Todo fã ocidental de música japonesa underground começou pela música japonesa mainstream e depois desceu as escadas, quase nunca ele vem de outros cenários underground ocidentais, porque tem muita coisa que você só entende se vier do mainstream e que não faz sentido se comparar com o underground americano por exemplo. E por isso todo fã ocidental de música japonesa é ou já foi otaku, porque anime/mangá é a coisa mais acessível da cultura japonesa pra qualquer pessoa, e a mais viciante.
O cenário underground em Tokyo é dividido em dois: o de Shimokitazawa e o de Koenji, o de Shimokita claramente é mais puxado pro indie-pop e coisas mais "normais" enquanto que em Koenji é mais comum ver o pessoal counter-culture, tipo punk, noise e coisas mais estranhas. É meio que um consenso que o cenário de Koenji é mais autêntico e original, enquanto que Shimokita é mais superficial, mas eu tive pouco contato com Koenji e Shimokita roubou meu coração.
Nem precisa entender pra saber a vibe do filme.
E putz, dói um pouco admitir mas eu tenho um fascínio pela pós-modernidade japonesa que só vendo. Todo filme indie japonês que foca num cara de 20 e poucos anos tendo uma crise de 1/4 de idade e uma desilusão amorosa em Tokyo (você não imagina quantos filmes assim existem por aí) me deixa fascinado, acho que toda essa dramatização do jovem adulto melancólico é uma coisa meio mundial mas nossa, me taca um mano com coração partido andando por Shimokita e um indie pop tocando no fundo e já exclamo "CARALHO! ME IDENTIFIQUEI!" mesmo que eu não more em Tokyo ou nunca tenha tido uma desilusão amorosa
E esse é um problema que eu tenho desde bem antes de ir pro Japão, porque eu mergulhei na música underground desde meu ensino médio, então sempre idealizei a juventude perdida japonesa de estar em uma sociedade pós-capitalista numa cidade ginorme cyberpunk, com uma renda excedente enorme pra gastar em prazeres baratos (shows no caso, não pense em merda) e me desiludir com moças andróginas estudantes de artes.
Eu tenho meio que uma teoria que tem todo um mercado por trás dessa idealização de vida medíocre no Japão, não estou falando medíocre num sentido ruim mas é uma coisa bem diferente do SEJA EMPREENDEDOR E GANHE MILHÕES que é a coisa corrente por aqui, vendo esse trailer que postei (de um filme que nem saiu ainda) não consigo deixar de pensar que eu queria ter um café ou uma loja de roupas/livros usados e viver de boa. No Japão tem o agravante de que emprego de escritório escraviza maioria do pessoal novo e não tem uma disparidade de salários tão alta quanto aqui, então não é muito fora de mão um jovem querer viver de uma lojinha ou um café, mas aqui isso é totalmente impensável pra um jovem de classe média com o mínimo de noção.
Desilusão amorosa? Check! Indie Pop calminho? Check!
Acho que estou falando a mesma coisa de novo e de novo mas é algo que você nota ouvindo indie pop japonês, mesmo sem entender, tem meio que uma melancolia junto com um pouco de romance e a felicidade por pequenas coisas, é basicamente a mentalidade de um hipster de Shimokitazawa. Na moral que você nota que isso é meio que mundial quando percebe que o ideal de vida do hipster japonês parece o enredo de Amelie Poulain.
E eu sei que deve ter uma galera que tem essa vibe por aqui também, assim como no Japão tem festeiro PRA CARALHO, mas Shimokitazawa incorpora tão bem esse ideal de vida morno, meio sem sal e superficial que não há Rua Augusta ou Brooklyn,NY que represente tão bem esse estilo de vida.
Agora você me pergunta se eu queria ter uma vida morna, meio sem sal e superficial? Se eu fosse japonês mesmo eu estaria tentado em dizer sim, mas acho que mesmo essas pessoas têm sonhos que elas sabem que nunca serão realizados por limitações monetárias e coisas assim. Pode parecer legal viver num apartamento de 6 tatamis pra quem vê de fora mas deve dar no saco depois de um tempo.
Mas é, infelizmente não sou japonês e moro no Brasil pra piorar a situação, então o que resta é virar um hipster engenheiro ou um hipster que trampa no mercado financeiro pra ter então minhas desilusões amorosas com moças não necessariamente andróginas ou estudantes de artes. Pra falar a verdade eu amo a Rua Augusta mesmo não sendo baladeiro, frequentador de puteiros ou shows, acho que tem umas partes dela que são bem Shimokita, ou pelo menos suprem minha abstinência por aquele bairro.
Já dizia Jordan Belfort (ou pelo menos o DiCaprio interpretando ele): "Let me tell you something. There's no nobility in poverty. I've been a poor man, and I've been a rich man. And I choose rich every fucking time."
vlw flw té mais!
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