domingo, 26 de fevereiro de 2023

Hot takes sobre música japonesa que ninguém me perguntou

Todo mundo tem teorias esdrúxulas (famosas HOT TAKES) sobre as mais variadas coisas, as minhas são sobre música japonesa, obviamente.

Uma dessas teorias que não foi pensada por mim mas me influenciou a gastar tempo nisso foi de um livro que amo de paixão que é o Quit Your Band! Musical Notes from the Japanese Underground, que é o livro que me deu o pontapé inicial em adentrar no underground japonês. Nesse livro o autor fala que, caso precise apontar um momento pontual, o Kayokyoku virou Jpop depois que o Precious Heart da Seiko Matsuda não conseguiu ser o vigésimo-quinto single seguido dela a ser topo de vendas no Oricon, perdendo pro Gravity of Love do Tetsuya Komuro, o então representante máximo do novíssimo Jpop.  

E essa é uma teoria interessantíssima (pelo menos pra mim) porque pra todo mundo que acompanha Jpop só dos anos 2000 pra cá, Kayokyoku geralmente cai no mesmo cesto que Enka, a diferença mesmo tá no jeito de cantar mais ocidentalizado, já que o uso de orquestras era comum aos dois gêneros, o Kayo mais techno veio quase junto com o Jpop e só foi ser conhecido pro ocidente com outro nome décadas depois: City Pop.

Mas agora indo pras minhas teorias esdrúxulas:

1. O declínio do Japão se acelerou com a morte da Izumi Sakai

Exagero? Eu sinceramente acho que não. Makenaide do Zard é o Tente Outra Vez nipônico, longe de mim querer comparar Zard com Raul Seixas, mas 2007 viu o começo de uma certa transição no mercado musical japonês onde o AKB48 surgia e divas pop se afastavam dos holofotes (no caso a Hikaru Utada depois de lançar o Heart Station em 2008) e vocês sabem minha opinião quanto a grupos 48 né, o maior mal que já surgiu no Japão nos últimos 20 anos.

Mas voltando à morte da Izumi Sakai: o Zard era daquela leva de bandas centradas numa vocalista que surgiram de monte no início dos anos 90: Brilliant Green, Judy and Mary e My Little Lover me vêm à cabeça agora e em 2007 cada uma delas estava de um jeito: Brilliant Green terminou e voltou e acabou virando um projeto da Tomoko Kawase, Judy and Mary terminou em 2001 e My Little Lover acabou perdendo o membro mais importante em 2006: o compositor Takeshi Kobayashi. Enfim, o que isso tudo quer dizer? Nada, só estou falando como tava o cenário na época.

2. O fim do Kinoko Teikoku encerrou o período dourado dos anos 2010 no Underground japonês

O Kinoko Teikoku terminou em 2019 (como vocês podem ler em inúmeros posts meus na época) e isso marcou o fim de um período incrível na música underground japonesa.

No livro que citei no começo deste post, três bandas são elencadas como as principais do cenário underground japonês no final dos anos 90: Number Girl, Supercar e Quruli. Eu concordo bastante com essas escolhas e até botaria outras bandas como o Eastern Youth, mas as três realmente foram as forças motrizes que influenciam o underground japonês até hoje. Number Girl influenciou qualquer banda mais punk/hardcore, Supercar foi mais shoegaze/eletrônico e Quruli era o mais mainstream mas também tinha pegada eletrônica, e por incrível que pareça 9 entre 10 bandas que estão tocando nesta noite num porão de Tokyo vão citar pelo menos uma dessas bandas como influência.

Mas qual seria o trio de bandas mais influentes dos anos 2010? Eu elencaria Kinoko Teikoku, Andymori e Chatmonchy. Kinoko Teikoku com qualquer shoegaze/indie relax, Andymori com rock mais straightforward e Chatmonchy influenciou todo e qualquer power trio feminino que surgiu nos últimos 10 anos.

E em 2019 finalmente a última dessas bandas terminaram.

Sinceramente Kinoko Teikoku estar entre Chatmonchy e Andymori é quase um insulto, porque as duas são absurdamente influentes até hoje, e Kinoko Teikoku tem uma fama (relativa) bem maior fora do Japão que dentro. Mas quero me enganar e PRECISO botar Kinoko Teikoku no panteão de bandas mais influentes da história.

3. Yoasobi prometeu muito e entregou pouco

Acho que o surgimento do Yoasobi e do The First Take são indissociáveis, não dá pra contar a história de um sem o outro, e ambos se beneficiaram absurdamente da pandemia.

Tanto a proposta do Yoasobi como quase sendo uma banda exclusivamente virtual (do ponto de vista de não se apresentar ao vivo) quanto do The First Take de ser meio que uma live mas gravada num estúdio eram interessantes o suficiente para fazer sucesso, a vinda da pandemia poucos meses depois do começo desses dois projetos só potencializou ainda mais o crescimento da popularidade dos dois, num cenário musical que é tradicionalmente focado em shows ao vivo e vendas de CDs físicos.

O The First Take ainda vai bem, obrigado. O canal acabou caindo na graça do público ocidental que queria um gostinho de música japonesa diferente do habitual (leia-se aberturas de anime) e com a apresentação da maravilhosa Hoshimachi Suisei (uma vtuber, e minha kamioshi diga-se de passagem) e com backing da toda poderosa Sony Music, não vejo como o canal dar ruim.

Yoasobi por sua vez também está voando. Se começaram fazendo músicas baseadas em contos publicados num site obscuro, agora estão fazendo música pra anime atrás de música pra anime. Mas putz, eu pelo menos esperava bem mais.

O boom do Yoasobi veio de um movimento gigantesco das net-labels do Japão. Zutomayo, Yorushika, yama e todos aqueles clipes de música extremamente bem animados? Net-labels. E Yoasobi se destacou por mostrarem a cara num cenário dominado por vtubers e vsingers.

Mas enfim, a grande hot take aqui é que o sucesso do Yoasobi era pra ter significado uma mudança de paradigma no que estaria no topo da Oricon, mas não foi isso que rolou e me parece improvável de mudar tão cedo. O Kpop mudou mais os charts da Oricon do que Yoasobi e as net-labels.

4. Outras hot takes que tenho preguiça de explicar

4.1. O Kpop matou os grupos 48 (pelo menos os que seguiam a fórmula original);

4.2. Já foi esclarecido o porquê de muitas bandas (Supercar, For Tracy Hyde, Kinoko Teikoku) de shoegaze do Japão negarem esse rótulo, mas muitas das bandas que negaram realmente não são 100% shoegaze e as que são não fazem sucesso o suficiente pra conseguirem sequer negar;

4.3. Shimokitazawa perdeu a importância nos últimos anos como o trampolim das bandas underground pra serem menos underground depois que as novas bandas aprenderam a se promover na internet;

Enfim, acho que é isso.

Eu notei que só escrevi 12 posts ano passado e com o ritmo que estou escrevendo este ano não vai ser muito diferente hmmmmm... Pior que material pra post não faltou ano passado né, puta que pariu eu tava zicadaço do meio pro fim de 2022.

Also, já é o terceiro post seguido que é sobre música japonesa, vou tentar escrever algo mais fácil de digerir na próxima.

vlw flw té mais!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

27 anos

Hoje fiz 27 anos.

Eu tenho um exercício mental que faço desde que fiz 21 anos: em todo meu aniversário eu vejo o que a Shiina Ringo estava fazendo com minha idade.

Com 21 anos no caso ela fez o primeiro álbum: Muzai Moratorium.

Com 25 anos ela fez a maior obra de arte já concebida pela raça humana: Kalk Zamen Kuri no Hana, mas na época eu errei as contas e tinha achado que ela tinha 23 anos.

E com 27 ela, já no Tokyo Jihen, fez o Adult.


Adult, na minha opinião, é o melhor álbum do Tokyo Jihen. Por mais que a formação original com o Hirama e o HZM fosse DO CARALHO, o Ukigumo e o Izawa não fazem feio também, apesar dos haters da Phase 2 dizerem o contrário. A maior prova que a Phase 2 era boa mesmo foi o álbum de 2010: Sports, porque o que veio depois do Adult (Variety) é uma merda mesmo.

Mas enfim, Adult e os shows da turnê do álbum (Just Can't Help It) são incríveis de bom. Foi nessa época que os shows começaram a ficar mais teatrais com mudança de roupa e tudo mais, e foi quando o Tokyo Jihen começou a explorar mais sons fora do Rock straightforward que era o característico do primeiro álbum deles: Kyouiku.

Então como estava a Shiina Ringo aos seus 27 anos? No auge.

Não me leve a mal, mas na minha humilde opinião de 1999 (Muzai Moratorium) até 2010 (Sports) a Shiina Ringo era IMBROCH- imparável. Qual foi a pior coisa que ela soltou ali no meio? O Variety, e convenhamos que foi porque a ideia do álbum era justamente não ser mais uma coisa feita por ela e o Kameda. Até o Heisei Fuuzoku e o Sanmon Gossip são obras incríveis dada a época e as tendências.

Ok, eu forcei aí no meio em dizer que a Shiina Ringo em 2010 estava ainda no auge, mas em 2006? Auge sem sombra de dúvida.

Esse ano eu fiz diferente e peguei outras duas cantoras bem emblemáticas (pra mim) pra também entrar nesse paralelo:

A Mariko Goto, vocalista do Midori, com 27 anos em 2009 tinha acabado de lançar o icônico Aratamemashite, Hajimemashite, Midori desu.:


A Kayoko Yoshizawa com 27 anos em 2017 lançou o melhor e mais bem produzido álbum de Jpop da segunda metade dos anos 2010: o Yaneura Juu:


Acho que são casos bem distintos, o Aratamemashite é claramente um esforço massivo do grupo que era a banda Midori. Não tirando qualquer mérito da Mariko Goto, que ainda se mantém como uma das pessoas mais influentes do underground japonês, mas a banda era extremamente talentosa também.

A Kayoko em 2017 vinha de uma série de EPs e dois álbuns de Jpop inofensivo e surge com uma caralhada de músicos experientes e extremamente talentosos tipo o Hama Okamoto e solta o melhor álbum mainstream já lançado nos últimos anos no Japão.

Os álbuns da Kayoko desde o Yaneura Juu aliás são sempre baseados numa colaboração com um músico talentoso em algumas faixas-chave: esse álbum de 2017 tem o Hama Okamoto na primeira faixa, o próximo álbum já tem o Izawa (do Tokyo Jihen) numa faixa e o último álbum lançado em 2021 tem uma participação maravilhosa do GENIAL Ohzora Kimishima em duas faixas.

Mas enfim enfim enfim, se me deixar eu vou ficar falando de música japonesa até amanhã. 

Veremos o que farei com 27 anos não é mesmo?

Spoiler: não vai ser um Adult ou um Aratamemashite ou um Yaneura Juu, infelizmente.

vlw flw té mais!