Quero dizer, posso falar de como admiro o Ronaldinho e o Keisuke Honda mas eles definitivamente não são heróis pra mim, o Marechal Tito da Iugoslávia (e qualquer outra figura política) é controverso demais pra eu chamar de herói e o Nikola Tesla foi foda, realmente, mas nada pra ser chamado de herói.
Sobrou quem? Óbvio, ela: Shiina Ringo.
Você leitor do blog tava vendo essa chegar de longe, de quem mais eu falo tanto por aqui? Mas enfim, quando eu comecei a ouvir a música da senhorita Ringo eu realmente considerava que ela era o maior gênio que já surgiu na história da música, o terceiro álbum dela SEMPRE me surpreende, não importa se eu já o ouvi mais de 50 vezes do começo ao fim, acho que é uma coisa que nunca vou me acostumar.
Mas a questão é: a Shiina Ringo é humana, ela erra, o último álbum dela foi uma merda e como nós ela também precisa trabalhar pra botar comida na mesa, por isso fica fazendo jingle pra campanha publicitária aqui e lá. Apesar disso tudo ela é ainda a coisa mais próxima de "herói" que tenho.
Depois de dar como certa minha ida pro Japão eu fantasiei várias vezes como se daria meu encontro com a Shiina Ringo em uma loja de conveniência em Tokyo ou no Duty Free do aeroporto de Narita, óbvio que eu sei que isso tem tanta chance de acontecer quanto eu trombar com o Chico Buarque no Suki-Ya da São Joaquim, mas o pensamento sempre me diverte.
Pra começo de conversa: eu gostaria de encontrar com a Shiina Ringo? Apesar dela ter feito várias músicas ruins ultimamente, eu e todo o resto do pessoal que curte o material antigo sabe que ela tá fazendo isso pra juntar uma grana, música avant garde é legal e tudo mais mas não dá muito dinheiro. Mas o que eu falaria? "Tira uma foto comigo?" Ou "Autografa essa nota fiscal que tenho na carteira com essa bic que achei no bolso do meu casaco?" Ou ainda "Como você conseguiu fazer o Kalk Samen Kuri no Hana?" Seja qual for, eu não acho que alguma dessas frases deixaria alguém feliz, ainda mais a Ringo que não é muito chegada em interagir com fãs.
E aí que tá: eu nunca imaginei que a Shiina Ringo fosse uma pessoa legal ou agradável, toda a obra dela reflete uma pessoa no mínimo egocêntrica, egoísta, que ao mesmo tempo quer total controle da obra mas também sabe que não pode fazer tudo sozinha. Ela sabe cantar, tocar guitarra, baixo, bateria, teclado, instrumentos tradicionais japoneses e também sabe produção musical, mas sobretudo ela sabe que tem gente melhor que ela e que orgulho não leva a uma obra melhor.
A imagem da senhorita Ringo que tenho na cabeça é isso: uma pessoa egoísta mas a definição clássica de artista, que pode sacrificar o orgulho para criar uma obra melhor e com um talento que aparece no mundo a cada década no máximo. Ela também quase nunca pisa fora do reino da música, nenhuma declaração política e em raras entrevistas ela mostra sua visão sobre o papel da mulher na sociedade japonesa, mas sempre deixando claro que muito do que fala só se aplica a ela, como quando falou que deixou de se importar com a opinião de homens depois que teve um filho, o que acho uma pena, uma figura da estatura dela podia provocar a mudança que a sociedade japonesa anda precisando. Eu posso estar errado? Óbvio, tudo que escrevi acima não passa de suposição, mas é o que temos.
Voltando pra pergunta: eu gostaria de conhecer a Shiina Ringo? Mesmo levando em conta tudo o que escrevi acima eu acho que sim, até certo grau eu sei separar a obra do artista (certo grau sendo: se ela não for pau no cu que nem o Morrissey tá sussa) e também eu já meio que espero que ela seja uma pessoa um pouco mesquinha, que ela não se importa com os fãs eu já tenho certeza, então não acho que me decepcionaria tão facilmente com a personalidade que fosse dela, afinal ela criou o Kalk Samen Kuri no Hana, o que mais posso exigir de um ser humano?
Eu só queria agradecer à Shiina Ringo, do fundo do meu coração, pela obra que fez. Acho que nenhuma obra de arte, seja mangá, anime, filme, livro, game, etc. me inspirou tanto quanto o Kalk Samen Kuri No Hana, e ela fez o álbum com 23 anos! Eu vou fazer 23 anos daqui sete meses e sequer estarei perto de me formar, eu sinceramente não faço ideia do que ela pensou quando terminou de editar a última música do KZK.
Acho que eu perguntaria pra ela: "E depois de você conquistar seu sonho, de fazer a sua magnum opus, o que vem depois?" Tentar superar a obra que você tem certeza que foi a maior que poderia ter feito? Achar novos objetivos de vida em situações mais mundanas? Continuar no ofício pra tirar uma graninha? Se aposentar por saber que nunca vai superar o seu "eu" de 23 anos? Acho que outros exemplos podem ser citados aqui pra falar o que poderia ser feito:
- James Joyce foi ambicioso e escreveu Finnegans Wake depois de ter feito Ulysses, conseguiu fazer uma obra mais incompreensível que a anterior mas não superior;
- Momoe Yamaguchi decidiu se aposentar com 21 anos (VINTE E UM ANOS) depois de uma carreira de sucesso como cantora e atriz, depois de ser a maior idol do Japão na década de 70 e de ter feito até uma rock opera ela decidiu que queria mesmo é ficar de boa e curtir a vida com a grana dos copyrights, can't blame the woman;
- Haruomi Hosono, depois de criar o maior álbum da história do rock japonês com a sua banda Happy End, decidiu mudar de rumo e montou a Yellow Magic Orchestra pra lá fazer o maior álbum de Synthpop do Japão;
Mas enfim, mesmo que eu pergunte pra Ringo-san o que fazer depois de terminar sua obra prima, eu já sei que depende muito de cada um e que não há uma resposta certa, a Shiina Ringo montou uma banda logo depois do terceiro álbum pra mudar o rumo do som que ela fazia, depois decidiu fazer grana compondo jingles pra campanhas publicitárias. Eu não julgo ela, eu mesmo mudaria meu ofício para tirar uma grana a mais pra ter uma aposentadoria mais tranquila, música experimental é legal e tudo mais mas não dá grana.
E na moral? Se a Shiina Ringo me chutasse no saco e mandasse eu me foder, eu ainda idolatraria a mulher, sepá eu até passaria a idolatrá-la ainda mais.
Enfim, as fantasias e divagações estão indo um pouco longe demais.
Por hoje é só galera, vlw flw té mais!
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