sexta-feira, 12 de junho de 2020

Shows e pandemia

Além do medo de morte, recessão econômica, guerra, golpe militar ou realmente conseguir me espantar com a notícia na capa do G1 algum dia neste ano, o meu maior medo quanto as consequências do COVID-19 para o futuro são os shows.

Os momentos mais felizes que tive na minha vida foram em shows, ou quase. Óbvio que não estou contando aqui os momentos que passei com meus amigos, mas shows se mostraram a coisa que mais curto fazer sem precisar estar acompanhado. Eu nem estou falando dos shows que fui no Japão exclusivamente, os shows do Libertines e do Oasis foram bem marcantes e mesmo os shows de bandas cover dos Beatles que fui ver com minha família foram bem bacanas, apesar do meu desdém pra bandas exclusivamente cover, digamos que não tava muito fácil ver show dos Beatles vivos.

Pois bem, ontem saíram as diretrizes que os shows devem seguir pra serem realizados no Japão:
  • A banda deve estar a uma distância de 2m do público, se isso não for possível todos os membros da banda devem usar face shield;
  • Os espectadores devem manter distância de 1m entre si;
  • Tem uma orientação do vocalista ficar envolto numa cortina transparente e os outros membros usarem máscaras; 
  • Usar álcool gel antes de entrar na casa de shows;
  • Fica proibido o público CANTAR.
Pois é, isso não é show, que deixassem tudo fechado até a situação se resolver. Quero dizer, no Japão pra bandas mais introspectivas acho que até rola show assim mas não vai ter metade da vibe de show underground, eu fui num show onde o vocalista ficou pelado e se jogou no público, se fosse agora ele ia preso por infligir as regras de higiene. As casas de show no Japão foram totalmente demonizadas por terem sido alguns dos focos de espalhamento do vírus no começo da pandemia lá, acho que a essa altura as famílias estão preferindo que os jovens fossem num puteiro do que numa livehouse.

Minha maior preocupação realmente é que o impacto das normas sanitárias de agora mudem (ou destruam) totalmente a cultura de shows no mundo inteiro, eu sei que muito provavelmente as regras serão flexibilizadas num futuro próximo mas o impacto econômico pode muito bem ser o que faltava pra cultura da música underground ir totalmente pro digital, o que vai ser uma perda inestimável pra cultura. As casas de show grandes, pra artistas já renomados, vão continuar, agora as pequenas que não cabem nem 200 direito e são o berço pra bandas pequenas surgirem estão em grande risco.

Outras iniciativas de arte independente também correm o mesmo perigo: teatros, cinemas e museus pequenos estão todos condenados se a pandemia se arrastar por muito tempo, no Japão algumas iniciativas de crowdfunding (apoiadas por grandes nomes como a Shiina Ringo) estão ajudando esses estabelecimentos a se manterem, além de ter um apoio financeiro bem simbólico do governo pra pagar os funcionários, mas tá tudo muito incerto ainda.

Pode parecer meio egoísta da minha parte me preocupar com show a essa altura do campeonato mas é a mesma coisa que um torcedor que não sabe se vai poder ver um jogo do seu time no estádio da mesma forma que antes ou os caras que gostam de balada terem que adotar a ideia de pegar as meninas usando um face shield, a saúde obviamente é mais importante mas a paixão é o que faz as pessoas terem motivação pra saírem de casa.

Talvez não seja a mesma coisa depois dessa quarentena mas eu indico que vocês vejam pelo menos um show de uma banda que vocês gostem num lugar pequeno. A intimidade e a possibilidade de ir falar com os integrantes da banda depois do show é muito bacana, foi onde destinei boa parte dos meus salários no Japão e tenho zero arrependimentos disso, eventos em geral valem pra vida muito mais que qualquer bem material vai durar. Tentem também ir pra museus e cinemas independentes, são lugares bem interessantes.

Enfim, espero mesmo que tudo volte ao normal eventualmente e eu possa desfrutar de um show underground, um museu e um cineminha, não necessariamente nessa ordem.

Valeu, falou, té mais!

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