estão cansados de saber) mas também é uma canção de esperança infinita para o futuro. E isso acabou fazendo com que eu sempre associe Marigold com o futuro que era pra ser, um futuro que era prometido, que estava certo, mas que não rolou no final.

O que penso quando essa música está na minha cabeça: "Sdds do Japão, e que pena que rolou a pandemia."


Judy and Mary - Sobakasu


Sobakasu foi a música que me trouxe pro rabbit hole que é amar música japonesa, então se estou aqui agora, por bem ou por mal, é culpa de Sobakasu. Judy and Mary (ou JAM) foi uma banda absurdamente talentosa e bem sucedida dos anos 90 e Sobakasu foi o que mandou eles pro sucesso, sendo a abertura do imenso sucesso Rurouni Kenshin. Eu sinceramente acho que JAM tem música melhores nos álbuns subsequentes mas Sobakasu tem um valor inestimável pra mim como a faísca que começou tudo e vou dizer algo que sempre digo: se Judy and Mary voltar, eu vou ver o show de reunião deles no Japão nem que eu gaste todas as minhas economias.

A letra da música é a coisa mais clichê possível sobre deixar passar as coisas que passaram, mas sempre me atinge em cheio e fico segurando as lágrimas quando ouço com atenção.

O que penso quando essa música está na minha cabeça: "O que passou passou."


Citrus - Wispy, No Mercy



Essa é minha música favorita de todos os tempos. Citrus foi uma banda tão desconhecida e under the radar que nem se deram o trabalho de botar as coisas deles no Spotify, mas os fãs são todos absurdamente fanáticos pelo som da banda. Eu não faço ideia nem o que caralhos as letras dizem mas essa música me traz uma felicidade e uma paz de espírito tão grandes que é tão difícil de descrever quanto a letra da música.

A única coisa que entendo na música é um "I love you, yes it's true" e é o que importa no final.

O que penso quando essa música está na minha cabeça: "NUNCA FUI TRISTE"


Odotte Bakari no Kuni - ghost


Acho que essa música vai na mesma vibe de Marigold, mas é bem mais desconhecida. Pelo clipe mesmo, que foi filmado no ano novo de 2019, dá pra sentir o otimismo que pairava no ar no Japão pré-Covid. É mais uma das músicas que eu falo que descrevem uma esperança infinita para os novos tempos.

E por mais que o clipe e a música tenham sido lançados quando eu tava no Japão, eu só fui descobrir depois, então essa música não me lembra tanto o arubaito quanto Marigold e por isso me traz mais a paz de espírito e um otimismo pro futuro.

O que penso quando essa música está na minha cabeça: "Vai ficar tudo bem."


Ichiko Aoba - Terifuriame


É minha música pra quando quero estar em paz, acho que pra esse fim a própria Ichiko Aoba tem algumas melhores já que Terifuriame tem um quê de tensão e desconhecido, mas a pura beleza da música é indescritível.

O que penso quando essa música está na minha cabeça: "" (nada)


Kinoko Teikoku - The Sea


É a música pra quando eu quero CHORAR PARA CARALHO, na moral a letra é a coisa mais emo deprimente pra caralho possível, numa tradução livre: 

"Eu queria desaparecer

Mas se não posso morrer ainda, quero afundar

E no fundo do oceano quero me tornar areia, olhando para cima

Quem dera se a água subisse até o teto

Chove chove chove e torne tudo azul"

Porra, que bad vibes do caralho! Amo essa música!

O que penso quando essa música está na minha cabeça: "Maluco, quero morrer."


Shiina Ringo - Shuukyou


É a primeira música do melhor álbum já criado pela humanidade. Eu associo o Kalk Samen Kuri No Hana inteiro à morte mas essa música em especial eu associo à passagem pro outro lado, um negócio meio dantesco de chegar nos portões do pós-vida. O Souretsu, que é a última música do álbum, eu associo mais a uma reencarnação, não que eu acredite nisso em particular mas eu vejo o álbum muito ligado ao budismo e ao ciclo de reencarnação.

O que penso quando essa música está na minha cabeça: "Hmm, isso é o mais próximo que vou experimentar de morte antes de morrer, espero."


Kinoko Teikoku - Hidden Track do álbum eureka


Eu não ia repetir artista mas essa música é tão grandiosa, tão simbólica e tão foda que não tinha como ficar de fora. Eu conhecia o Kinoko Teikoku faz tempo e sempre achei que o silêncio depois da última faixa do eureka era problema com minha versão do álbum, foi só anos depois quando fui editar o arquivo no audacity pra cortar ele que vi que tinha uma faixa escondida no final dos 10 minutos da faixa, me apaixonei pela música de primeira.

Já citei essa música inúmeras vezes neste blog mas acho que ela é a melhor música de superação já feita. Acho que essa é a hidden track da vida na real. É a música que toca nos closing credits depois de uma vida de altos e baixos, ou simplesmente no final do seu dia voltando do metrô.

O que penso quando essa música está na minha cabeça: "Todo mundo se fode nessa vida filho, engole o choro e bola pra frente."



Enfim, acho que é isso. Eu tava com um monte de ideia pra post mas fui na ideia mais preguiçosa possível.

Acho que ficar procurando por música japonesa e ler sobre o assunto é meu hobby favorito então pretendo algum dia mergulhar mais de cabeça nisso e ler mais a fundo sobre ou escrever de um jeito decente, mas por enquanto fiquemos aqui.

E é isso, valeu falou té mais!

segunda-feira, 20 de março de 2023

sdds de bullshitar com meus amigos na praça de alimentação do Shopping Paulista às 15h de uma terça-feira em 2012

Eu estou lendo um mangá chamado "Food Court de, Mata Ashita." que é basicamente sobre duas amigas que se separam quando vão pra escolas diferentes por ensino médio e por isso se encontram todo dia pra conversar sobre os mais variados assuntos na praça de alimentação de um shopping.

O mangá me transportou pra 2011, quando o Yoiti recém-entrado no ensino médio achava que tinha virado adulto só porque ia e voltava sozinho da escola e saía uma vez por mês com os amigos pra comer Burger King no Shopping Paulista. Pra ser bem sincero meus encontros com amigos do ensino médio pouco mudou nesses mais de 10 anos, a diferença mesmo é que agora a gente que tem que pagar pelas nossas despesas e o papo aleatório de sempre, que é o charme do mangá que citei no começo do post, agora tem os assuntos mais chatos do mundo como trabalho, imposto de renda, pós-graduação e sei lá, daqui a pouco casamento e filhos (o que já é assunto em alguns dos meus círculos sociais hmmmm).

Eu não fazia nada demais no meu ensino médio mas tenho saudade da falta de preocupação que eu tinha até começar a pensar em vestibular. Acho que isso é mais um motivo por eu sentir saudade das interações que eu tive com o pessoal no arubaito, por mais que fosse tudo muito temporário e a gente soubesse disso lá, tinha uma falta de preocupação (na maioria do pessoal) que eu raramente vi na Poli por exemplo. O imediatismo, e viver sem planejar muito além do dia do pagamento da fábrica foi uma terapia pra quem vivia de rec em rec e de DP em DP na faculdade, e acho que não era só eu pensando assim lá.

Mas enfim, me lembrei agora também do fliperama que tinha na praça da Liberdade, que era mais um dos pontos de encontro que eu tinha com meus amigos do ensino médio, e olha que eram pouquíssimos: Shopping Paulista, Kantinho do Pão de Queijo (lanchonete no lado da estação Vergueiro), McDonalds's da São Joaquim (sdds) e já em 2013 o Sukiya da São Joaquim. Hoje eu conheço, relativamente, bem mais lugares e tenho também um monte de círculo social que acumulei aí nesses últimos 10 anos.

Com meus 16 anos eu fazia karate e inglês mas eu só saía mesmo com o pessoal do meu colégio, a famosa Turma da Trave, e 10 anos depois com faculdade, trabalho e arubaito eu conheci muita gente bacana e amigos pra vida, tal qual os que conheci no meu colégio, mas toda a conjuntura da época, com a gente sendo meio que os nerdão (ou nerdola como dizem hoje) da turma e a "liberdade" recém conquistada de poder sair de casa aos fins de semana podendo gastar o dinheiro dos pais dava um gosto especial pra aquela época, e acho que isso explica também porque a Turma da Trave dura até hoje.

Hoje as conversas com meus amigos do ensino médio são periódicas e esparsas, converso muito mais com o pessoal com quem convivo no trabalho, mas é só conseguir marcar um rolê qualquer que as conversas de sempre voltam à tona.

E acho que é isso. Leiam o mangá que indiquei, chamem seus amigos do ensino médio pra comer no McDonald's e sejam felizes.

vlw flw té mais!

sábado, 11 de março de 2023

o cafezinho do hospital tava super bom

Eu fiz um post (que estou com preguiça de procurar), acho que em 2013 se não me engano, depois de uma aula de literatura do cursinho onde um professor analisou O Laços de Família da Clarice Lispector e comentou como nossa primeira memória geralmente é atrelada à nossa mãe.

E no meu caso é verdade: minha família nunca contratou babá e por isso que quando meu pai saía pra trabalhar e minha irmã estava na escola e minha mãe precisava sair pra resolver algum problema, seja conta pra pagar no banco ou alguma pendência em algum prédio público, eu precisava ir junto. Minha primeira memória é uma dessas idas a algum prédio público onde fomos de ônibus, lembro que descemos numa rua íngreme e que minha mãe me comprou aquelas balinhas redondas e coloridinhas em embalagens que imitam Tic-Tacs numa barraca na rua. Minha memória desse dia obviamente não é das mas claras, mas é uma coisa que me marcou de uma forma que toda vez que passo por uma rua íngreme com barraquinha vendendo balas e onde tem uma repartição pública, eu me pergunto se foi lá o lugar da minha memória formativa.

Eu nunca morei longe dos meus pais. O máximo foram uns anos que morei a umas estações de distância mas eu via eles todos os dias no jantar, além disso foram só os três meses no Japão.

Outro dia levei minha mãe pra fazer uns exames de rotina num hospital a umas estações de distância de casa. Não é como se fossem raras as ocasiões em que saio com minha mãe, é uma ocorrência semanal ir pro supermercado e pra feira orgânica aqui do lado com ela, mas naquele sábado de manhã de clima ameno, usando o voucher de pão de queijo do exame de sangue e pagando mais um pão de batata pra mim, me sentei com minha mãe pra tomar um café debaixo de uma árvore na lanchonete do hospital.

Notei que minha mãe envelheceu. A exata reação que a protagonista d'O Laços de Família tem ao bater a cabeça com a mãe no táxi ao final do conto.

Eu tenho muita vergonha de escrever um post sobre uma pessoa próxima de mim, então acho que uma coisa que fala muito sobre minha mãe é a imagem que ela tem de mim, em suma ela acha que sou um alcoólatra.

Quem me conhece sabe que não bebo quase nada. O dia que mais bebi na vida foi no dia que descobri a Serramalte numa ida à Bella Augusta, e mesmo assim não foram nem três garrafas de 600ml. Depois dos "lockdowns" eu parei quase que totalmente de beber, mas isso não impede da minha mãe achar que toda vez que volto depois das 22h pra casa eu estava certamente bebendo.

E ela tem outras concepções totalmente de outro mundo sobre mim que nem cabe esclarecer neste post, porque valorizo ainda o pouco de dignidade que tenho fora da minha casa.

Mas uma coisa que sempre lembro foi de um aniversário dela que perguntamos onde ela queria comemorar e ela escolheu o Shopping Morumbi porque gostava de me ver jogando os jogos de música no Hot Zone de lá, nota: isso quando eu já estava na Poli. Acho que isso define bem minha mãe.

E é isso pessoal, o post ficou meio desconexo porque tive a ideia do começo dele quando fui tomar café com minha mãe e não soube muito bem como terminar o post, tá aí o resultado. Eu queria escrever sobre minha mãe mas o aniversário dela já passou faz um tempinho e o dia das mães tá meio longe ainda (e não vou lembrar de guardar este post até lá).

Recebi a sugestão aí de post de recomendação de música japonesa e acho que vou tentar fazer algo do gênero pro próximo mês.

vlw flw té mais!

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Hot takes sobre música japonesa que ninguém me perguntou

Todo mundo tem teorias esdrúxulas (famosas HOT TAKES) sobre as mais variadas coisas, as minhas são sobre música japonesa, obviamente.

Uma dessas teorias que não foi pensada por mim mas me influenciou a gastar tempo nisso foi de um livro que amo de paixão que é o Quit Your Band! Musical Notes from the Japanese Underground, que é o livro que me deu o pontapé inicial em adentrar no underground japonês. Nesse livro o autor fala que, caso precise apontar um momento pontual, o Kayokyoku virou Jpop depois que o Precious Heart da Seiko Matsuda não conseguiu ser o vigésimo-quinto single seguido dela a ser topo de vendas no Oricon, perdendo pro Gravity of Love do Tetsuya Komuro, o então representante máximo do novíssimo Jpop.  

E essa é uma teoria interessantíssima (pelo menos pra mim) porque pra todo mundo que acompanha Jpop só dos anos 2000 pra cá, Kayokyoku geralmente cai no mesmo cesto que Enka, a diferença mesmo tá no jeito de cantar mais ocidentalizado, já que o uso de orquestras era comum aos dois gêneros, o Kayo mais techno veio quase junto com o Jpop e só foi ser conhecido pro ocidente com outro nome décadas depois: City Pop.

Mas agora indo pras minhas teorias esdrúxulas:

1. O declínio do Japão se acelerou com a morte da Izumi Sakai

Exagero? Eu sinceramente acho que não. Makenaide do Zard é o Tente Outra Vez nipônico, longe de mim querer comparar Zard com Raul Seixas, mas 2007 viu o começo de uma certa transição no mercado musical japonês onde o AKB48 surgia e divas pop se afastavam dos holofotes (no caso a Hikaru Utada depois de lançar o Heart Station em 2008) e vocês sabem minha opinião quanto a grupos 48 né, o maior mal que já surgiu no Japão nos últimos 20 anos.

Mas voltando à morte da Izumi Sakai: o Zard era daquela leva de bandas centradas numa vocalista que surgiram de monte no início dos anos 90: Brilliant Green, Judy and Mary e My Little Lover me vêm à cabeça agora e em 2007 cada uma delas estava de um jeito: Brilliant Green terminou e voltou e acabou virando um projeto da Tomoko Kawase, Judy and Mary terminou em 2001 e My Little Lover acabou perdendo o membro mais importante em 2006: o compositor Takeshi Kobayashi. Enfim, o que isso tudo quer dizer? Nada, só estou falando como tava o cenário na época.

2. O fim do Kinoko Teikoku encerrou o período dourado dos anos 2010 no Underground japonês

O Kinoko Teikoku terminou em 2019 (como vocês podem ler em inúmeros posts meus na época) e isso marcou o fim de um período incrível na música underground japonesa.

No livro que citei no começo deste post, três bandas são elencadas como as principais do cenário underground japonês no final dos anos 90: Number Girl, Supercar e Quruli. Eu concordo bastante com essas escolhas e até botaria outras bandas como o Eastern Youth, mas as três realmente foram as forças motrizes que influenciam o underground japonês até hoje. Number Girl influenciou qualquer banda mais punk/hardcore, Supercar foi mais shoegaze/eletrônico e Quruli era o mais mainstream mas também tinha pegada eletrônica, e por incrível que pareça 9 entre 10 bandas que estão tocando nesta noite num porão de Tokyo vão citar pelo menos uma dessas bandas como influência.

Mas qual seria o trio de bandas mais influentes dos anos 2010? Eu elencaria Kinoko Teikoku, Andymori e Chatmonchy. Kinoko Teikoku com qualquer shoegaze/indie relax, Andymori com rock mais straightforward e Chatmonchy influenciou todo e qualquer power trio feminino que surgiu nos últimos 10 anos.

E em 2019 finalmente a última dessas bandas terminaram.

Sinceramente Kinoko Teikoku estar entre Chatmonchy e Andymori é quase um insulto, porque as duas são absurdamente influentes até hoje, e Kinoko Teikoku tem uma fama (relativa) bem maior fora do Japão que dentro. Mas quero me enganar e PRECISO botar Kinoko Teikoku no panteão de bandas mais influentes da história.

3. Yoasobi prometeu muito e entregou pouco

Acho que o surgimento do Yoasobi e do The First Take são indissociáveis, não dá pra contar a história de um sem o outro, e ambos se beneficiaram absurdamente da pandemia.

Tanto a proposta do Yoasobi como quase sendo uma banda exclusivamente virtual (do ponto de vista de não se apresentar ao vivo) quanto do The First Take de ser meio que uma live mas gravada num estúdio eram interessantes o suficiente para fazer sucesso, a vinda da pandemia poucos meses depois do começo desses dois projetos só potencializou ainda mais o crescimento da popularidade dos dois, num cenário musical que é tradicionalmente focado em shows ao vivo e vendas de CDs físicos.

O The First Take ainda vai bem, obrigado. O canal acabou caindo na graça do público ocidental que queria um gostinho de música japonesa diferente do habitual (leia-se aberturas de anime) e com a apresentação da maravilhosa Hoshimachi Suisei (uma vtuber, e minha kamioshi diga-se de passagem) e com backing da toda poderosa Sony Music, não vejo como o canal dar ruim.

Yoasobi por sua vez também está voando. Se começaram fazendo músicas baseadas em contos publicados num site obscuro, agora estão fazendo música pra anime atrás de música pra anime. Mas putz, eu pelo menos esperava bem mais.

O boom do Yoasobi veio de um movimento gigantesco das net-labels do Japão. Zutomayo, Yorushika, yama e todos aqueles clipes de música extremamente bem animados? Net-labels. E Yoasobi se destacou por mostrarem a cara num cenário dominado por vtubers e vsingers.

Mas enfim, a grande hot take aqui é que o sucesso do Yoasobi era pra ter significado uma mudança de paradigma no que estaria no topo da Oricon, mas não foi isso que rolou e me parece improvável de mudar tão cedo. O Kpop mudou mais os charts da Oricon do que Yoasobi e as net-labels.

4. Outras hot takes que tenho preguiça de explicar

4.1. O Kpop matou os grupos 48 (pelo menos os que seguiam a fórmula original);

4.2. Já foi esclarecido o porquê de muitas bandas (Supercar, For Tracy Hyde, Kinoko Teikoku) de shoegaze do Japão negarem esse rótulo, mas muitas das bandas que negaram realmente não são 100% shoegaze e as que são não fazem sucesso o suficiente pra conseguirem sequer negar;

4.3. Shimokitazawa perdeu a importância nos últimos anos como o trampolim das bandas underground pra serem menos underground depois que as novas bandas aprenderam a se promover na internet;

Enfim, acho que é isso.

Eu notei que só escrevi 12 posts ano passado e com o ritmo que estou escrevendo este ano não vai ser muito diferente hmmmmm... Pior que material pra post não faltou ano passado né, puta que pariu eu tava zicadaço do meio pro fim de 2022.

Also, já é o terceiro post seguido que é sobre música japonesa, vou tentar escrever algo mais fácil de digerir na próxima.

vlw flw té mais!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

27 anos

Hoje fiz 27 anos.

Eu tenho um exercício mental que faço desde que fiz 21 anos: em todo meu aniversário eu vejo o que a Shiina Ringo estava fazendo com minha idade.

Com 21 anos no caso ela fez o primeiro álbum: Muzai Moratorium.

Com 25 anos ela fez a maior obra de arte já concebida pela raça humana: Kalk Zamen Kuri no Hana, mas na época eu errei as contas e tinha achado que ela tinha 23 anos.

E com 27 ela, já no Tokyo Jihen, fez o Adult.


Adult, na minha opinião, é o melhor álbum do Tokyo Jihen. Por mais que a formação original com o Hirama e o HZM fosse DO CARALHO, o Ukigumo e o Izawa não fazem feio também, apesar dos haters da Phase 2 dizerem o contrário. A maior prova que a Phase 2 era boa mesmo foi o álbum de 2010: Sports, porque o que veio depois do Adult (Variety) é uma merda mesmo.

Mas enfim, Adult e os shows da turnê do álbum (Just Can't Help It) são incríveis de bom. Foi nessa época que os shows começaram a ficar mais teatrais com mudança de roupa e tudo mais, e foi quando o Tokyo Jihen começou a explorar mais sons fora do Rock straightforward que era o característico do primeiro álbum deles: Kyouiku.

Então como estava a Shiina Ringo aos seus 27 anos? No auge.

Não me leve a mal, mas na minha humilde opinião de 1999 (Muzai Moratorium) até 2010 (Sports) a Shiina Ringo era IMBROCH- imparável. Qual foi a pior coisa que ela soltou ali no meio? O Variety, e convenhamos que foi porque a ideia do álbum era justamente não ser mais uma coisa feita por ela e o Kameda. Até o Heisei Fuuzoku e o Sanmon Gossip são obras incríveis dada a época e as tendências.

Ok, eu forcei aí no meio em dizer que a Shiina Ringo em 2010 estava ainda no auge, mas em 2006? Auge sem sombra de dúvida.

Esse ano eu fiz diferente e peguei outras duas cantoras bem emblemáticas (pra mim) pra também entrar nesse paralelo:

A Mariko Goto, vocalista do Midori, com 27 anos em 2009 tinha acabado de lançar o icônico Aratamemashite, Hajimemashite, Midori desu.:


A Kayoko Yoshizawa com 27 anos em 2017 lançou o melhor e mais bem produzido álbum de Jpop da segunda metade dos anos 2010: o Yaneura Juu:


Acho que são casos bem distintos, o Aratamemashite é claramente um esforço massivo do grupo que era a banda Midori. Não tirando qualquer mérito da Mariko Goto, que ainda se mantém como uma das pessoas mais influentes do underground japonês, mas a banda era extremamente talentosa também.

A Kayoko em 2017 vinha de uma série de EPs e dois álbuns de Jpop inofensivo e surge com uma caralhada de músicos experientes e extremamente talentosos tipo o Hama Okamoto e solta o melhor álbum mainstream já lançado nos últimos anos no Japão.

Os álbuns da Kayoko desde o Yaneura Juu aliás são sempre baseados numa colaboração com um músico talentoso em algumas faixas-chave: esse álbum de 2017 tem o Hama Okamoto na primeira faixa, o próximo álbum já tem o Izawa (do Tokyo Jihen) numa faixa e o último álbum lançado em 2021 tem uma participação maravilhosa do GENIAL Ohzora Kimishima em duas faixas.

Mas enfim enfim enfim, se me deixar eu vou ficar falando de música japonesa até amanhã. 

Veremos o que farei com 27 anos não é mesmo?

Spoiler: não vai ser um Adult ou um Aratamemashite ou um Yaneura Juu, infelizmente.

vlw flw té mais!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Minha banda favorita acabou DE NOVO

Caralho, For Tracy Hyde terminou.

Procura For Tracy Hyde neste blog que você vai achar uma caralhada de post sobre a banda, desde a época que descobri eles no meio de 2018 ouvindo album rip no Youtube em algum pc da sala cad da Naval até quando fui pro Japão e FALEI COM OS MEMBROS E CONSEGUI AUTÓGRAFOS DA BANDA INTEIRA e os álbuns que eles lançaram desde então.

For Tracy Hyde é minha banda favorita desde que voltei do Japão mais ou menos. Levando em conta que a Kaneko Ayano não é uma banda. É meio incerto o que considero minha banda FAVORITA em determinado momento da minha vida, mas eu estava pensando e ficou mais ou menos assim:

  • ~2009: Oasis
  • 2010 ~ 2012: Judy and Mary e Tokyo Jihen
  • 2013 ~ 2016: Kinoko Teikoku
  • 2017 ~ 2018: ??? Provavelmente??? Citrus ou BOaT
  • 2019 ~ hoje: For Tracy Hyde

 Dá pra botar Mass of the Fermenting Dregs aí no meio também, que conheci lá pelos meados de 2012/2013.

Mas olha só, só dessas bandas aí nesse período,  eu vi CINCO DELAS TERMINAREM:

  • Oasis em 2009, três meses depois de eu ter ido no show deles
  • Tokyo Jihen e MotFD em 2012, no mesmo ano que descobri
  • Kinoko Teikoku em 2019, quem lê esse blog deve estar careca de saber isso
  • For Tracy Hyde agora em 2023

E sinceramente? Dessa vez eu já estava devidamente preparado.

Quando você adentra no cenário musical underground, mesmo que não japonês, já é dado que a grande maioria das bandas são compostas de gente que possuem empregos normais além da música ou são estudantes bancados pelos pais, nada ali dura pra sempre.

Eu fico muito feliz quando bandas que gosto saem do underground pra, finalmente, conseguirem se sustentar fazendo música, mas também fica o receio de como vai mudar o tipo de música que vão fazer agora que dependem do sucesso pra botar comida na mesa.

Um caso que ilustra isso foi o Kinoko Teikoku. Eu acompanhei a banda desde 2013 e peguei bem a passagem deles pro mainstream e o fim da banda, e eu sinceramente fiquei mais triste com a mudança de som da banda do que com o fim da banda, mas acho que já escrevi o suficiente sobre isso nos últimos anos.

Kinoko Teikoku era um caso particular porque muito da banda tava na Chiaki Sato: ela era carismática, escrevia as letras e tinha um background como tarento/gravure idol/atriz antes de entrar na faculdade e conhecer o resto da banda.

O For Tracy Hyde tinha o seu devido holofote na eureka (a vocalista) mas é evidente pra qualquer pessoa que conhece a banda que quem faz a maioria do trabalho, e é a espinha dorsal da banda, é o Natsubot, guitarrista e compositor do For Tracy Hyde. A banda inclusive passou por várias formações mas ele é o único que sobrou da formação original (ele foi inclusive o vocalista original). a Lovely Summer Chan (cantora até que famosa na área entre o underground e o mainstream) chegou a ser vocalista da banda por um curto período de tempo antes de deslanchar como cantora solo.

Mas enfim, o Kinoko Teikoku acabou porque o baixista precisava herdar o templo da família (???) e a banda, como era formada por amigos de faculdade, não via muito sentido em continuar sem ele. O For Tracy Hyde acabou porque a banda viu que não tinha muito pra onde ir depois de tudo que fizeram e, seja por briga ou por acordo, decidiram acabar na alta.

No final as duas bandas me fizeram muito feliz. Kinoko Teikoku me acompanhou nos meus piores dias desde o fim do ensino médio e For Tracy Hyde foi a trilha sonora das minhas melhores viagens de ônibus no Japão, além de ser a única banda que posso falar que consegui conversar em terras nipônicas.

A minha banda favorita de todos os tempos segue sendo Judy and Mary mas acho sempre bom ter uma banda ativa (de preferência underground) como aquela que você acompanha de perto e fica tietando no Twitter.

Será que esse é um sinal pra me contentar com as bandas que já sigo e desistir de procurar coisa nova? Espero que não. O dia em que fui ver o show do For Tracy Hyde em Yoyogi é pra mim ainda uma das memórias que tenho mais carinho na vida, quiçá o melhor dia da minha vida. E apesar disso ser o conjunto de tudo que passei naquele dia: minha primeira vez no centro de Tokyo, sozinho, totalmente perdido e maravilhado com absolutamente tudo, pra no final disso tudo ainda conhecer e conversar com uma banda que eu curtia? Eu não poderia conceber um dia mais bacana que aquele.

Quero dizer, o show do FTH nem foi o que mais gostei dos que fui no Japão, eu amei bem mais o do MotFD, mas no segundo show eu já tava com meu quadradinho reservado no Shimokita Hostel e já tinha conhecido boa parte do bairro, no primeiro show eu estava absolutamente perdido sem saber como caralhos eu pegava um trem (e nem me atrevi a pegar naquele dia) e me guiando totalmente pelo Google Maps offline que eu precisava sempre parar nas konbinis pra roubar wifi pra procurar destinos novos.

Enfim, esses dias eu tava fazendo guioza aqui em casa e lembrei de uma lembrança aleatória da minha viagem pro Japão: o supermercado perto de casa fazia umas promoções malucas de vez em quando e a bandeja de guioza com QUARENTA (40) UNIDADES ficava por tipo 150 JPY, que não dava 5 reais convertendo. Eu rachava o valor com um amigo e fritava tudo na frigideira que a gente tinha no apato e comíamos com arroz, acho que era a refeição mais custo-benefício que a gente conseguia fazer no Japão, e até hoje eu não faço ideia do que tinha no recheio daquele guioza.

Outra memória aleatória que não consegui escrever coisa o suficiente pra virar post: Eu sinto um conforto absurdo ao ouvir a voz da Yuki, ex-vocalista do Judy and Mary. Eu lembro de uma vez que estava em Shibuya subindo uma escada rolante em um daqueles prédios que fica no cruzamento famoso, e eu tava ainda EMBASBACADO e NERVOSAÇO com Shibuya em geral (assim como escrevi num post já) mas ouvir uma música da Yuki, por mais que não conhecesse e não fosse do Judy and Mary, me acalmou um pouco e me trouxe um pouco de nostalgia e segurança. 

Enfim, fugi total do tema mas é isso.

Eu desejo tudo de bom pro pessoal do For Tracy Hyde, sempre será a única banda com que falei na minha viagem pro Japão em 2018/2019 e sempre será o meu primeiro show underground que fui na vida. Eu ainda lembro de chegar tipo 2 horas antes do show abrir e ver a eureka sair pra ir na konbini do lado da casa de shows e pensar comigo mesmo "caraca, ela existe mesmo!".

E é isso, como dizia já o Oasis: 

"But please don't put your life in the handsOf a rock and roll bandWho'll throw it all away"

Obrigado pro tudo For Tracy Hyde.

vlw flw té mais!