quarta-feira, 1 de julho de 2020

Afinal, o Yoiti é otaku?

Acho que a minha vida social inteira pode ser resumida em dois modos de operar: assumir ser um otaku sem qualquer pudor e esconder que sou um otaku com todas as forças possíveis.

Putz, minha trajetória nos animes já tá fazendo aí seus 20 anos, frequentei por um bom tempo as comunidades de anime no falecido Orkut e fui em uns 4 ou 5 Anime Friends e eventos correlatos (tipo a Comix Fest), mas acho que nunca me declarei otaku.

Otaku é a ""tribo"" odiada por mais tempo nesse Brasilzão, tirando aquelas por motivos ideológicos e tudo mais, otaku já é execrado desde os idos do começo dos 2000, quando essa coisa realmente começou por aqui nos primeiros grandes eventos de anime e comunidades online. Os Kpoppers não existiam na época, os emos não existem mais (no mainstream) e o funk se tornou tão popular que funkeiro já deixou de ser estereótipo, mas os otakus continuam aquela coisa do começo dos anos 2000, com bottom na mochila, camiseta preta de anime, acessórios de gosto duvidoso comprados na Liberdade e uma falta de noção que me fazia ter vergonha alheia toda vez que os via no trajeto do metrô pra minha casa.

Mas eu nunca cheguei a ser esse tipo de otaku que fica na muretinha da estação Liberdade, tive só uma camiseta preta de anime (do Death Note... eu tinha 12 anos glr) que usei em umas duas ocasiões, e nunca botei bottoms de anime na minha mochila, nem correntinha ou nada do tipo. Mas eu sempre senti vergonha alheia quando via o pessoal otaku OTAKU fazendo bosta na Liberdade e sempre fiz questão de não ser esse tipo de gente que só consome anime, mangá, games e, quando muito, doramas e filmes japoneses, tem mais pra vida além disso.

Então eu decidi que ia dividir bem o Yoiti otaku do Yoiti normal. O pessoal fora do meu círculo imediato de amigos sabia que eu curtia anime mas não faziam ideia do otaku que eu era com a estante cheia de mangás e um vasto número de animes assistidos. E nessa época (do fundamental até meu ensino médio) é bem seguro dizer que os momentos mais felizes que tive foram sendo otaku, os eventos de anime foram divertidíssimos com meus amigos e meus gastos mensais com mangás estavam na casa dos 100 reais, o que pra época dava uns 7 ou 8 mangás POR MÊS.

Mas eu tava nesse período de formação de gosto, ouvia mais música britânica por influência da minha irmã, tinha começado a ler mais livros (maioria sendo de autores americanos) e tava também lendo bastante HQs, não é como se eu tivesse ativamente fugindo das otakisses, mas com certeza era uma das motivações. Assim eu via os animes e mangás meio como uma guilty pleasure, eu tirava foto da minha estante de livros e de HQs e postava no FB mas a de mangás eu só postava em lugares onde só tinha otaku mesmo.

Aí eu comecei a ouvir música japonesa.

Fodasse Oasis, Beatles, Verve, Muse, Arctic Monkeys e os caraio, o negócio é Judy and Mary, Shiina Ringo e Tokyo Jihen.

E a música japonesa virou simplesmente minha PLEASURE, sem guilty ou porra nenhuma, sem dividir Yoitis também, eu fiquei simplesmente fascinado pela música japonesa a ponto de eu falar pra qualquer pessoa que me desse o ouvido do processo de criação do Kalk Samen Kuri no Hana da Shiina Ringo.

Depois eu entrei na Poli, conheci uns otakões e daí foi ladeira abaixo.

Eu meio que me decepcionei com a Poli no quesito otakus porque não conheci um puto que assistia Gundam ou conhecia LOGH por exemplo (aposto que esse pessoal tá na elétrica) mas, por um breve período, eu tentei virar um pouco mais normie e fui em umas festas, mas não rolou.

A grande revelação veio mesmo quando fui pro arubaito e aquilo lá era cheio de otaku, afinal onde mais achar otaku enrustido que numa viagem pro Japão? Mas foi nessa viagem que vi que as otakisses pra mim já estavam no segundo plano e a música japonesa era realmente o que eu amava. O karaoke no último dia lá foi uma das coisas mais legais que fiz, música de anime foi feita pra otaku cantar.

Mas afinal, eu sou otaku?

Eu leio mangá todo dia na minha vida faz uns bons 10 anos, não assisto anime com tanta frequência mas vejo pelo menos uns 3~4 por ano e ah sim, voltei do Japão com um model kit de Gundam, 3 figures, 4 pelúcias de anime e uma caralhada de gachapon. Eu não tenho moral nenhuma pra negar que sou otaku mas também não declaro que sou.

Se for pelo viés da TRIBO eu não sou otaku, já que nunca me vesti como um otaku da Liberdade e nem fiquei nas muretinhas de estação, mas se for pela definição mais clássica japonesa de ser um fã die-hard de anime/manga (anime-otaku no caso) então sou mesmo, olha essas pelúcias:

Com que moral que falo que não sou otaku?

Enfim, eu meio que associava os meus momentos felizes com anime simplesmente porque eu tinha curtido os eventos que fui com meus amigos, demorei pra descobrir que o que fez os rolês serem legais mesmo foram meus amigos, não os animes e mangás necessariamente. Mas ainda devo bastante pros mangás em especial, maioria do meu vasto conhecimento em coisa inútil (e útil também) provém todo de mangás aleatórios.

Apesar de, no Brasil, eu não ser de nenhuma TRIBO URBANA, acho que o pessoal hipster do Japão, que era rato de show que nem eu fui por três meses, era uma galera onde eu me encaixaria bem se fosse japonês mesmo. A forma de se vestir desse pessoal tá entre o bem casual e a streetwear, é uma galera que vai pra show pra curtir, não pra ficar tirando foto e posando em selfie, e era um pessoal bem na deles. Os hipsters ratos de show underground aqui são geralmente tudo conhecido das bandas que tocam nesses circuitos, aí é meio merda essa panelinha toda, além disso a forma de se vestir do hipster brasileiro é mais pra jovenzinho descolado de Shibuya que jovem desleixado de Shimokita urgh. Tudo o que peço pros deuses da moda é que a tendência japonesa de usar roupas folgadas e confortáveis em eventos se torne mundial, minha calça moletom de dormir e minhas camisetas de skatista da Adidas clamam por esse dia.

Hoje eu já posto abertura de anime no meu FB junto com as músicas underground que ninguém se interessa, eu não me importo de ser taxado de otaku e boa parte dos meu colegas de sala já me associam mais pro lado hipster depois das inúmeras fotos de show que tirei no Japão, mas no final eu sou um pouco de tudo e nada também.

Resumo da ópera: pode me chamar de otaku, hipster ou... Shimokita boy? Mas não me chame pra sentar nas muretas da Estação Liberdade usando camiseta de anime e bottoms na mochila.
valeu, falou, té mais!

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