quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Meu tesourinho

 Eu sempre tive um fascínio da pessoa ter um BEM MAIS PRECIOSO, um tesouro pessoal. 

"Sabe essa lapiseira? Ela tá com essa tampa amassada porque salvou meu tataravô de uma bala numa trincheira no norte da França em plena Primeira Guerra Mundial!"           

 - Alguém, provavelmente

Eu até herdei umas coisas legais do meu pai, maioria delas obviamente relacionadas a engenharia, mas nunca foi algo que teve muito significado pessoal pra mim porque não tinha nenhuma narrativa folclórica ligada.

O meu bem pessoal pelo qual eu nutria mais carinho é meu canivete suíço, sobre qual já falei num post deste ano ainda, ele não tem um significado maior ou qualquer coisa do tipo mas eu sempre ando com ele na mochila e inclusive foi bem útil em situações que iam desde precisar de uma tesoura pra cortar uma folha de papel na aula de termo até ter que abrir uma lata de creme de leite no Japão. O canivete em si não tem muita história, eu o comprei numa viagem pra Campos do Jordão com minha família depois de ter terminado meu ensino médio mas eu tenho plena consciência que o canivete vai durar mais que eu.

Agora, apesar de eu amar meu canivete, eu não ficaria particularmente DEVASTADO se ele quebrasse ou se eu perdesse ele, já que é uma ferramenta eu meio que tenho plena consciência de que ele deve ser usado e que pode ser eventualmente substituído, então qual é meu bem mais precioso?

Eu gosto muito da minha HQ edição especial da Morte do Sandman e gosto também do meu Kalk Samen Kuri no Hana (famoso melhor álbum das história da humanidade) que minha prima me trouxe do Japão em 2014 mas, novamente, não tem nada de extraordinário nesses objetos, por mais que eu IDOLATRE o KZK falando que ele é a maior obra de arte já feita na humanidade, o objeto físico em si é meramente uma embalagem da obra (por mais que seja uma embalagem instigante) e eu posso muito bem comprar outra cópia caso eu perca a que eu tenho.

Pois bem, algo que eu tenho que tem bastante valor sentimental e que eu considero meu bem mais precioso? Óbvio que vai ser algo que peguei na minha viagem pro Japão.

Meu CD do he(r)art do For Tracy Hyde assinado por (quase) toda a banda veio junto com os CDs que eu considerava mais importantes na minha bagagem de mão, o resto foi na mala despachada, e foi o ÚNICO CD que foi danificado na viagem de volta pro Brasil, a embalagem pelo menos (o crystal case rachou). E ele é um símbolo do que passei no Japão porque os outros dois CDs autografados que tenho (do Hitsujibungaku e do Luby Sparks) foram assinados porque as bandas estavam todas lá juntas na mesinha de merch e era meio que "incluso" no preço do CD os autógrafos. 

No caso do CD do he(r)art eu comprei da vocalista e esperei meu nível de nervosismo abaixar um pouco pra puxar uma conversa (em inglês) com o guitarrista pra ele então ir comigo atrás de (quase) todos os membros da banda pra eu pedir autógrafo, parecia um pai guiando a criança numa festa. Isso tudo e também foi o CD que comprei no meu primeiro show que fui no Japão além da temática do álbum ser centrada em Tokyo, foi nesse dia também que me apaixonei pela cidade. O dia 11 de Janeiro de 2019 estará sempre guardado no meu こころ como o dia que eu me tornei um Tokyoite temporário, apesar de eu ter conhecido só Shinjuku nesse dia, foi amor a primeira vista. 

Quando eu pego meu CD do he(r)art me vem toda a jornada que fiz: de pedir pro meu chefe adiantar minha folga até minha primeira janta em Tokyo que foi um Big Mac que comi na minha cabine do netcafé, me lembro que a primeira pessoa que vi quando cheguei na casa de shows (2h adiantado) foi a vocalista do For Tracy Hyde saindo correndo pra comprar umas coisas na konbini no lado e percebi de repente que aquelas pessoas que eu via tocar na tela do Youtube eram reais.

 

Capa e autógrafos do famigerado.

 

Os únicos poréns dos autógrafos é que um dos guitarristas não assinou (ele tinha vazado mais cedo eu acho) e o baterista que assinou não era o que estava na banda durante a gravação desse álbum em particular, mas na moral que isso não importa, For Tracy Hyde foi a única banda com quem falei dos sete shows que fui no Japão e eu só tinha descoberto eles uns três meses antes de ir pro arubaito, ou seja: se eu tivesse ido pra arubaito em qualquer ano anterior, eu provavelmente não teria ido num show deles e é bem possível que não teria falado com nenhuma banda.

O álbum em si (sobre o qual eu já falei no post sobre a banda) é um tributo a Tokyo, e mesmo que não soubesse disso antes de ouví-lo, depois de conhecer a cidade eu me surpreendi com a capacidade da banda ter conseguido espremer a alma de Tokyo tão bem em pouco mais de uma hora de música, e como diz o título da penúltima música do álbum: Tokyo will find you.

Enfim, eu nem acho que he(r)art seja o melhor álbum da banda, o New Young City que veio depois com certeza é uma evolução musicalmente, mas é uma coisa que tem tanta ligação pessoal comigo que eu nem posso pensar em julgar a obra de forma imparcial, pra mim he(r)art sempre será aquele dia 11 de Janeiro de 2019, quando um jovem Yoiti de 22-quase-23 anos se perdeu e se apaixonou pela cidade mais incrível do mundo.

Ouçam o álbum aqui!

E é isso eu acho? Na moral que eu nem planejei falar tanto sobre o he(r)art já que queria fazer um post exclusivo sobre ele mas miei da ideia e virou o que virou e falei da minha viagem pro Japão novamente RSRSRSRSRSRSRS se foi intencional ou não fica a cargo do leitor.

Pois bem, vlw flw té mais!

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

EMOÇÃO GALERA, EMOÇÃO!

Tem um tipo de música que só existe no underground e é um dos maiores motivos pra eu apreciar tanto o cenário musical não-mainstream japonês: as músicas que conseguem passar emoção de uma forma mais crua.

Pode vir me tacando pedra falando que chora ouvindo sertanejo ou The Killers mas acho que maioria da música que chega no ponto de virar hit acaba sendo esterilizada demais, música de sofrência não tem grito nem choro, o vocalista não desafina cantando EM PRANTOS sobre término, o público não canta o refrão com o fundo dos pulmões, etc.

Eu sei que estou sendo chato, e querendo que toda banda seja basicamente punk, mas acho que é muito bosta você procurar uma música pra sua situação (ainda mais quando for ruim) e ter que se contentar com uma pessoa cantando bem uma letra realmente muito bem escrita mas com zero emoção, poxa, eu quero SENTIR ALGO quando ouço uma música.

Na moral que eu comecei a me importar com EMOÇÃO na música quando ouvi essa aí, a parte depois da pausa (lá por 6:30) é tão crua e mostra o desespero de uma forma tão nua que me assombra até hoje quando ouço, e é algo que a gente nunca vai ver numa música mainstream, apesar da banda sucessora a essa (Midori) ter chegado bem perto de emplacar um sucesso mainstream e Shinsei Kamattechan ser teoricamente mainstream enquanto faz músicas bem pesadas sobre bullying e suicídio.


Esse vídeo mostra porque eu amo Kinoko Teikoku, meu deus, olha a Chiaki Sato cantando quase chorando no final do Yoru ga Aketara (lá pelos 12min) e deveras, é uma música sobre perdoar uma outra pessoa. Eu fiquei puto com a banda justamente porque a música deles ficou muito higienizada, as letras de algumas músicas (Aruyue e Sculpture em especial) são muito boas mas não tinha aquela magia que eles tinham antes, aqueles rough edges que faziam com que todo jovem sem rumo na vida se identificasse com a música deles, mas isso já é passado.


Essa música já é mais pra quando eu quero dar uma alegrada depois de um dia bosta, geralmente eu ouvia Judy and Mary pra esses casos mas essa música do Volleyboys tem esse refrão alto astral que é feito pra ser cantado com uma plateia que anima qualquer um, espero poder ver eles ao vivo algum dia.


Acho que alegria já é algo mais presente no mainstream mas desse jeito? Só a Kaneko Ayano mesmo. As músicas mais alegres do Judy and Mary também são muito boas mas a Kaneko Ayano tem uma aura que nem a YUKI nos anos 90 tinha, e por isso que por mais que ela esteja crescendo bastante ultimamente, não acho que vai chegar no TOPO TOPO das paradas que nem a Aimyon por exemplo, a Kaneko Ayano é muito selvagem pro establishment japonês deixar correr solta.

Tudo isso quer dizer que só gosto de música com gente gritando? Nah. Eu gosto bastante de shoegaze e da Ichiko Aoba em certos momentos, só acho que falta EMOÇÃO no cenário mainstream musical, porra, eu quero chorar ouvindo uma música triste, quero ficar puto ouvindo música pra se revoltar, quero sentir GOOD VIBES ouvindo música feliz, mas é difícil você sentir isso da música se você se restringir só ao que todo mundo ouve.

Acho que é isso, eu queria escrever esse post depois de ter lido um crítico musical falando que ele odeia toe por ser uma banda que tenta se desvincular muito da emoção e acaba parecendo meio insosso, por mais que seja uma busca pela perfeição da forma.

É isso, vou dormir em posição fetal enquanto choro ouvindo Kinoko Teikoku, é pra isso que comprei meus IEMs: pra poder ficar deitado de lado sem ter o perigo dos fones caírem.

vlw flw té mais!