domingo, 25 de agosto de 2019

Nostalgia por DVDs parte 1: As Locadoras

Pode me chamar de antiquado mas eu sinto muitas saudades das locadoras de vídeo.

Lembro que tinha uma locadora na esquina da São Joaquim com a Rua da Glória, a Golden Fox, que meu pai devia ter cadastro desde a década de 80 no mínimo, que foi onde achei as mais variadas influências que um menino de 5 anos poderia ter. Nessa época ainda lançavam filmes em VHS e DVD, acho que o preço pra alugar VHS era menor.

Eu em particular raramente escolhia um filme pra ver, nessa época pelo menos, mas lembro de ter assistido Space Jam depois de ver de fora da locadora a capa que me intrigou bastante na época: "Um jogador de basquete junto com o Pernalonga? Como assim?", quem pegava a maioria dos filmes era a minha irmã e lembro da saga d'O Senhor dos Anéis, dos filmes de terror que tavam em vogue na época (O Chamado em particular) e daquelas comédias românticas com o Owen Wilson.

No colégio todo mundo tinha a carteirinha da "Turma do Sofá" da Blockbuster, mas como não tinha lojas da rede perto de casa eu tinha que me contentar com as locadoras de bairro mesmo, que podiam não ter os brindes e promoções das redes mas tinham seu charme.

Acho que o começo do fim foi quando a pirataria chegou na porta, de repente as ruas se infestaram de vendedores ambulantes trazendo os mais novos títulos do cinema, às vezes a gravação era um CAMrip horrível mas também acontecia muito de ser uma ISO de um DVD que tinha sido lançado e então tanto fazia alugar na locadora ou comprar aquela coisa horrorosa no saquinho com a capa mal impressa.

De repente a casa de todo mundo que fosse estava cheia de DVDs piratas de filmes novos e antigos, o debate sobre a moralidade da pirataria ainda estava no começo e as campanhas anti-pirataria soltavam pérolas lembradas até hoje como "VOCÊ NÃO FARIA DOWNLOAD DE UM CARRO!" pô, será mesmo?

Por mais que a pirataria estivesse com vento à popa, minha família ia ainda nas locadoras próximas, já que o preço do pirata e do aluguel era quase o mesmo e a gente sabia que não ia ver a maioria dos filmes novamente, que mal poderia fazer? Foi nessa época que uma locadora perto começou a alocar metade do salão pra uma lan house (outra coisa que desapareceu, mas fica pra um próximo post) e a saudosa Golden Fox acabou fechando as portas e virou uma Igreja Universal, a era das locadoras já estava no fim.

Eu lembro até hoje do último DVD que minha família alugou, minha irmã tinha pego um filme numa locadora perto de casa mas como ele não tava rodando (tava riscado eu presumo), eu e minha mãe fomos trocar por outro. O negócio é que fomos no dia depois da data de entrega, por algum imprevisto, e o cara da locadora falou mais ou menos "Vocês não tem direito a pegar outro não, olha a data" e nem devolver a grana o cara devolveu, minha mãe ficou tão pistola que nunca mais pisamos naquela locadora, e em mais nenhuma até onde lembro. O filme se não me engano era algum com a Audrey Tautou, mas posso estar lembrando errado.

A partir daí eu só acompanhei de longe as locadoras acabando uma por uma, as Blockbuster primeiro dividindo espaço com Lojas Americanas e depois sendo totalmente fagocitadas por elas, a locadora-lan house perto de casa virando um restaurante-bar e até as Locadoras 2001, queridinhas de todos os cinéfilos e hipsters de plantão, fechando as portas a pouco tempo atrás.

E de repente não havia mais locadoras de vídeo no Brasil, enquanto que no Japão eu vi até locadora de CD, SIM LOCADORA DE CÊ-DÊ! Pra ser justo a Tsutaya é metade livraria metade locadora, mas é realmente metade/metade e tem muito japonês alugando coisa ainda, vi as famosas estações de coleta automatizada de DVDs/CDs alugados e fiquei pasmo com o anacronismo daquilo, pode ter sido uma das razões pelas quais eu amo aquele país.

O post ficou meio longo e como sei que quem lê esse blog é preguiçoso pra caralho, vou dividir esse flashback em duas partes (eu espero), a próxima vai ser sobre os DVDs piratas.

vlw flw té mais

domingo, 11 de agosto de 2019

Moletom da Poli

Todo mundo que me conhece sabe que eu tenho o famoso moletom da Poli.

A Atlética Politécnica nunca soltou os números mas eu tenho a leve impressão que o moletom da Poli é o artigo de vestuário universitário mais vendido do Brasil. Mesmo que você não faça USP, é bem provável que você já tenha visto o clássico moletom: azul marinho, zíper metálico, revestimento interno do gorro em amarelo assim como o singelo bordado atrás "USP", o emblema da Atlética Politécnica no peito e, em letras garrafais bordadas ao longo do braço esquerdo: POLITÉCNICA. É o famoso moletom POLISTER.

E eu comprei esse moletom no meu primeiro dia de aula, 130 reais.

Ainda lembro que eu tava 100% perdido no primeiro dia, só conhecia mesmo meu amigo da elétrica que era do meu cursinho, e numa pausa entre as aulas introdutórias de 50 minutos eu dei uma passeada no prédio do biênio e aproveitei pra passar na Atlética pra comprar o tão sonhado moletom da Poli. Na moral que eu achei na época que o preço era meio alto, pra uma roupa que não era de marca, e é caro mesmo, mas pelo tanto que usei já, acho que valeu a pena.

Desde antes de entrar na Poli eu sempre curti moletons universitários, já passei horas e mais horas navegando por páginas de atléticas não só nacionais como também de fora do país, é bem legal ver a sutileza que os moletons têm e como isso reflete a imagem que o pessoal de tal curso em tal faculdade têm deles mesmos. A Poli por exemplo sempre busca botar ênfase no POLITÉCNICA, porque é uma palavra bem bonita e com bastante significado (das origens do ensino da engenharia no país), outros cursos da USP sempre destacam o nome de seus institutos, porque depender do nome USP geralmente é sinal que o curso não tem muito destaque. As universidades federais já são o contrário, com um enorme destaque para a sigla da Universidade e o nome do curso nas entrelinhas. Pessoal de qualquer medicina costuma tacar um MEDICINA em letras garrafais e depois a universidade, até o pessoal da Pinheiros faz isso. Algumas atléticas botam o nome da atlética em destaque e eu nunca entendi o motivo disso, mas enfim.

O negócio é que o moletom pra mim era o símbolo do meu sonho de entrar na Poli, aquele moletom não custou apenas os 130 reais que paguei lá na Atlética, custou também os dois anos de cursinho, as noites de estudo e os rolês perdidos, custou tudo o que eu tinha e pra mim era uma ticket pra uma nova vida, spoiler: não foi.

O meu moletom me acompanhou para todos os lugares possíveis, acho que de todas as viagens que fiz desde que entrei na Poli, eu só não levei meu moletom na viagem pra Argentina porque eu não tava afim de levar um soco na cara por ser confundido com um torcedor do Boca Juniors. No Japão eu usei o moletom mais lá na cidade onde eu estava, tanto pra dormir quanto pra sair pro supermercado, em Tokyo eu acabei usando as roupas que tinha comprado na Uniqlo/Champion que eram mais F A S H I O N e também que no frio da porra que tava lá, usar um corta-vento era mais importante que ter uma blusa grossa.

O meu POLISTER já foi pra praias, foi pro interior de São Paulo, foi pra Curitiba, foi pro Japão, foi pra maiorias das visitas monitoradas e também já me proporcionou as melhores sonecas que tive na USP, já que ele é praticamente um cobertor com gorro.

E o meu moletom em particular já está fazendo 4 anos e uns quebrados e não está tão desbotado quanto eu achava que ele ficaria. O zíper dele quebrou ano passado e minha mãe falou pra comprar outro moletom já que a troca de zíper já sairia mais de 50 reais, num misto de apego por ele com a consciência que ninguém em sã consciência compra um moletom novo da faculdade no quarto ano, eu acabei optando por pagar pelo zíper novo mesmo, que acabou vindo na cor azul já que os zíperes metálicos estavam em falta no lugar.

Acabou que eu já não uso tanto meu POLISTER pra cá e pra lá como antigamente, o moletom que mais uso agora é o verde com gola careca que comprei no show da Kaneko Ayano (e é a coisa mais brega da história da humanidade), o moletom da Poli virou meio o que ele tava sendo no Japão: pijama e roupa pra sair pro supermercado.

O moletom POLISTER anda perdendo espaço no gosto politécnico pelo modelo que a Atlética lançou uns dois ou três anos atrás, que é bem mais aquele template de moletom universitário americano: escrito POLI USP, símbolo da Atlética e o famoso EST. 1893 (que é o ano de fundação da Poli e não da Atlética, mas enfim). Antes do moletom que eu tenho, o modelo era baseado nos da GAP com um enorme POLI bordado no peito, que eu acho até legal mas eu realmente tava atrás de um moletom aberto quando era bixo.

Eu nem sei direito porque fiz este post, já que não vou me desfazer do meu moletom POLITÉCNICA por um bom tempo ainda, mas eu sempre me divirto porque, não importa onde eu vá, sempre haverá um panaca usando um moletom da Poli, e se não tiver é porque eu sou o panaca usando o moletom da Poli.

vlw flw té mais

sábado, 3 de agosto de 2019

eureka - Kinoko Teikoku

Na moral, Kinoko Teikoku foi a banda dos meus 17~~19 anos e por isso eu reverencio este álbum e o Uzu ni Naru. A real é que a banda acabou e só então percebi como ela foi importante para mim, a Chiaki Sato foi uma das minhas primeiras paixões na música e cara, tá pra nascer alguém que tenha uma voz tão linda quanto a dela.

O álbum é extremamente sólido, desde a primeira faixa que é extremamente pessimista até a bonus track que é uma redenção de todos os erros do eu lírico (e todos os nossos também, por que não?) do álbum, a faixa 5, eureka, em especial é assustadora, uma das melhores composições que já saíram do underground japonês nos últimos anos.

Esse álbum cresceu bastante pra mim, eu já gostava bastante dele desde que ouvi pela primeira vez mas é interessante ver como as composições da Chiaki Sato acompanham a vida dela, imagino que até meados de 2013 ela estivesse numa fase mais pessimista e depois chegou a uma redenção, como na bonus track deste álbum.

A bonus track aliás é a melhor música do álbum, sem ela o álbum inteiro não tem sentido, porque até a penúltima faixa o álbum é um poço de depressão, ódio e remorso e a bonus track já chega falando (numa tradução porca minha) "Cada um está carregando seu fardo, as suas lágrimas podem secar amanhã ou depois, mas finja que esqueceu das noites e dias que não voltarão, e sorria, sorria". Quero dizer, não é uma redenção REDENÇÃO, o que seria impossível visto que o álbum todo foi uma via crucis, mas é um passo pra deixar de lado tudo o que te chateava e não ficar remoendo o passado.

Até eu escutar esse álbum mais seriamente, eu achava que o Uzu Ni Naru era melhor, o que não é mentira se compararmos faixa a faixa, mas eureka é praticamente um concept album no modo como ele é construído.


A transição do Kinoko Teikoku amado pelo povo em geral pro odiado aconteceu na bonus track do eureka, tanto que o EP Long Goodbye tem vibes shoegaze/dream pop mas já é bem menos pessimista que os dois álbuns anteriores, o Fake World Wonderland amplia sobre o EP e ao mesmo tempo que possui a música mais dream pop (e uma das minhas favoritas) da discografia do Kinoko Teikoku: Aruyue, também já tem a passagem deles pro mainstream: Tokyo (produzido pelo Uni Inoue, engenheiro de som da Shiina Ringo), o que veio depois vocês já sabem.


Na moral que pode ser bobagem da minha cabeça isso de ficar dando tanto valor pra bonus track deste álbum mas é no mínimo curioso que um álbum que comece com vocais soturnos amaldiçoando meio mundo termine com dois minutos de LA LA LA LA LA LA num estilo Hey Jude hipster japonês, eu quero pelo menos acreditar na minha grande teoria que essa música foi o ponto de mudança do Kinoko Teikoku, é uma coisa tão simples mas que parece ter tanto significado no contexto que nunca deixo de me surpreender, acho que é um final de álbum tão bom quanto o Souretsu do KZK da Shiina Ringo (que também não deixa de ser uma espécie de redenção).

Aliás, não se engane: Kinoko Teikoku nunca foi uma banda SHOEGAZE, eles sempre foram um indie rock com influências aqui e ali, seja de Radiohead, seja de MBV, mas eles nunca foram shoegaze shoegaze.

Ame a banda pelo o que ela foi, não odeie-a pelo o que ela poderia ter sido.
(Digo isso mas ainda fico puto com os últimos álbuns da banda, relevem).



10/10 na moralzinha, só não boto essa nota no rym porque na minha conta essa nota só pode ser dada ao KZK. Dá pra achar a bonus track no Youtube como "Kinoko Teikoku - hidden track" mas acho que vale bem mais ouvir o álbum inteiro, só a bonus track não tem impacto sozinha.