domingo, 23 de junho de 2019

Japanese food is comfort food

Faz tempo que não falo de comida aqui, é hora.

Uma coisa que só descobri depois que comecei a falar mais com mais nipo-brasileiros é que a gente tem uma relação muito particular com a comida. Eu nunca vi gente discutindo como gosta de preparar o feijão, mas outro dia me peguei falando com um amigo sobre o quão úmido o arroz japonês deve ser para estar num ponto perfeito.

E a comida que o japonês (e por consequência os descendentes também) comem geralmente é bem diferente do sushi/sashimi que está tanto em vogue nos últimos anos. Não vou entrar no mérito de que geralmente eu como comida brasileira mesmo mas a comida que mais me dá conforto é o arroz grudadinho com uns side dishes e misoshiro.

E é uma coisa que "aprendi" lendo Shokugeki no Soma, e por isso não sou 100% confiante que se trata de uma informação correta, mas a culinária japonesa tenta sempre destacar o máximo possível o sabor do ingrediente base, por isso não usa muito de temperos e combinações esdrúxulas. Você pode até contra-argumentar falando do uso excessivo de miso, shoyu e sake/mirin EM TODO SANTO PRATO mas esse sabor de dashi é algo que nem levo em conta mais, só tá lá mesmo.

Comida japonesa tem sabor bem fraco, tudo no Japão tem sabor fraco (tirando talvez o curry, mesmo assim nem se compara com o curry indiano obviamente), até os doces são menos doces, os salgadinhos são menos salgados e as frituras são menos pesadas pro estômago e isso não é ruim, cara. A comida japonesa tá naquele limiar de não tão fraco pra ser comida de hospital e nem tão forte pra ser comida de boteco, A COMIDA JAPONESA É BOA DEMAIS.

Comi quilos e mais quilos de arroz e curry e docinhos (tipo o choco pie) e gyozas e tako yaki congelado e aquela salsicha pequena que cortadinha tem formato de polvo e etc etc etc e emagreci 15kg em três meses. Obviamente que eu tava trampando e tudo mais mas a comida no Japão é saudável até certo ponto, certo ponto sendo: não comendo tempurá toda semana. Acho que a única coisa que eu botaria a mais na minha dieta no Japão era um pouco mais de proteína, isso era suprido lá pelas refeições que eu fazia na fábrica mas um pouco a mais não faria mal.

Eu tava até lendo que agora mais da metade dos japoneses adotaram o costume de comer pão ao invés de arroz no café da manhã, eu nem posso falar meu posicionamento quanto a isso porque nunca comi arroz de manhã por mais de dois dias seguidos, e foram dias que comi resto de curry da janta passada.

Por questões financeiras e comerciais eu acabo comendo comida brasileira na maioria das minhas refeições. Arroz, feijão, alguma proteína e algum side dish, seja em casa ou no bandejão, essa é minha refeição usual. Mas o arroz japonês... o arroz japonês é a coisa mais genial já feita.

Bota na panela elétrica e (não cagando na quantidade de água) aquela merda se cozinha, sem tempero, sem caralho nenhum, bota lá aquela merda e uns 45min depois tá pronto BAM! tá aí.

E você tá em casa, só o arrozão, o que comer?

  • Bota chá verde no arroz e bota o que tiver de tsukemono na geladeira: cê já tem um ochazuke.
  • Bota furikake nessa porra: arroz com furikake, um clássico.
  • Bota num misoshiro ou numa sopa Vono que seja: melhor que qualquer canja na HISTÓRIA.
  • Bota um ovo cru e shoyu: TAMAGO KAKE GOHAN.
  • Faz um miojo e taca o arroz: isso provavelmente vai te matar mais cedo mas vai te sustentar mais que o miojo só.
  • Frita o gyoza e come com o arroz: O DOBRO DE CARBOIDRATOS PELA METADE DO PREÇO.
  • Frita o arroz na frigideira com o resto de tudo na geladeira, uns ovos e shoyu: YAKIMESHI!
  • Simplesmente bota sal e faça bolinhas: ONIGIRI, PORRA. 
Enfim, eu posso ficar o dia inteiro aqui falando formas e mais formas de se apreciar um bom arroz japonês mas acho que já defendi meu ponto: é a coisa mais flexível possível de se ter, e o melhor: que dá um trabalho mínimo pra se preparar. Meu maior problema com o arroz japonês é lavar a panela depois, mas isso já é preguiça minha.

Outra coisa que é pouco apreciada é que comida japonesa (os pratos quentes pelo menos) é pra ser apreciada com um chawan numa mão e os hashi na outra, é absurdo a eficiência disso e nego comendo com o chawan de gohan na mesa fazendo deus sabe o quê com a mão esquerda.

Agora se eu conseguiria viver pro resto da minha vida comendo comida japonesa? Se fosse pra escolher um tipo de comida acho que sim, mesmo que a comida brasileira em particular tenha uma variedade enorme, comida japonesa é o caminho pra casa, é o que me dá conforto. E acho que nisso que muito restaurante japonês de donos ocidentais acaba errando: eles acham que a comida japonesa precisa ter a mesma quantidade de sal/tempero que a comida ocidental, não, só não.

Quer ver se um restaurante japonês é bom? Pede um misoshiro. 
É infalível, se o misoshiro tá cagado, tá tudo cagado. 

Acho que tem gente que acha que misoshiro precisa ter a concentração salina de uma sopa Vono, não é possível. Nesses lugares geralmente o chá verde também tá parecendo suco Tang. Sinceramente, até eu consigo fazer um misoshiro sem cagar na proporção de água/misô, não é difícil.

Eu nem tenho muito o que falar sobre sushi porque não sou muito fã, eu até gosto de comer uma vez por mês e tal, mas pra mim as refeições têm que ser quentes, mas isso já é bem gosto pessoal.

Você que come sushi e fala que gosta de comida japonesa, você mesmo! Vai comer oden, vai comer tsukemono, vai comer udon, vai comer nikujaga, vai comer curry, vai comer soba, vai comer a verdadeira comida japonesa, sushi é overrated.

Comida japonesa é prática, fácil de cozinhar, se requentada mantém o sabor decentemente, ingredientes fáceis de se encontrar (se você morar na Liberdade hehehe) e é a coisa mais homemade possível. Chá sem açúcar também é bom, pau no cu da Lipton.

Enfim, eu estou viciado nos vídeos da Okana Nanako desde que estava no Japão e isso me influenciou pra fazer este post, vai lá ver.

vlw flw
té mais

sábado, 15 de junho de 2019

Setagaya

De todos os lugares que fui na minha breve visita ao Japão, posso dizer com propriedade que o lugar que mais amei foi Setagaya.

Setagaya é um dos bairros de Tokyo... ou algo assim. Na moral que Tokyo é uma província ao mesmo tempo que uma cidade, então os ditos "special wards" possuem meio que autonomia de cidade ao mesmo tempo que tamanho de bairro... ou algo assim. Setagaya é um desses special wards de Tokyo, assim como Shibuya e Shinjuku por exemplo, mas também abriga subdivisões que seriam os bairros de verdade (no ponto de vista de autonomia) como Shimokitazawa, que é meu lugar preferido no mundo.

Isso tudo aconteceu no dia 6 de Março, um dos meus últimos dias no Japão.

Eu comecei meu dia saindo de Tsukuba (onde eu tava então hospedado) bem cedo, e depois de uma caralhada de baldeações (do Tsukuba Express desci em Akiba pra pegar a Yamanote-sen, depois desci em Shibuya pra pegar a Toyoko Line pra finalmente descer em Jiyugaoka pra pegar a Oimachi Line) eu fui pro meu primeiro destino: Todoroki.


Parece que essa ponte era antiga pra cacete, fica bem na entrada do vale de Todoroki.

Todoroki tem o único vale com vegetação densa no perímetro urbano de Tokyo, lá na entradinha tem um termômetro que comparava a temperatura na rua e no vale (que tinha o acesso através de um lance de escadas, o vale era uns 2°C mais frio que a rua), dessa entrada que era mais próxima da estação Todoroki (da linha Oimachi) até o fim do vale (que dava num templo) dava um pouco mais de um km de caminhada, como o ar lá era mais fresco que o da cidade, foi uma caminhada bem agradável. No meio da trilha tinha um sítio arqueológico, mas acho que tudo o que tinha pra ser descoberto já tinha sido tirado de lá.

Seguindo de volta pra estação passei num mercado bem alto padrão no lado da entrada do vale, tinha uma vibe bem St. Marché, onde comprei um delicioso chá de Rooibos, um onigiri e umas balas, o preço não era muito diferente do praticado nas konbinis.

Peguei a linha Oimachi até o final e desci na estação Futako Tamagawa.

Acho que é a linha Den-En-Toshi, sobre o Rio Tamagawa

Foi o lugar em Setagaya que menos curti, ao redor da estação tinha um Shopping Center/Conjunto Residencial ENORME, tanto que demorei meia hora pra achar a porra do Rio Tamagawa que era no lado e é mais enorme ainda, olha essa porra. Eu vi no meu guia de Setagaya que tinha um ramen famoso perto que era servido com um Ayu (peixe seco, não manjo o nome em português) inteirão, só que chegando no lugar a fila TAVA ENORME TAMBÉM, naipe Aska mesmo e só com pessoal que parecia bem local, ou seja: atestado de que o lugar era bom mesmo. Acabei miando de comer lá porque eu tava quase morrendo de fome e tava com pressa de ver tudo o que queria em Setagaya, passei num KFC perto da estação e meti pra dentro os frango frito.

Peguei o trem na Den-en-Toshi até Sangenjaya PORQUE EU TINHA QUE VER O BAIRRO QUE O PROTAGONISTA DO PERSONA 5 MORA.

Yongenjaya pros otakus de plantão.

E depois de ficar quase uma hora perdido, ter dado umas cinco voltas no quarteirão atrás das localizações do Persona 5, finalmente notei que tava num lugar incrível. Sangenjaya é um bairro residencial, um bairro que você encontraria em qualquer lugar, mas eu amei aquele bairro. Eu acabei encontrando as localizações do Persona 5 e foi a cereja do bolo, andei por umas duas horas no bairro e imaginei a minha vida morando lá, é realmente um lugar encantador ao mesmo tempo que é a coisa mais normal do mundo, das lojas de tsukemono aos supermercados/hortifruti cada vez mais escassos no perímetro urbano de Tokyo e a total tranquilidade de um lugar que parece não ter sido encontrado por turistas inconvenientes, Sangenjaya é um lugar que quero voltar.

Terminada minha andança por Sangenjaya eu queria muito pegar o bondinho da linha Setagaya (uma das duas únicas linhas de bondinho no perímetro urbano de Tokyo), então fiz isso e desci na estação Miyanosaka pra ver o templo Gotokuji e o Templo Setagaya Hachimangu.

Uma caralhada de Maneki Neko em Gotokuji, o menorzinho era vendido por 500JPY.

É uma boa andada até o Templo Gotokuji, ainda ficava bem no meio de um bairro bem residencial (mais que Sangenjaya) então foi meio osso de conseguir achar o local. Chegando lá não tinha muita coisa pra ver, tinha uma caralhada de Maneki Neko porque pelo visto o dito cujo foi criado lá e eles vendiam os bichos por preços exorbitantes, eu tava bem tentado a comprar um mas me contive. Dei uma olhada no templo e acabei vazando pra estação de volta, no caminho passei pelo Setagaya Hachiman mas o monge não tava lá pra vender os omamoris e perdi a chance de ter uma lembrança com algo escrito Setagaya, triste. Ainda no lado da estação Miyanosaka tinha um vagão antigo da linha Setagaya, como o estofado era renovado acho que o pessoal ia lá pra descansar.

Como eu já tinha meio que visto quase tudo o que queria ver em Setagaya e era 14h ainda, decidi voltar duas estações na linha a pé pra tirar foto da estação Setagaya.

Uchuu Nippon Setagaya - Espaço Sideral Japão Setagaya

Foi uma boa andada, eu tinha subestimado a distância entre as estações da linha Setagaya já que era um bondinho e o tamanho da linha era de 7km só, mas foi uma boa caminhada de uns 30 minutos. Eu queria tirar foto com um lugar escrito "Setagaya" porque um dos meus álbuns favoritos é o "Uchuu Nippon Setagaya" do Fishmans.

Eu acabei pegando a linha Setagaya novamente até a estação Yamashita, de lá fiz uma baldeação pra estação Gotokuji da linha Odakyu, parti então pra Shimokitazawa pela segunda vez na minha estadia no Japão.

Enterre meu coração em Shimokitazawa.

Lá em Shimokitazawa eu dei uma andada por uma parte que não tinha ido antes (lá pelos lados da Zoff e de outras óticas hipsters) e parei pra comer numa rede de lanchonetes que não tinha experimentado ainda (a Freshness Burger, bem melhor que o Mos Burger) e pelo preço os hamburgers são muito bons, a porção de fritas tava bem boa também, parece que a Freshness se promove como uma rede que usa exclusivamente produtos orgânicos, não que eu me importe muito com isso mas pelo menos tava bom.

Acabada a andada por Shimokita, eu acabei pegando a Odakyu de volta pra Shibuya, baldeação pra Yamanote-sen e desci em Akiba pra dar hora e comprar algumas otakisses, depois embarquei no Tsukuba Express de volta.

Setagaya me encantou de começo a fim, me imaginei morando em Sangenjaya, trampando num dos escritórios nos maciços prédios em Futako Tamagawa, dando caminhadas matinais em Todoroki e passando o fim de semana caçando shows pra ver em Shimokitazawa. Eu fiquei umas 7h andando por Setagaya e foi o melhor dia que passei no Japão (que não fui pra show). Não recomendo pra todo mundo ir pra Setagaya, acho que eu gostei porque eu fui pra lá procurando justamente o que o bairro é: um lugar aconchegante, longe do caos de Shinjuku e dos milhares de turistas em Shibuya e Harajuku, apesar de Shimokitazawa já estar sendo invadida por turistas.

Espero um dia voltar pra comer o ramen com ayu que não comi, espero um dia voltar pra tomar um café nas margens do Rio Tamagawa, espero um dia voltar pra comprar o omamori que não consegui comprar no Hachimangu, espero um dia voltar pra comprar hawasabi em conserva na loja de tsukemono em Sangenjaya.

Espero um dia voltar pra esse lugar que na minha primeira visita já se mostrou mais aconchegante que minha terra natal.

Espero um dia voltar para Setagaya.