quarta-feira, 22 de julho de 2020

Brave Heart

Eu esqueci de botar Digimon no post que falei sobre animes que mudaram minha vida.

Eeehhhh, por onde começo? Eu tava vendo um vídeo com as letras traduzidas do Brave Heart e comecei a chorar pra caralho. Meu deus, quando foi que esqueci das palavras motivadoras de Ayumi Miyazaki?

Pra ser bem sincero a tradução brasileira de Digimon (a primeira temporada) fez a mesma cagada que a tradução americana: botar uma música totalmente merda de abertura ao invés da ÉPICA Butter-fly, ÉPICA! Mas pelo menos eles deixaram Brave Heart pras digi-evoluções.

Eu assisti Digimon quando tinha uns 5 anos, bem antes de eu sequer saber distinguir anime de desenho animado ocidental, e foi parte da minha infância junto com Pokémon, Autopista, Power Rangers e todos os outros programas randômicos que passavam na Cartoon Network ou na Fox Kids um pouco antes dela virar Jetix.

E puxa, acho que eu era muito novo pra entender mas toda a mensagem que o anime do Digimon passa é legal demais, eu sei que é a coisa mais clichê de acreditar nos seus sonhos, cultivar amizades e tudo mais mas gerar empatia nos pimpolhos nunca é demais. O foda é que criança quase nunca vai sacar a mensagem por trás de algo que ela vê quando tem menos de 10 anos, por isso Bob Esponja faz mais sucesso que Digimon, por isso que Pokémon faz mais sucesso que Digimon (contando só o anime), por mais que eu ame Pokémon de coração, puta merda, o anime de Digimon é muito melhor.

Eu chorei vendo a letra de Brave Heart porque lembrei de todos os sonhos que tinha quando criança, bombeiro, astronauta, jogador de futebol, pra ser sincero eu nunca fui dessas crianças de projetar meu futuro numa profissão extravagante e acho sim que o Yoiti criança ficaria feliz de saber que seu eu-futuro estaria fazendo engenharia naval (afinal, é um dos cursos que mais parecem ser pica só pelo nome) mas não deixo de pensar como eu decepcionei minhas pretensões de infância.

Até o ensino médio eu tinha um orgulho que foi esmigalhado tanto pelos vestibulares onde não passei quanto pela faculdade que viria depois, até entrar na faculdade eu jurava pelos deuses que faria qualquer coisa contanto que não fosse medíocre, e cara, needless to say que quebrei a cara de todas as maneiras possíveis na Poli e quando menos esperava meu orgulho já estava em pó.

Eu não quero fazer desse post um choro das minhas pitangas então não vou ficar aqui me arrastando e sendo pessimista pra caralho, afinal, acabei de ouvir Brave Heart. Se qualquer coisa eu deveria estar envergonhado de não estar fazendo nada e ver de começar a agir e deixar de ser um bunda mole do caralho.

Já dizia Ayumi Miyazaki no Brave Heart (numa tradução questionável):
"Agarre! Seus sonhos perdidos.
Proteja! Seus amados amigos.
Você pode ficar mais forte.
Poderes desconhecidos saem do seu coração quando o fogo se acende."

E hmmm, uma coisa que me orgulho bastante é de ter mantido as amizades que criei na minha escola, acho que é uma história que ouço com bastante frequência de que o pessoal acaba se distanciando dos amigos do ensino médio já que cada um vai pra um canto fazer faculdade mas no meu caso, mesmo com a galera tudo indo pra fora de São Paulo, acho que não nos distanciamos a ponto de não podermos chamar o que temos de amizade, a Turma da Trave se mantém forte. Isso sem querer diminuir as amizades que fiz depois obviamente, tanto na Poli quanto no arubaito, os amigos que fiz no caminho são mais um ponto que não decepcionaria o Yoiti criança de 20 anos atrás.

Enfim, chorei, escrevi e me motivei. Agora vou sempre questionar se minhas ações seriam vistas a bons olhos pelo Yoiti pimpolho, se for pra me foder que seja depois de eu realmente tentar.

valeu, falou té mais!

domingo, 19 de julho de 2020

CHAMA OS GHOSTBUSTERS, PORRA!

Vocês acreditam em espíritos? Eu não acredito em espírito, fantasma, assombração e essas coisas, mas minha estadia no Japão me testou.

Por algum motivo no Japão é dado que existem espíritos. "Ah, alguém morreu no apê onde vou morar? Vou chamar o sacerdote do templo mais próximo pra fazer uma limpeza." -uma frase normal no Japão.

No Brasil eu passo fácil por dentro de um cemitério à meia noite pra cortar caminho pra um lugar, o meu maior medo é que o cemitério na real seja ponto de encontro de gangue ou algo assim mas eu não teria muita preocupação com quem tá enterrado lá.

No Japão, como eu não precisava me preocupar com os vivos, eu comecei a criar uma paranoia com  o templo/cemitério que ficava no lado do nosso apê em Yamanashi, o que não ajuda é que nas cidades do interior do Japão a iluminação pública é totalmente cagada: os postes ficam a uns 20m de distância entre si e a luz do poste só ilumina uma área ao redor dele, o resto fica num breu do caralho. Isso apresentava dois problemas práticos: o primeiro é que as poucas "calçadas" que tinham eram placas de concreto com furos sobre córregos, então a chance de tropeçar era imensa. O segundo é que se você não conhecesse por onde andava, as chances eram enormes de você se perder por não ter visto a entrada pra uma ruela. Mas o problema maior era o cagaço de ver algum fantasma.

O folclore japonês é cheio de demônios, espíritos e o caralho todo, e por mais que eu tenha evitado com todas as minhas forças a começar a acreditar nessas coisas, recusei veementemente de ir na floresta do suicídio que era relativamente perto de onde a gente tava por exemplo, quando você tá num país que é natural SABER (não acreditar) que espírito existe, você acaba acreditando um pouco também.

Não sei se ajudou mas eu fui pra uns seis ou sete templos lá em Tokyo, gastei uma boa grana em amuletos e tirando a sorte (quem assiste anime deve saber do que estou falando), o fato é que eu não sou budista nem xintoísta mas as visitas aos templos eram uma boa pausa pro caos que era a cidade e eu me sentia genuinamente bem quando visitava um, sou da opinião que as igrejas costumam ter um ar bem mais intimidador (apesar de eu conhecer mesmo só a do meu colégio).

Mas é, até os brasileiros que trampavam no Japão falaram pra gente com a maior naturalidade possível que assombração existia mesmo, ainda tenho minhas dúvidas se eles falavam isso pra assustar a gente só ou se acreditavam realmente naquilo, mas o fato é que eu nunca acordei de madrugada pra ir ao banheiro enquanto eu tava no Japão.

No final eu não adquiri nenhum medo por espíritos, fantasmas ou afins porque isso meio que conflita com minha ideia de pós-morte (que eu não sei o que é, mas não envolve perambular pela terra) mas eu posso muito bem mudar minha ideia em relação a isso a qualquer momento, sou a pessoa com mais medos irracionais que você deve conhecer.

Eu tenho uns calafrios aleatórios durante o dia, será que é uma espécie de sensitividade a espíritos que o Danny Phantom tinha no desenho? Só podemos imaginar a resposta.

Enfim, é isso aí.
vlw flw té mais.
Espero não ser assombrado por este post futuramente.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

MEU DEUS ESSE MANGÁ MUDOU MINHA VIDA!!!!

Você, pessoa que está lendo este blog, certamente já foi influenciado por algum pedaço de mídia que seja, anime, mangá, livro, filme, série, etc. e deve ter falado MEU DEUS, ISSO MUDOU MINHA VIDA.

Vou listar uns animes/mangás que MEU DEUS MUDARAM MINHA VIDA! ou pelo menos tiveram algum impacto. Não vou listar filmes e livros porque a lista ficaria muito extensa. Nota: essa lista não é necessariamente de obras boas, algumas obras muito boas não me impactaram e outras com defeitos notáveis deixaram marcas em minha pessoa.

Great Teacher Onizuka

GTO é um mangá bem clichê mas pro Yoiti de 13~14 anos foi incrível. O mangá em suma é sobre um ex-delinquente que vira professor pra tentar pegar as meninas mas acaba dando lições de vida pra todo mundo, tem treta, bullying e o caralho todo de qualquer escola no mundo mas tem o Onizuka no mangá pra resolver a porra toda. Esse mangá me fez valorizar a profissão de professor a ponto de eu ter cogitado fortemente a possibilidade de virar um, além de fazer com que eu respeitasse mais os professores que me davam aula.

Oyasumi Punpun

Punpun foi possivelmente o mangá que mais me impactou, foi o que me deu um tapa e falou na minha cara SHIT HAPPENS, SON. O mangá é o maior coming-of-age já feito nesse meio, e falar mais que isso seria spoiler. Os personagens são incrivelmente bem feitos (como tudo do Inio Asano) e a arte é linda de morrer, recomendo o mangá pra todo mundo mas já dou o aviso: talvez seja o mangá mais deprimente já escrito na história. Eu fiquei mal por dias depois de ler esse mangá.


NHK ni Youkoso
Foi a única obra que consumi em três meios: Light Novel, anime e mangá. Eu acho que assisti NHK muito cedo pra me conectar com a obra, vi quando tinha meus 14 anos, e talvez se tivesse deixado pra ver durante a faculdade eu teria um pouco mais de identificação. A obra é uma sátira da cultura otaku do começo dos anos 2000, no fim oposto do espectro que tem obras como Lucky Star e Genshiken, NHK não glorifica os otakus mas também não mostra de maneira verdadeira (tirando alguns momentos) o problema social que são os hikikomoris no Japão. Eu acho que todo otaku deve assistir ou ler NHK ni Youkoso porque, sinceramente, tem coisa a mais na vida além dos animes e mangás.


Legend of the Galactic Heroes
Foi o anime que me fez ficar interessado por política, por mais que alguns falem que o anime tem uma visão conservadora da história (falando especificamente da teoria do grande homem) eu achei que o enredo é bem justo até pra uma obra do Japão, o que prevalece é a figura do indivíduo sobre a nação por exemplo, mas no embate entre a autocracia e a democracia as cartas são dadas de maneira justa. Pro Yoiti de 13 anos o anime foi incrível, foram 110 episódios de aula de ciência política e estratégia militar (no espaço). LOGH acabou também me dando uma imagem melhor dos militares e um ódio profundo por líderes que promovem a guerra sem nunca terem empunhado uma arma, assim como civis que apoiam qualquer tipo de ditadura. Apesar de ter viés liberal eu posso te afirmar que é melhor um moleque ter primeiro contato com política por aqui do que por qualquer livro da Ayn Rand.

Kaze Tachinu (Vidas ao Vento)

Eu sou meio da opinião menos popular de que os filmes realistas da Ghibli são melhores que os fantasiosos. Kaze Tachinu é um filme maravilhoso, acho que é o único anime que tentou mostrar como a engenharia é linda, certo que fica meio que no segundo plano mas todo o processo de design e teste do avião é bem legal e só vi coisa parecida em algum Gundam. A cena que mostra os Zeros voando no final do filme me fez chorar e pensei comigo lá: engenharia é o que quero fazer mesmo. Eu vi esse filme no cinema no meu ano de cursinho, foi uma das coisas que motivaram meus estudos pra entrar na Poli, podemos questionar se a escolha foi sábia depois.

Bokurano
Apesar da abertura LINDA, leiam o mangá, o anime é chato demais. Bokurano foi o mangá mais depressivo que eu tinha lido até ter encostado em Punpun. Sem entrar em maiores spoilers (mas já entrando rsrs) o mangá aborda a reação que cada um dos protagonistas tem sabendo que vão morrer dali a pouco, da menina que dá graças a deus que vai morrer até o cara que não aceita de jeito nenhum, Bokurano é a única obra que conheço que tem isso como tema, e apesar da premissa ser jogada na sua cara desde o começo e não ter muitos plot twists (atentem-se ao "muitos"), você fica meio curioso em ver como o personagem x que agia de tal jeito até então vai lidar com a morte. Enfim, recomendo demais.

Blue Period
De novo? É, de novo. Blue Period é o melhor mangá em andamento e, possivelmente, é o melhor que já li na vida. Eu quero ler o mangá até o final pra me certificar mas puxa, os temas tratados, os personagens, a arte, tudo é feito de maneira tão bonita que é difícil você apontar erros ou defeitos no mangá. Eu posso ser meio suspeito de falar sobre isso já que sempre gostei de arte (num nível totalmente superficial) mas Blue Period me fez mudar completamente como eu enxergo arte, agora eu demoro o dobro do tempo que demorava antes numa ida a um museu. Eu já disse tudo isso no outro post que fiz ano passado mas é, eu não vou parar de amar esse mangá tão cedo assim.


Acho que posso fazer umas menções honrosas também:
  • Episódio 10 de Violet Evergarden: Eu juro, só de assistir os últimos 5 minutos desse episódio eu já estou chorando PRA CARALHO, o resto do anime é bem meh pra falar a real, mas o episódio 10 me faz chorar toda santa vez que eu assisto, e já foram umas cinco;
  • Millenium Actress: Uma das obras menos amadas do Satoshi Kon, mas me fez admirar a carreira dos bons atores veteranos, que passaram pelas mudanças que a indústria cinematográfica sofreu desde então. Ainda acho que uma versão liveaction desse filme com um bom orçamento seria um forte pretendente a qualquer prêmio que fosse;
  • Eve no Jikan: Adquiri meu amor por cafeterias aqui, apesar do Eve no Jikan ser mais um Kisaten japonês um pouquinho modernizado. Ah sim, a parte dos robôs é legal, mas a decoração do café era tão legal que eu realmente pensei em abrir um café naquele estilo;
  • Death Note: Quando li eu achava que tinha que matar bandido mesmo e fodasse, mas é legal notar como sua visão sobre as ações do Light e do L mudam com o passar do tempo.
Enfim, acho que é isso. Eu tava afim de escrever sobre anime/manga porque tava vendo uns vídeos sobre e eu pensei POR UM MOMENTO em criar um podcast pra debater mangá e anime com meus amigos, a ideia tá de pé se alguém me chamar.

vlw flw té mais

domingo, 12 de julho de 2020

Shimokitazawa, Amelie Poulain e o ideal do hipster japonês

É, eu me identifico com os hipsters do Japão.

Todo fã ocidental de música japonesa underground começou pela música japonesa mainstream e depois desceu as escadas, quase nunca ele vem de outros cenários underground ocidentais, porque tem muita coisa que você só entende se vier do mainstream e que não faz sentido se comparar com o underground americano por exemplo. E por isso todo fã ocidental de música japonesa é ou já foi otaku, porque anime/mangá é a coisa mais acessível da cultura japonesa pra qualquer pessoa, e a mais viciante.

O cenário underground em Tokyo é dividido em dois: o de Shimokitazawa e o de Koenji, o de Shimokita claramente é mais puxado pro indie-pop e coisas mais "normais" enquanto que em Koenji é mais comum ver o pessoal counter-culture, tipo punk, noise e coisas mais estranhas. É meio que um consenso que o cenário de Koenji é mais autêntico e original, enquanto que Shimokita é mais superficial, mas eu tive pouco contato com Koenji e Shimokita roubou meu coração.

Nem precisa entender pra saber a vibe do filme.

E putz, dói um pouco admitir mas eu tenho um fascínio pela pós-modernidade japonesa que só vendo. Todo filme indie japonês que foca num cara de 20 e poucos anos tendo uma crise de 1/4 de idade e uma desilusão amorosa em Tokyo (você não imagina quantos filmes assim existem por aí) me deixa fascinado, acho que toda essa dramatização do jovem adulto melancólico é uma coisa meio mundial mas nossa, me taca um mano com coração partido andando por Shimokita e um indie pop tocando no fundo e já exclamo "CARALHO! ME IDENTIFIQUEI!" mesmo que eu não more em Tokyo ou nunca tenha tido uma desilusão amorosa ainda.

E esse é um problema que eu tenho desde bem antes de ir pro Japão, porque eu mergulhei na música underground desde meu ensino médio, então sempre idealizei a juventude perdida japonesa de estar em uma sociedade pós-capitalista numa cidade ginorme cyberpunk, com uma renda excedente enorme pra gastar em prazeres baratos (shows no caso, não pense em merda) e me desiludir com moças andróginas estudantes de artes.

Eu tenho meio que uma teoria que tem todo um mercado por trás dessa idealização de vida medíocre no Japão, não estou falando medíocre num sentido ruim mas é uma coisa bem diferente do SEJA EMPREENDEDOR E GANHE MILHÕES que é a coisa corrente por aqui, vendo esse trailer que postei (de um filme que nem saiu ainda) não consigo deixar de pensar que eu queria ter um café ou uma loja de roupas/livros usados e viver de boa. No Japão tem o agravante de que emprego de escritório escraviza maioria do pessoal novo e não tem uma disparidade de salários tão alta quanto aqui, então não é muito fora de mão um jovem querer viver de uma lojinha ou um café, mas aqui isso é totalmente impensável pra um jovem de classe média com o mínimo de noção.

 Desilusão amorosa? Check! Indie Pop calminho? Check!

Acho que estou falando a mesma coisa de novo e de novo mas é algo que você nota ouvindo indie pop japonês, mesmo sem entender, tem meio que uma melancolia junto com um pouco de romance e a felicidade por pequenas coisas, é basicamente a mentalidade de um hipster de Shimokitazawa. Na moral que você nota que isso é meio que mundial quando percebe que o ideal de vida do hipster japonês parece o enredo de Amelie Poulain.

E eu sei que deve ter uma galera que tem essa vibe por aqui também, assim como no Japão tem festeiro PRA CARALHO, mas Shimokitazawa incorpora tão bem esse ideal de vida morno, meio sem sal e superficial que não há Rua Augusta ou Brooklyn,NY que represente tão bem esse estilo de vida.

Agora você me pergunta se eu queria ter uma vida morna, meio sem sal e superficial? Se eu fosse japonês mesmo eu estaria tentado em dizer sim, mas acho que mesmo essas pessoas têm sonhos que elas sabem que nunca serão realizados por limitações monetárias e coisas assim. Pode parecer legal viver num apartamento de 6 tatamis pra quem vê de fora mas deve dar no saco depois de um tempo.

Mas é, infelizmente não sou japonês e moro no Brasil pra piorar a situação, então o que resta é virar um hipster engenheiro ou um hipster que trampa no mercado financeiro pra ter então minhas desilusões amorosas com moças não necessariamente andróginas ou estudantes de artes. Pra falar a verdade eu amo a Rua Augusta mesmo não sendo baladeiro, frequentador de puteiros ou shows, acho que tem umas partes dela que são bem Shimokita, ou pelo menos suprem minha abstinência por aquele bairro.

Já dizia Jordan Belfort (ou pelo menos o DiCaprio interpretando ele): "Let me tell you something. There's no nobility in poverty. I've been a poor man, and I've been a rich man. And I choose rich every fucking time."

vlw flw té mais!

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Afinal, o Yoiti é otaku?

Acho que a minha vida social inteira pode ser resumida em dois modos de operar: assumir ser um otaku sem qualquer pudor e esconder que sou um otaku com todas as forças possíveis.

Putz, minha trajetória nos animes já tá fazendo aí seus 20 anos, frequentei por um bom tempo as comunidades de anime no falecido Orkut e fui em uns 4 ou 5 Anime Friends e eventos correlatos (tipo a Comix Fest), mas acho que nunca me declarei otaku.

Otaku é a ""tribo"" odiada por mais tempo nesse Brasilzão, tirando aquelas por motivos ideológicos e tudo mais, otaku já é execrado desde os idos do começo dos 2000, quando essa coisa realmente começou por aqui nos primeiros grandes eventos de anime e comunidades online. Os Kpoppers não existiam na época, os emos não existem mais (no mainstream) e o funk se tornou tão popular que funkeiro já deixou de ser estereótipo, mas os otakus continuam aquela coisa do começo dos anos 2000, com bottom na mochila, camiseta preta de anime, acessórios de gosto duvidoso comprados na Liberdade e uma falta de noção que me fazia ter vergonha alheia toda vez que os via no trajeto do metrô pra minha casa.

Mas eu nunca cheguei a ser esse tipo de otaku que fica na muretinha da estação Liberdade, tive só uma camiseta preta de anime (do Death Note... eu tinha 12 anos glr) que usei em umas duas ocasiões, e nunca botei bottoms de anime na minha mochila, nem correntinha ou nada do tipo. Mas eu sempre senti vergonha alheia quando via o pessoal otaku OTAKU fazendo bosta na Liberdade e sempre fiz questão de não ser esse tipo de gente que só consome anime, mangá, games e, quando muito, doramas e filmes japoneses, tem mais pra vida além disso.

Então eu decidi que ia dividir bem o Yoiti otaku do Yoiti normal. O pessoal fora do meu círculo imediato de amigos sabia que eu curtia anime mas não faziam ideia do otaku que eu era com a estante cheia de mangás e um vasto número de animes assistidos. E nessa época (do fundamental até meu ensino médio) é bem seguro dizer que os momentos mais felizes que tive foram sendo otaku, os eventos de anime foram divertidíssimos com meus amigos e meus gastos mensais com mangás estavam na casa dos 100 reais, o que pra época dava uns 7 ou 8 mangás POR MÊS.

Mas eu tava nesse período de formação de gosto, ouvia mais música britânica por influência da minha irmã, tinha começado a ler mais livros (maioria sendo de autores americanos) e tava também lendo bastante HQs, não é como se eu tivesse ativamente fugindo das otakisses, mas com certeza era uma das motivações. Assim eu via os animes e mangás meio como uma guilty pleasure, eu tirava foto da minha estante de livros e de HQs e postava no FB mas a de mangás eu só postava em lugares onde só tinha otaku mesmo.

Aí eu comecei a ouvir música japonesa.

Fodasse Oasis, Beatles, Verve, Muse, Arctic Monkeys e os caraio, o negócio é Judy and Mary, Shiina Ringo e Tokyo Jihen.

E a música japonesa virou simplesmente minha PLEASURE, sem guilty ou porra nenhuma, sem dividir Yoitis também, eu fiquei simplesmente fascinado pela música japonesa a ponto de eu falar pra qualquer pessoa que me desse o ouvido do processo de criação do Kalk Samen Kuri no Hana da Shiina Ringo.

Depois eu entrei na Poli, conheci uns otakões e daí foi ladeira abaixo.

Eu meio que me decepcionei com a Poli no quesito otakus porque não conheci um puto que assistia Gundam ou conhecia LOGH por exemplo (aposto que esse pessoal tá na elétrica) mas, por um breve período, eu tentei virar um pouco mais normie e fui em umas festas, mas não rolou.

A grande revelação veio mesmo quando fui pro arubaito e aquilo lá era cheio de otaku, afinal onde mais achar otaku enrustido que numa viagem pro Japão? Mas foi nessa viagem que vi que as otakisses pra mim já estavam no segundo plano e a música japonesa era realmente o que eu amava. O karaoke no último dia lá foi uma das coisas mais legais que fiz, música de anime foi feita pra otaku cantar.

Mas afinal, eu sou otaku?

Eu leio mangá todo dia na minha vida faz uns bons 10 anos, não assisto anime com tanta frequência mas vejo pelo menos uns 3~4 por ano e ah sim, voltei do Japão com um model kit de Gundam, 3 figures, 4 pelúcias de anime e uma caralhada de gachapon. Eu não tenho moral nenhuma pra negar que sou otaku mas também não declaro que sou.

Se for pelo viés da TRIBO eu não sou otaku, já que nunca me vesti como um otaku da Liberdade e nem fiquei nas muretinhas de estação, mas se for pela definição mais clássica japonesa de ser um fã die-hard de anime/manga (anime-otaku no caso) então sou mesmo, olha essas pelúcias:

Com que moral que falo que não sou otaku?

Enfim, eu meio que associava os meus momentos felizes com anime simplesmente porque eu tinha curtido os eventos que fui com meus amigos, demorei pra descobrir que o que fez os rolês serem legais mesmo foram meus amigos, não os animes e mangás necessariamente. Mas ainda devo bastante pros mangás em especial, maioria do meu vasto conhecimento em coisa inútil (e útil também) provém todo de mangás aleatórios.

Apesar de, no Brasil, eu não ser de nenhuma TRIBO URBANA, acho que o pessoal hipster do Japão, que era rato de show que nem eu fui por três meses, era uma galera onde eu me encaixaria bem se fosse japonês mesmo. A forma de se vestir desse pessoal tá entre o bem casual e a streetwear, é uma galera que vai pra show pra curtir, não pra ficar tirando foto e posando em selfie, e era um pessoal bem na deles. Os hipsters ratos de show underground aqui são geralmente tudo conhecido das bandas que tocam nesses circuitos, aí é meio merda essa panelinha toda, além disso a forma de se vestir do hipster brasileiro é mais pra jovenzinho descolado de Shibuya que jovem desleixado de Shimokita urgh. Tudo o que peço pros deuses da moda é que a tendência japonesa de usar roupas folgadas e confortáveis em eventos se torne mundial, minha calça moletom de dormir e minhas camisetas de skatista da Adidas clamam por esse dia.

Hoje eu já posto abertura de anime no meu FB junto com as músicas underground que ninguém se interessa, eu não me importo de ser taxado de otaku e boa parte dos meu colegas de sala já me associam mais pro lado hipster depois das inúmeras fotos de show que tirei no Japão, mas no final eu sou um pouco de tudo e nada também.

Resumo da ópera: pode me chamar de otaku, hipster ou... Shimokita boy? Mas não me chame pra sentar nas muretas da Estação Liberdade usando camiseta de anime e bottoms na mochila.
valeu, falou, té mais!