Toda semana, na frente da estação Vergueiro logo abaixo das escadarias que davam em frente ao meu colégio, era distribuído o jornal Metro News.
O Metro News é o típico jornal gratuito que vive do lucro dos anunciantes, eles jogavam lá as notícias essenciais da última semana e enchiam de propaganda pra viabilizar a produção do jornal, simples e fácil.
Era quase um ritual, eu nunca pegava o jornal porque sabia que um amigo meu que era de outra sala viria com ele no intervalo das aulas, então ficávamos resolvendo as palavras cruzadas por poucos minutos até que ele tivesse que vazar pra sala dele de volta, mas ele deixava o jornal com a gente. As diversões do jornal eram basicamente o resumo esportivo (que nunca tinha nada que fosse novo), os anúncios óbvios de prostituição que eram a coisa mais humor de ensino médio possível, as já citadas palavras cruzadas e as tirinhas.
As tirinhas eram horríveis, é o humor mais baby boomer possível: era sempre aquela coisa que permeava qualquer tipo de humor voltado para homens no começo dos anos 2000: "odeio minha mulher", "me arrependo de ter filhos", "odeio meu trabalho", "penso mais com meu pinto do que com meu cérebro", etc. Você com certeza já viu algo com esse tipo de humor.
E eu nunca fui uma pessoa de ficar ofendida, mas certamente ficava minimamente incomodado com esse tipo de humor forçado que pressupõe que mulher é burra e a geração mais jovem é perdida, chegando às vezes a beirar uma vulgaridade que me deixava até estupefato de alguém ter tido o culhão de escrever tamanho sacrilégio e publicar.
Esses dias eu tive esse leve flashback às minhas manhãs de 2012/2013 e quis lembrar como era o senso de humor horrível que a geração dos baby boomers têm até hoje, até que achei o subreddit r/boomershumor, achei incrível como esse tipo de humor não tem fronteiras.
É sem graça, perpetua tudo que há de ruim na sociedade e é um triste retrato de pessoas que não realizaram nada na vida e culpam família, mulher, sociedade e qualquer coisa que seja pelo próprio fracasso, é uma coisa triste.
Eu não quero aqui falar que não tem nada de certo na geração dos boomers, toda a produção cultural dos anos 60~70 foram de uma riqueza imensa e a música hoje basicamente bebe daquela fonte até hoje, direta ou indiretamente.
É a consciência retrógrada da geração que antes fora eleita pela revista Time como "People of the Year" e agora bota um panaca no poder, é o tipo de pessoa que fala que os jovens de hoje em dia se ofendem facilmente mas só de ouvir "identidade de gênero" já começa a chiar.
Um dos meus maiores medos é me tornar também um tiozão e fazer piadas machistas a torto e direita sem se importar com os outros, acho que é aquilo que falei da sensibilidade no outro post, que é uma qualidade que é muito subestimada mas é o mínimo que devemos ter pra viver em sociedade decentemente.
Obviamente que não defendo também os Millennials (e as gerações subsequentes) com muito ardor. Toda a cultura do cancelamento de ostracizar a pessoa por falar x coisa é o sacrilégio e não foram raras as vezes que eu senti vergonha real de estar nessa geração entre os Millennials e a geração Z, mas acho que isso é papo pra outro post.
Eeeh, acho que perdi um pouco o fio da meada mas eu fiquei tão de cara com umas tirinhas que apareceram no meu feed do FB que decidi escrever este post. Um bom boomer falaria que estou de mimimi e que me ofendo fácil, pau no seu cu.
Eu ia botar uma tirinha aqui pra ilustrar o tipo de humor torpe que vi mas não quero dar publicidade, nem ruim, pro indivíduo que faz essas coisas.
Acho que estou virando cada vez mais um millennial, preocupante. Culpo as minhas bandas underground por isso.
vlw flw té mais
Felizmente(ou infelizmente para outros) creio que esse tipo de humor está com dias cada vez mais contados. Não tenho ctz, mas acho que qdo era mais novo era mto mais comum ver as pessoas aceitarem bem esse tipo de humor. Hj em dia acho q o índice de aceitação ainda é elevado, mas menor q uns anos atrás. Bom, a minha memória não está lá essas coisas nos últimos tempos, então talvez não dê pra confiar mto, mas enfim.
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