sábado, 29 de setembro de 2018

My childhood

Eu lembrei da minha primeira memória que tenho.

Lembro que era uma manhã, minha mãe me levava de mãos dadas pros lugares onde ela precisava resolver pendências como bancos ou no Poupatempo, como meu pai trampava e minha irmã estaria no colégio na hora, minha mãe precisava sempre me levar pros lugares quando fosse pagar contas no banco ou passar por algum processo burocrático, nunca tive babá ou nada do tipo. Lembro que a gente parou numa daquelas barraquinhas onde tem um tio vendendo balas e doces e ela me comprou uma daquelas balas em bolinhas coloridas que vinham em pequenos frascos parecidos com o de Tic-Tac. Lembro também que a gente sempre ia a esses lugares de ônibus, só andei de metrô bem depois na vida.

Quero dizer, era uma coisa meio esquecida e de novo, extremamente banal, que eu tinha no fundo da minha memória, eu comecei a valorizar essa memória depois que um professor de literatura do cursinho, quando estava analisando os "Laços de Família" da Clarice, falou que geralmente nossa primeira memória é da mãe, eu posso ter sido influenciado por isso mas acho que é bem por aí mesmo.

Minha infância foi meio diferente da sua infância normal, minha família não era rica o suficiente pra eu ter feito n cursos e ter os mais variados consoles (até meus 11 anos eu só tinha um Game Boy Color e o SNES da minha irmã), e eu morava numa rua/prédio onde não tinha nego da minha idade então eu só tive amigos mesmo depois que entrei na escola, acho que por isso que não tenho muita memória dos meus primeiros três ou quatro anos de vida e deve ser por isso também que sou um pouco introspectivo.

E eu continuei até que bem introspectivo até meados de 2008. Acabei mudando do vespertino pro matutino por causa de um amigo que fiz por causa do judô mas tirando ele eu não conhecia quase ninguém, foi numa aula de informática que chegou um maluco folgado pra caralho e me irritou tanto que acabei dando um arm-twist nele e quebrei o braço dele, acabei virando amigo do dito cujo. Na moral que ele era uma pessoa não muito correta, mas acho que ele foi uma das pessoas que mais me influenciou na vida, foi nesse ano também que eu ganhei a chave de casa e um bilhete único, foi meio que uma carta branca pra sair de casa e voltar quando bem entender, como eu não ia pra festas e sou muito vanilla pra sequer fumar ou beber.

2008 acabou sendo um dos anos mais importantes pra minha formação, por mais que o ano de cursinho, o ensino médio e os primeiros anos de Poli tenham me mudado, acho que foi em 2008 que comecei a ler mais livros (foi Código Da Vinci e Poderoso Chefão no caso, boas leituras), foi quando comecei a ficar mais folgado (no sentido de ser mais extrovertido) e também foi o ano que eu descobri o que era COMUNISMO, daí pra frente deu no que deu. Acabou que eu perdi totalmente o contato do maluco aí que tanto me influenciou, acho que ele nem FB tem, e a última vez que falei com esse amigo meu que me fez ir estudar de manhã foi em 2012 quando a gente se encontrou na saída do ENEM, depois ele acabou indo estudar na Europa.

Minha infância/pré-adolescência então acabou de ser resumida em meio post, eu tenho minha opinião que qualquer vida de qualquer pessoa daria uma história melhor que qualquer ficção ao mesmo tempo que acho que biografias se vendem literalmente pelo nome do biografado e não pela vida do dito cujo, eu tava lendo a biografia da Nara Leão (que é minha paixão da década de 60/70) e eu quase dormi, não falo muito já que minha biografia também não daria um bom livro (quero dizer, é só ler este blog pra constatar isso).

Enfim, eu estou com esse post numa aba esquecida do Firefox faz uma semana quase e comecei a escrevê-lo porque outro dia lembrei dessa minha primeira memória que tenho e no processo de escrever isso aqui acabei lembrando desse cara que me influenciou no meu sétimo ano de ensino fundamental. Foi nesse ano de 2008 que acabei conhecendo um pouco do pessoal que faria parte da "fundação" da Turma da Trave um ou dois anos depois, quando o pessoal que estudava a tarde acabou indo tudo pra manhã.

Nem dei proofread então acho que esse post vai estar desconexo pra caralho, foda-se. Tem um tempo atrás também que escrevi um post 100000% PUTAÇO sobre política e tá como rascunho aqui no arquivo do blog, acho que não vou publicar pra não causar uma shitstorm gigantesca com a galera fundamentalista.

vlw flw té mais

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Ser um millennial, arranjar um emprego e realizações profissionais

Por algum motivo o Youtube começou a me recomendar aqueles vídeos que estão na moda faz um tempo já do naipe "a day in the life of a software engineer" onde jovens millennials mostram como é a vida trampando geralmente em uma startup, programando, tomando kombucha, comendo comida vegan e tendo uma vida sustentável. No vídeo que eu vi primeiro em particular a menina tinha uns 5 anos de formada, trampava no Patreon, morava com o marido, um gato e um cachorro NA BAY AREA DE SAN FRANCISCO... NUMA CASA TÉRREA. Eu não sei se tem IPTU nos States mas só de pensar qual seria o valor dele em SF me deu uma dor no fígado.

Óbvio que o pessoal que chega ao ponto de fazer vídeo é a galera extremamente realizada que tem a vida dos sonhos ou edita pra caralho pra parecer isso E MENTE PRA SI MESMO ENQUANTO A VIDA TÁ UMA MERDA. Mas não consigo deixar de ter inveja dessa galera, quero dizer, morar em SF, ganhar bem e ter um estilo de vida decente? Não faria mal.

E isso me fez pensar no termo millennial, que é um rótulo que sempre passei longe (junto com hipster e otaku) mas que é o que me descreve, afinal, sou um jovem nascido entre as décadas de 80 e 90 que deveria estar entrando no mercado de trabalho agora, só que toda a cultura millennial é aquela coisa pseudo-empreendedora com overdose de autoajuda que eu nunca consegui engolir.

Aí tem um choque entre a cultura da geração anterior e a nossa, pelo menos na Poli eu não ouço muita gente falar que tem como sonho um trampo como concursado (que é o sonho de carreira de muitos da geração antes da nossa) porque tem mais estabilidade e tal, o mais comum mesmo é consultoria (que é até estável, se você sobreviver) e criar seu empreendimento, na naval tem um ou outro que mira um trampo na Petrobras ou na Marinha/Amazul como concursado mas não é nem perto da maioria.

Quero dizer, acho que nunca parei pra pensar direito no que seria minha realização profissional, trampar numa startup e largar de vez qualquer coisa que possa ser chamada de engenharia naval ou ir pra área e ter um trampo mais padrão (eu sei que tem mais opção, mas vamos manter a coisa simples)? Eu sei lá, eu ainda tenho aquele antigo sonho de fazer minha obra de arte mas eu sinceramente não sei se vou fazer isso por vias de trabalho ou de hobby, talvez eu vire um produtor musical de shoegaze daqui 12 anos, a vida é uma caixinha de surpresas.

Acho que vou tentar arranjar um emprego antes de qualquer avanço em tentar achar meu grande objetivo profissional.

vlw flw té mais

sábado, 15 de setembro de 2018

Meu senso de moda provém de uma banda brega dos anos 90: um estudo de caso

Eu me visto mal.

Quero dizer, quem me conhece sabe que isso foi um understatement, meu guarda-roupa é composto basicamente por camisas de futebol, moletons, uma variada gama de roupas da Adidas, alguns shorts floridos e duas calças jeans (que eu odeio), depois de eu entrar na Poli ainda brotaram uma caralhada de batas pretas, uma sambacanção e o famoso moletom escrito POLITÉCNICA em letras garrafais no braço. Ah sim, junte a isso uma dúzia de pares de chinelos, dois pares de CROCS e uns tênis aleatórios.

Acho que porque fui obrigado a usar uniforme escolar durante os 12 anos de colégio que fiz, minhas preocupações com roupas casuais se restringiam a finais de semana e feriados, então um par de berma e uma calça era o suficiente, ainda mais pra mim que não saía frequentemente de casa.

É comum a galera pegar um famoso pra se espelhar e pegar o estilo, o Julian Casablancas do Strokes, James Dean, Cristiano Ronaldo ou Audrey Hepburn, Bibi Andersson, Taylor Swift, sei lá, mas todos os citados aí são exemplos totalmente válidos pra você se espelhar. Pois eu escolhi me vestir que nem minha banda favorita, o que é normal, mas no meu caso essa banda é Judy and Mary.

Judy and Mary era brega PROS ANOS 90, eu na real que podia ter pego o estilo do Falcão que pelo menos a galera ia sacar a referência.

Vocês sabem como eu amo minha coleção de mais de 20 camisas de futebol que coleciono desde meus 13 anos, mas um cara que me me inspirou a usá-las em sociedade foi o guitarrista do Judy and Mary, o Takuya.
Takuya com uma camisa de time desconhecido, POP LIFE SUICIDE 2 (1999)
O Takuya tinha um estilo legal (pra época), usava uns terninhos slim em sessões de foto e tal, mas em shows o figurino era uma camisa de futebol e num show ele até usou a kilt obrigatória pra todo guitarrista. O legal é que em algumas tours o Judy and Mary fez camisas de banda no estilo das de futebol e na última tour em especial eles venderam uma camisa da banda feita pela Le Coq Sportif com o nome do Takuya nas costas, um item que tá na minha wishlist faz uns bons 10 anos já.

Obviamente eu não poderia falar de Judy and Mary me influenciando sem falar da Yuki, mas aí foi um caso mais pontual: eu lembrei de um vídeo que ela apareceu com um conjunto amarelo (incluindo uma jaqueta amarela com preta da Adidas que ainda procuro) e decidi comprar uma camiseta amarela GRITANTE que vi vendendo na Adidas a preço de banana, nada parecida com a que a Yuki usou infelizmente.

Essa foi uma das roupas mais normais que a Yuki já usou durante um show do JAM.
A camiseta amarela é extremamente confortável, o tecido é ótimo mas é muito feia puta que pariu, não lembro a última vez que usei, eu usava durante os vestibulares pra distrair a concorrência porque era confortável.

Ah sim, agora avançando o relógio pra 2013, e mudando completamente de gênero musical, eu me apaixonei pelo Kinoko Teikoku (sim, essa história é antiga) e a Chiaki Sato usando o moletom cinza escuro era pra mim aquela imagem perfeita do que era o shoegaze até então, como eu nunca tive minha fase TREVOSA, decidi comprar um moletom daqueles pra mim.

No clipe não dá pra ver o moletom direito, tá aí outra foto dela com o dito cujo.
Acabei comprando um moletom parecido a esse na GAP, e não, ele não tem o logo grotesco da marca no peito, o que comprei era da linha mais básica (que era bem mais barata que o resto) e o único indício de que o negócio é da marca é a etiqueta. Eu acabei gostando pra caralho do dito cujo e é meu moletom favorito pra usar fora da Poli. Eu até pensei em tirar o cordão pra ficar mais parecido com o dela mas acabei desistindo. A Chiaki Sato usou uma variedade de moletons lisos nos primeiros anos do Kinoko Teikoku, inclusive um amarelo que eu pensei seriamente em comprar um igual.


Acho que comecei a usar Vans por alguma influência parecida, mas é meio difícil traçar a origem, praticamente todo mundo que tem banda hoje em dia usa Vans.

O curioso disso tudo é que das pessoas que tenho como referência pra quando comprei umas roupas em especial, duas são mulheres. Acho que a Yuki e a Chiaki Sato são dois extremos opostos, a Yuki é o símbolo de uma década, e era o carisma em pessoa dos anos 90, já a Chiaki Sato veio meio como um símbolo também, mas de um movimento totalmente introspectivo e taciturno.

E desse mish mash de influências de vocalistas japonesas e o que tiver de barato na Adidas que sai o meu vestuário, e de novo: me visto mal. Eu até pensei em TENTAR me vestir melhor, pelo menos combinar as cores, mas ir de camisa de futebol, shorts florido e chinelo pra faculdade é tudo o que pedi na vida nos tempos sombrios de colégio quando eu era obrigado a usar uniforme, em compensação eu uso o moletom da Poli e a camiseta que veio no kit bixo até hoje, tem coisa melhor que não sujar roupa "de sair"?

Enfim, acho que perdi totalmente o fio da meada nesse post mas eu sempre quis postar aqui as más influências que tenho pra escolher roupa, acho que nem no Japão dos anos 90 uma pessoa sã iria se deixar influenciar por Judy and Mary pra escolher as roupas.

Por hoje é só.
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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Óculos da nostalgia

Outro dia fui pro aeroporto de Congonhas buscar a minha irmã de viagem. Subindo as escadas rolantes do estacionamento pro saguão principal eu avistei o McDonald's e tive um daqueles flashbacks, lembrei da minha viagem de formatura pra Búzios

Por uns quatro ou cinco anos, talvez menos, tinha um programa na RedeTV chamado "O Último Passageiro" que era tipo um quizshow com três turmas de TERCEIRÃO URRA URRA EI de três colégios distintos, o vencedor do negócio todo ganhava uma viagem de formatura NA FAIXA, no nosso caso foi pra Búzios, ah sim meu colégio ganhou. O negócio é que só quem participava da vergonha alheia lá que ganhava a tal viagem e obviamente eu fui participar, COISA DE GRAÇA? EU QUE NÃO IRIA RECUSAR. 

Pois bem, ehh, ganhamos, isso, eu passei uma puta vergonha naquela merda mas graças a deus que o programa passou NO MESMO DIA E HORÁRIO QUE A FINAL DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES DE 2013 ENTRE BRASIL E ESPANHA, cara, nem eu vi aquela merda de programa, mas vi o Ney sambar na cara dos espanhóis, chupa Casillas. E como o programa foi cancelado na mesma semana que a gente foi lá, todo material gravado daquele dia que tava upado no site da RedeTV se perdeu, infelizmente pra minha nostalgia, felizmente pra minha vergonha.

Quando a gente ganhou a tal viagem, a outra viagem de formatura já tinha sido paga, que no caso era pra Floripa, como eu não queria pagar a taxa de cancelamento e QUE MENINO DE 17 ANOS RECUSARIA DUAS VIAGENS DE FORMATURA? Eu que não, fui nas duas.

E foi o ápice da minha juventude, e não peguei ninguém, mal bebi e quase fiquei gripado, mas foi bom pra caralho. Não acrescentei nada à minha vida, não achei o significado de amizade em Floripa e nem o que é o amor verdadeiro em Búzios mas eu também não esperava nada disso, só queria mesmo me divertir.

Búzios em particular foi legal pra caralho, todo mundo que estaria normalmente agitado já tinha gastado a energia na viagem pra Floripa duas semanas antes e a ilusão de achar o amor da minha vida numa garota de um colégio que eu provavelmente nunca tinha ouvido falar tinha ficado em Floripa. Em Búzios a gente praticamente só encheu a barriga, já que era OPEN FOOD 24H, e chegamos ao ponto de tédio de ver "À Procura da Felicidade" no quarto, mas aquela piscina lá era divina, tenho que admitir.

Ah sim, eu tive meu flashback quando vi o McDonald's porque um amigo meu achou que não ia ter lanche no avião então ele decidiu comprar McNuggets pra comer, vocês não imaginam a cara de alegria dele ao ver que o lanche na TAM era incluso na passagem (ao contrário da Gol na época).

É claro que toda a felicidade se deveu também ao fato de que pra gente aquilo tudo era muito novo, até então eu só tinha viajado de avião uma vez (pra Foz do Iguaçu) e muitos dos meus amigos nunca tinham pisado num avião, some a isso o fato da gente ter ganhado uma viagem de graça no nosso colo, a gente tava muito feliz.


Aliás, pode parecer que meus dias felizes foram só no ensino médio (vendo pelos meus posts pelo menos) mas acho que isso é mais um daqueles casos de que MINHA VIDA NÃO É INTERESSANTE e que visto de um ponto de vista distante qualquer coisa fica interessante e a gente acaba esquecendo uns detalhes ruins. Se este blog estiver vivo quando eu estiver trampando você pode ter certeza que haverão posts aqui sobre umas desventuras que tive nos meus tempos politécnicos.

Enfim, é issae
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té mais

sábado, 1 de setembro de 2018

Como é ser um asiático no Brasil

Tá na moda agora esse negócio de representatividade asiática e eu sou asiático, olha só, vai virar post isso ae.

Pois bem galera, agora tá em vogue ter representatividade asiática em filmes, seriados e afins, e parece que pela primeira vez na história Hollywood se lembrou que existem não apenas japoneses na Ásia mas também coreanos, chineses, tailandeses, vietnamitas e afins. Até as novelas brasileiras estão começando a incorporar mais atores e atrizes orientais e escrevendo roteiros decentes para os papeis não caírem nos estereótipos de "japa" que o imaginário popular brasileiro tem.

Na moral, acho isso muito bom, enquanto crescia eu realmente procurava alguém que se parecesse comigo (num sentido mais amplo obviamente) pra me espelhar e ter como objetivo, óbvio que temos no país vários exemplos de nipodescendentes extremamente bem sucedidos, mas digamos que pra um moleque de 10 anos é mais fácil gostar de um jogador de futebol ou ator do que de um empresário.

E foi no alto dos meus 10 pros 12 anos que eu desisti de procurar por exemplos a seguir na mídia brasileira e fui pros animes, mangás e J-Pop, apesar de que a maior representatividade asiática no Brasil esteja no nosso cenário musical (eu ainda amo a Fernanda Takai... e num grau menor a Fovefoxxx também).

Mas o negócio é: eu não sou japonês, eu sou brasileiro. Gosto de feijoada, futebol, cerveja com mais milho que malte e faculdade pública de graça. Por mais que eu idolatre e tenha como exemplo, sei lá, o Shunsuke Nakamura ou o Ken Watanabe, eles nasceram e cresceram no Japão, eles possuem em comum comigo a cara e talvez a preferência por usar hashi ao invés de garfo nas refeições.

O foda é que todo mundo que olhar pra minha cara vai me chamar de japonês (quando não chinês ou coreano), lembro quando fui com minha família pro interior de Minas Gerais, praticamente TODO MUNDO ficava olhando pra gente como se fôssemos alienígenas, fora dos lugares com concentração de asiáticos aqui no Brasil eu sou um eterno gringo. E você pode ter certeza que quando eu for pro Japão os caras não vão me chamar de ONE OF US, eu mal falo a língua dos caras, vou ser um gringo lá também.

E tá aí o eterno dilema do nipodescendente: não é brasileiro no Brasil mas também não é japonês no Japão, come feijão com gohan e assa o onigiri junto com a picanha na churrasqueira.

Pode parecer drama exagerado pra vocês, e dou total razão pra quem pensou isso, afinal, quando volto de madrugada pra casa e passa uma viatura da polícia por mim, só falta o maluco fazer joinha depois dele constatar que sou asiático, mas é uma coisa que sempre me incomodou, existir esse estereótipo de asiático super cobrado pelos pais, que anda olhando pra baixo e ouve Hatsune Miku, desde que eu soube do tal estereótipo, sempre fiz o máximo pra ser exatamente o contrário disso e olha onde acabei chegando, no lugar que é o maior antro de estereótipos de asiáticos do Brasil: a Escola Politécnica da USP.

E foi quando entrei na Poli que me dei conta de como tem asiático nessa parte do Brasil, é incrível, e foi a primeira vez também que tive professores asiáticos fora do Karate. Acho que isso fez com que, ao mesmo tempo que me sentisse mais "normal" na multidão, também me fez ver que tem muita gente também que foge do estereótipo, seja conscientemente ou não. Tem muito asiático na Poli que faz parte dos times de Baseball/Softball/Tênis de Mesa, fez parte de um grupo de escoteiros, dançava Break no CCSP e já foi em balada japa e tudo mais, e tem muito asiático também que é recluso, tem pais exigentes, é 100% full otaku (esses geralmente fazem elétrica) mas também tem uns que não se encaixam em nenhum estereótipo, que gostam de samba, jogam futebol, leem literatura russa e gostam de indie da costa oeste americana, demorei pra perceber que cada um é cada um, por mais que a pessoa se encaixe nos estereótipos, ela é única de seu modo.

Eu sempre abominei a ideia de só andar com "japa", sempre vi esse tipo de gente como um pessoal de mente fechada que só se entrosava com pessoal da própria laia, mas depois de entrar na Poli eu comecei a entender mais esse tipo de gente, apesar de não ter me tornado um deles.

Por mais que todo mundo seja diferente, as famílias asiáticas no Brasil têm muito em comum, a maior distância que a geração atual tem dos antepassados que vieram pra cá é de umas duas ou três gerações, vários costumes da terra natal ainda são comuns em terras tupiniquins pra essas famílias, por mais que você seja japonês, chinês ou coreano, o arroz consumido é grudadinho da mesma forma. Além disso todo asiático aqui passou por coisas similares, seja os coleguinhas de classe imitando puxando os olhos como a negada falando que teu pau é pequeno, não tem um puto com olho puxado neste país que não passou por isso, isso tudo acaba unindo a gente.

Quando vejo um bixo asiático entrando na Naval eu já sei pelo o que ele deve ter passado, eu sei que ao mesmo tempo que a polícia nunca deve ter parado ele na rua, os assaltantes viam nele um pato fácil pra roubar a carteira, eu sei que se ele for de família japonesa, a avó deve gostar da Hibari Misora e a família toda deve se reunir no fim de ano pra assistir o Kohaku e sei também que por mais que a família dele seja moderna, há uma cobrança maior que o normal pro padrão ocidental nos ombros dele. Eu sei que isso é normal, você sabe pelo que um maluco da tua etnia passou, mas só fui perceber isso depois, e foi aí que entendi os asiáticos que andam com asiáticos, você pode não conhecer o maluco mas já sabe pelo menos por algumas coisas que ele passou.

Em suma ser asiático no Brasil é ser um eterno gringo onde quer que você vá, ser estereotipado até o cu e não ter heróis a quem se espelhar que tenham a mesma cara que você, obviamente a nossa situação não chega aos pés do racismo incrustado contra os negros neste país, mas há lutas e lutas, eu acho particularmente que o recente destaque que o feminismo asiático vem recebendo é bem legal, tudo o que eu sofro com estereótipo é multiplicado por 100 se você for uma mulher e sinceramente, a cultura machista dos países da Ásia não ajuda muito a situação.

Por mais que eu achasse esse negócio de representatividade uma besteira até um tempo atrás, os filmes e seriados ainda fazem grande parte do imaginário brasileiro, ter mais atores asiáticos na novela das 9 pode mudar a visão que o brasileiro médio tem sobre toda uma etnia, por mais que você fale que ninguém mais vê novela. Enquanto eu crescia uma das únicas representantes da minha etnia na TV era a Sabrina Sato, agora as coisas melhoraram mas os outros asiáticos ainda são praticamente invisíveis pras novelas e afins do país.

Enfim enfim enfim, eu sempre quis escrever sobre isso no blog mas nunca achei um momento certo, e também achava que comparado com o racismo contra os negros, qualquer coisa contra asiático parece piada, mas acho que lutas podem ser paralelas, se lutarmos por uma mudança de cada vez nunca haverá fim.

Obrigado por terem lido essa coisa toda, me desculpem se tiver algum erro aí mas estou com uma puta preguiça de fazer proofreading e to com umas provas no horizonte, prontas pra me foder.
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