A não ser que você seja da indústria fonográfica (não leia essa palavra errada), é bem provável que eu leve a música mais a sério que você, quero dizer, eu fui pro Japão só pra ver uns shows.
Desde que passei a ouvir música japonesa, eu simplesmente esqueci o que é ouvir uma música de boa. Se eu gostei de uma música EU PRECISO SABER QUEM É TODO MUNDO QUE ESTÁ NELA.
Cantor, produtor, músicos, engenheiro de som, preciso saber onde nasceu e quando nasceu o vocalista, preciso saber quando a banda começou, onde ela começou, em que gênero a música se encaixa, quais foram as influências do artista, o contexto do cenário musical quando saiu o álbum, etc etc etc.
E essa minha obsessão é dificultada pelo fato de eu amar música japonesa underground, a odisseia que foi achar info de bandas como BOaT e Citrus foi quase hercúlea, e no caso do Citrus em particular (que eu só achei uma entrevista, em inglês por sorte, e DUAS FOTOS) isso só aumentou meu interesse pela banda.
Mas é, no mínimo do mínimo, se eu gosto mesmo de uma música/álbum, eu pelo menos vou dar uma fuçada no twitter do artista (se ele estiver ativo) ou faço uma busca rápida no Google pra saber pelo menos o contexto do lançamento.
E apesar da maioria das pessoas tratar música de uma forma secundária se comparada a outros meios (como filmes, séries, livros, etc.) eu acho que é bem recompensador levar a música assim a sério.
Eu tenho um puta preconceito com música muito comercial ou muito "higienizada" que não mostre a emoção por trás de quem a fez, por isso eu não gosto muito de música erudita e daquele jazz mais limpinho. Legal legal, os caras são virtuosos e tocam perfeitamente, mas as pequenas falhas, as quebras nas vozes em refrãos emocionais, os improvisos e erros que fazem a música ter uma alma.
Mas o programa de ir assistir uma orquestra é bacana, até o começo da quarentena era o principal programa familiar que eu participava.
Voltando ao assunto do post: acho que você perde muito se deixar a música simplesmente como algo secundário que você dá uma ouvida quando vai estudar ou pega playlist pronta no Spotify, meu deus, não tem nada mais recompensador que pegar um álbum bem produzido e ouvir de cabo a rabo sem distrações, ou pegar um show BOM e assisti-lo como você assistiria a um filme, ou simplesmente ir pra um show e mergulhar na VIBE que é um bom show, seja ele com um público de 30 ou de 30000.
O Spotify cagou totalmente no mercado fonográfico porque agora música se tornou uma arte secundária. Lançamentos físicos de CDs são raridade fora do Japão, o que é uma pena já que o encarte do álbum é todo pensado como uma forma de complementar a música, acho que muito pouco é transmitido só olhando a arte da capa pela janelinha do Spotify.
Os festivais grandes como o Lollapalooza também contribuíram pra transformação dos grandes shows em eventos puramente sociais. Hoje maioria do pessoal que vai pro Lolla sequer sabe quem vai tocar, só vão lá mesmo pra tirar foto e postar no Instagram, aí entendo como é boa a proibição de filmar os shows no Japão.
A cultura de shows no Brasil é pobre demais na real, assim como a apreciação pela música nacional, se comparada com países europeus ou, obviamente, o Japão.
Sinceramente que entendo quem só ouve música pra estudar e no caminho pro trabalho, mais tempo se dedicando a pesquisar sobre algo não sendo remunerado é tempo perdido, mas é uma coisa extremamente recompensadora você pegar a história da música e ir traçando como surgiu tal coisa e o processo todo até chegar na banda que você tá ouvindo.
Quando ouço Shiina Ringo por exemplo: você pode traçar a influência que ela teve das bandas do underground de Fukuoka (onde ela passou a juventude) como Number Girl e Mo'some Toneblender, como você também pode ver um toque aqui e ali de cantoras antigas como a Hibari Misora ou até influências eruditas como o Debussy. Olhando ainda no contexto do cenário musical japonês do fim dos anos 90 você pode ainda pode enxergar o começo da carreira da Ringo junto com as outras que se tornariam as divas do Jpop: Namie Amuro, Hikaru Utada e Ayumi Hamasaki, e ainda podemos traçar o histórico de divas pra muito antes: na década de 80 tinha a Akina e a Seiko e antes tinha a Momoe e antes disso ainda tinha a Hibari Misora, que foi a primeira diva do cenário musical japonês.
Pra mim ouvir qualquer música é um estudo de história, é prova concreta que tá tudo interligado. Dá pra facilmente ligar a Kaneko Ayano com o Bob Marley ou a Salyu com Debussy.
Acho que um estudo aprofundado em teoria musical e produção também contribuiria pra uma experiência mais bacana no consumo de música, ou talvez poderia tirar a minha diversão também, quem sabe.
Enfim, acho que é isso. Escrevi isso tudo porque me peguei procurando info de show de banda que curti tipo duas músicas, mas meu espírito não se aquieta até eu conseguir enxergar o cara que fez a música pra além do nome dele.
É isso aí, vlw flw té mais!
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