Era o meu maior sonho ir pro Japão e ver os artistas que mais amava de perto. Mas era algo totalmente fora de alcance, as passagens são caríssimas, hospedagem em Tokyo (até onde eu sabia) idem, eu não falava uma palavra de japonês e essa coisa toda. Então eu já aceitava que os artistas que eu via no Youtube iam continuar por lá mesmo, sendo inalcançáveis.
E ao mesmo tempo que me via totalmente fora da realidade das músicas japonesas do underground, eu sentia uma conexão enorme com o sentimento das músicas, Kinoko Teikoku e Kaneko Ayano foram minhas muletas emocionais pelos últimos 5 anos sendo que não faço ideia do que as músicas tratam na sua maioria.
Então eu tratava com o maior romantismo o cenário underground japonês, onde, ao meu ver, todas as bandas se ajudavam, o ecossistema casa de show - loja de CD - labels era totalmente autossuficiente e todo mundo era feliz. Essa visão caiu por terra depois que li o livro "Quit Your Band!" do Ian F. Martin que parece ter sido feito pra fãs como eu, iludidos com o que veem no Youtube achando que tudo são flores. O cenário musical japonês na real é bem selvagem e basicamente todo mundo é filho da puta até provado o contrário, mas como todo bom cético eu não estava convencido ainda.
E com toda a minha paixão por música underground japonesa, lá fui eu, trampar em temperaturas absurdamente baixas pra pagar minha viagem pro Japão... e obviamente meus shows e CDs.
Cara, eu só posso dizer que você passa a ouvir a música de modo diferente depois que você vê a banda tocando ao vivo, isso já tinha acontecido, mesmo que de forma reduzida, depois que fui ver Oasis em 2009 e Libertines em 2016. Agora, como você ouve uma música depois de interagir com os integrantes?
"Ah, esse solo foi do cara que me vendeu a camiseta", "Esse vocal foi da moça que me cumprimentou e ficou espantada porque eu disse que vim do Brasil", "Olha só, eu pedi autógrafo dessa banda toda" e talvez até "Caralho, mijei no mictório do lado desse mano que tá tocando baixo", todas essas situações são bem verossímeis se você frequenta show underground, só a última que não rolou de verdade comigo.
Mas é, mudou totalmente como ouço algumas músicas, além de muitas me trazerem memórias dos shows que fui, o fato de eu ter conhecido as pessoas por trás de algumas delas diminuiu a distância que tenho com as obras. O que antes era "uma música feita por um mano random no extremo oposto do globo" virou "uma música feita pelo mano que conversou comigo por uns 10 minutos e me agradeceu efusivamente por eu ter ido lá no show dele".
Outra coisa que mudou foi toda a idealização que eu tinha com o cenário musical underground japonês, o livro que citei anteriormente realmente tava certo, as casas de show cobram o absurdo que é a bebida obrigatória (por um preço abusivo) mas também operam numa margem de lucro mínima, as lojas de CD pequenas são cada vez mais raras e qualquer emprego que seja nesse setor é totalmente um trabalho de amor, simplesmente não dá pra viver de música no Japão até uma gravadora gigante notar você, ainda assim você vira um refém na mão dos caras. Além disso é bem fácil ver as panelinhas entre as bandas, eu nem tentei ir mais a fundo nisso, já que julgo ser assunto delicado, mas é fácil ver que tem uma certa antipatia entre certos grupos de bandas.
Eu não tive nenhuma grande decepção, e olha que fui com MUITA expectativa pra ver show lá, mas é realmente meio triste saber que as músicas que curto são feitas por pessoas que têm que trampar num escritório pra pagar a conta de luz e o aluguel, mal consigo imaginar como seria a música dessa galera se eles pudessem se dedicar 100% pra música. Por isso mesmo gastei uma grana preta nos CDs e camisetas das bandas que vi, qualquer força que eu pudesse dar já ajudava os caras, ao mesmo tempo eu comprei os CDs usados de artistas mainstream, fui o Robin Hood do cenário musical japonês... numa escala absurdamente pequena.
Enfim, eu ainda tenho que descobrir umas bandas locais pra também ajudar, por mais que eu me identifique demais com as bandas japonesas, não é possível que eu não ache uma por aqui que seja que tenha um som daora com que eu curta.
Pra deixar esse post mais multimídia vou botar um vídeo da banda com quem mais interagi na minha viagem, o pessoal é realmente bem firmeza e fazem um som bem legal.
vlw flw té mais
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