segunda-feira, 27 de maio de 2019

Um adeus ao Kinoko Teikoku

Eu conheci Kinoko Teikoku no final do terceiro do meu ensino médio, eu conhecia Shiina Ringo faz um tempo já e Mass of The Fermenting Dregs era de praxe na minha playlist matinal, mas Kinoko Teikoku foi a primeira banda ativa underground que eu conheci e gostei.

E pode parecer estranho eu falar aqui mas eu me apaixonei pela Chiaki Sato desde que a vi no MV do Umi to Hanataba e por um momento eu não soube se ela era homem ou mulher. Aparência andrógina, voz andrógina, nome andrógino e eu já estava questionando minha sexualidade, de verdade. Pode parecer que estou fazendo uma observação leviana mas por um breve momento eu realmente me questionei por achar aquela pessoa bonita, sorte (ou azar?) que a Chiaki Sato é uma mulher mesmo.

E galera, obviamente eu não gosto de Kinoko Teikoku só por achar a Chiaki Sato bonita, se esse fosse o caso eu seria fã de idols ou kpop ou algo assim, não de bandas underground.


E eu já falei em outro post mas a imagem da Chiaki Sato é tão legal que me fez ter um apego especial por moletons lisos, calças slim (PORQUE MINHAS BATATAS NÃO PERMITEM AS SKINNY) e Vans e por pouco eu quase peguei uma Telecaster preta por causa dela, acabei pegando uma Jaguar branca que nem da Aa-chan.

Obviamente eu amava os outros membros da banda também, a Aa-chan fazendo riffs de shoegaze com a roupa menos shoegaze da história: pijamas, o Taniguchi fazendo linhas de baixo que são raríssimos no gênero (são bem evidentes no Eureka) e o Kon com seus bonés mais variados e com um trabalho na bateria que sempre achei bem diferente, nada daquela bateria meio math-rock que sempre gostei mas bem interessante de qualquer forma.

O motivo do término da banda aliás é bem inusitado: o baixista vai ter que herdar o templo da família e ele teve meio que um "sense of accomplishment" com os dez anos de banda e resolveu sair agora com o aniversário de dez anos de trajetória do Kinoko Teikoku. Como o Kinoko Teikoku é formado por amigos que se conheceram na faculdade, eles resolveram por terminar a banda do que continuar com outro membro, achei nobre da parte deles.

Eu meio que já sentia uma falta de empatia na música que a banda vinha fazendo desde 2015, quando você entra num som tão clichê que é o pop-rock que permeia o cenário mainstream do Japão, não tem como se diferenciar. A bateria do Kon agora só fazia o basicão de dar passo à música, assim como o baixo do Taniguchi, agora a Aa-chan também tocava teclado e as músicas giravam todas ao redor da voz da Chiaki Sato.

E sei lá, tudo o que eu podia escrever sobre a banda já foi escrito neste post que fiz faz pouco tempo atrás. Eu já meio que sabia que a banda ia entrar num hiato oficial, ou até mesmo acabar, já que a Chiaki Sato tá começando uma carreira solo, a Aa-chan já está na banda suporte da Seiko Oomori faz tempo e o Kon tava de suporte pra Aimyon um pouco antes dela estourar com o último álbum mas ter a coisa toda oficial foi meio forte demais pra mim.

O fim da banda foi trending topic no Japão, chegando a ser o terceiro tópico mais discutido uma hora. (fiquei com preguiça de cortar a imagem)


O fim do Kinoko Teikoku representa o fim de uma geração de bandas japonesas, apesar de não ter tido o impacto que Andymori e Chatmonchy (ambos fizeram o último show no Budokan) tiveram, Kinoko Teikoku foi a banda que apresentou muitos gringos ao cenário musical underground japonês, por ter influências de post-rock, shoegaze e afins ao mesmo tempo que não apresentava os extremismos dos gêneros, Kinoko Teikoku era antes de mais nada uma gateway drug pra esse cenário, por mais que no Japão mesmo eles fossem só mais uma banda que conseguiu sair do underground pro mainstream.

E o que o fim da geração de bandas que surgiram no meio dos anos 2000 significa? Significa que bandas novas vão ocupar os espaços vazios. Acho que o legal da nova geração de bandas surgidas de 2010 pra cá é que os membros delas estão começando a ter a minha idade! O pessoal do Luby Sparks se não me engano são da minha idade e as meninas do Hitsuji Bungaku são um pouco mais novas.

Eu duvido que Kinoko Teikoku conseguirá ter o legado que bandas como Number Girl e Supercar tiveram, mas acho que isso se deve ao fato também de que a mentalidade do cenário na década de 90 era de criar uma identidade própria em meio à influência do rock britânico/americano, enquanto que agora a galera tá mais foda-se.

Enfim, é natural que bandas acabem, ainda mais bandas indie, mas eu ainda acho que uma parte de mim morreu junto com o fim do Kinoko Teikoku, eles foram a soundtrack de boa parte do meu ano de cursinho e começo da faculdade, e infelizmente eu não tive a chance de vê-los ao vivo, esse deve ser o maior arrependimento que tenho de não ter feito arubaito um ano antes que fosse.

Em suma Kinoko Teikoku foi uma das coisas que mais me trouxe alegria, tristeza e raiva, tudo de uma vez, e também foi o que me motivou e que me fez pensar em alguns momentos ruins que tive, e por isso sempre vou guardar um espaço no meu coração pra essa banda incrível.

Da esquerda pra direita: Nishimura Kon (bateria), Sato Chiaki (vocal,guitarra), Aa-chan (guitarra), Taniguchi Shigeaki (baixo).


E citando a última estrofe do Aruyue (e fazendo uma tradução porquíssima de uma outra tradução que achei na webs), a última música que a banda lançou que eu realmente amo:

As árvores na rua fingem não saber
Enquanto balançam gentilmente com o vento
Eu sofro sem aprender com meus erros
Porque esse mundo que sempre me amará está aqui

Obrigado por tudo, Kinoko Teikoku.

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