sábado, 13 de julho de 2019

Blue Period

Isso vai ser uma review de um mangá... eu acho.

Acho que nos meus 23 anos e alguns meses de vida, poucas pessoas que conheci podem ser realmente chamadas de "apaixonadas". Acho que tem muita romantização pra falar que alguém é apaixonado por algo, ainda mais por um ofício.

Yataro Yaguchi é o seu típico estudante de ensino médio, ele anda com os "delinquentes" mas também se esforça e é o segundo melhor da turma em notas. Toda semana Yaguchi sai pra ver um jogo de futebol e beber com os amigos, e em um desses dias ele nota como a paisagem em Shibuya é bonita ao amanhecer.

Enquanto isso na escola, Yaguchi e seus amigos pegam a eletiva de artes (por ser coxa) e a professora pede pros alunos desenharem a paisagem favorita deles, o Yaguchi logo desenha Shibuya ao amanhecer e enquanto pinta a paisagem ele fala "por que não comecei a desenhar antes?".



Nosso protagonista então recebe alguns elogios aqui e ali e então decide desenhar mais para ter uma opinião da professora, "como posso melhorar?", "quais técnicas devo usar?", "por que eu devo ir para uma faculdade de artes se posso manter a arte como hobby?" e "professora, você acha que consigo entrar numa faculdade de artes?". A professora fala que ela não sabe mas "quando as pessoas esforçadas fazem o que amam, elas são imparáveis".



Yaguchi logo decide entrar no clube de artes para se dedicar a entrar na Univerdade de Artes de Tokyo, a única pública no país (já que a família dele não tem condições pra pagar uma particular) e a mais concorrida também. E aqui tá uma das minhas páginas favoritas dos primeiros capítulos do mangá.


"Ah, eu nunca me senti tão vivo antes", eu achei simplesmente demais o ímpeto e a incerteza que fazem com que o protagonista se sinta vivo como nunca antes, a maneira como o mangá mostra a transformação de um cara que encarava tudo simplesmente como "quests de um rpg" pra uma pessoa totalmente apaixonada em dois capítulos é genial.

Eu pulei uns detalhes mas os primeiros capítulos são praticamente isso: um cara que tem notas boas, é popular na escola e tem tudo pra poder entrar em (quase) qualquer universidade pública do Japão que acaba achando a sua verdadeira paixão. Depois o mangá foca no Yaguchi aprendendo técnicas de pintura e também a aceitação da família com o sonho dele, também tem uns personagens secundários que são bem interessantes, o mangá não parece perder a qualidade tão cedo assim.

E acho que esse foi o mangá que li que mais me fez pensar (tirando talvez Oyasumi Punpun). Eu sei que o mangá é ficcional, mas acho que nunca tive esse ímpeto de fazer as coisas sem ter certeza de que elas darão certo, indo pelo sentimento de paixão apenas, e acho que poucas pessoas passam por isso.
 
Acho que o mais próximo que tenho de paixão é o cenário musical underground do Japão, afinal eu me sujeitei a meses de trabalho braçal e fui pra um país onde eu mal sabia a língua só pra ir nos shows, mas tenho um certo receio de mergulhar de corpo e alma nisso.

Eu não faço ideia se nas faculdades de arte tem mais gente apaixonada pelo que estuda, mas se eu conheci na Poli mais de 5 que eram apaixonados pelo curso, acho que é muito. E é nessas horas que lembro de um livro sobre o cenário musical underground do Japão ("Quit Your Band! Musical Notes from the Japanese Underground"), escrito por um inglês que tem uma gravadora lá, ele fala basicamente que é comum ver artistas medíocres darem certo enquanto verdadeiros talentos acabam falhando, trabalhar com música no Japão (ainda mais underground) é um trabalho de amor.

Trabalhar com sua paixão pode ser incrível no papel mas pode também fazer com que você nunca mais goste daquilo que amou outrora, lendo o livro que citei eu tive vários choques de realidade, vi que as coisas não são só flores pras bandas underground e que o que me machucou de ter visto o Kinoko Teikoku ter acabado seria muito pior se eu tivesse trabalhando com eles.

E acho que é meio que o dilema que todo jovem tem, trabalhar com sua paixão ou deixar aquilo como hobby? Será que se você consegue deixar o negócio como hobby, é realmente uma paixão ou só uma coisa que você gosta? Acho que mais que gente que não trampa com a paixão, maioria nem achou o que realmente ama ainda.

Enfim, voltando um pouco ao mangá: A arte é muito boa e dá pra perceber que o artista teve uma educação formal em arte, o modo como ele brinca com as expressões faciais e o formato do rosto dos personagens é bem legal, além das páginas coloridas que sempre apresentam um estilo diferente de pintura.

Blue Period realmente é muito bom, o melhor mangá que peguei pra ler nos últimos dois anos. Recomendo até pra quem não é familiarizado com mangás e tá procurando coisa pra acompanhar, as atualizações agora estão dependendo mais da velocidade dos fansubbers, a tradução tá no terceiro volume enquanto no Japão o último volume lançado foi o quinto, mas a espera sempre vale a pena.

10/10

2 comentários:

  1. Adorei suas colocações sobre o mangá! Até hoje não tinha visto nenhum brasileiro falando sobre e nem encontrado em português, o que acho meio triste, é uma obra maravilhosa e como cê disse apaixonante! Enfim, o problema é somente a espera que se prolonga mais do que eu gostaria também, mas ainda assim muito obrigado por escrever sobre ela :) mesmo!

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    1. Fico feliz que você tenha gostado do post! Lendo agora o post de novo eu vi que escrevi bem mal algumas partes e não fiz justiça a esse mangá que tanto gosto. Um dos meus sonhos é a Panini publicar Blue Period no Brasil, pode até pensar meio alto mas acho que o mangá se encaixaria bem no perfil de apostas que eles fazem geralmente.

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