segunda-feira, 25 de março de 2019

Uma ode a Tokyo

Desde que comecei a ouvir música underground japonesa eu notava que toda banda que se preze, muitas vezes nem sendo de Tokyo, fazia pelo menos uma música em homenagem a essa cidade. Eu sendo um bom paulista, sempre subestimei esse amor todo por Tokyo "Porra, São Paulo deve ser a mesma coisa" quero dizer: falavam que Tokyo era caótica, assim como Sampa é, falaram que Tokyo era uma cidade global com várias culturas, po o Bixiga está a minutos de distância da Liberdade. Enfim, sempre fui meio cético nesse culto a Tokyo, ao mesmo tempo que achava um absurdo que São Paulo não tivesse metade do amor e apreciação.

Pois bem, fui pra Tokyo.

E acho que é uma coisa que só pode ser entendida se você for pra lá, acho que o meio midiático (ocidental) que mais conseguiu captar o espírito de Tokyo foi o filme Lost in Translation da Sofia Coppola, e ainda acho que ele só capta bem mesmo Shinjuku e Shibuya.

Tokyo é linda, do caos do cruzamento de Shibuya às ruas calmas de Setagaya, eu não acho que vou achar outro lugar no mundo que me encante como Tokyo me encantou, e foi andando por essa cidade que imaginei as várias vidas que passam por aqui ou ali, das várias histórias que se passaram pelos lugares que andei.

Eu fui uma garota de ensino médio que voltava da escola em Shibuya depois de praticar vôlei em preparação pra um campeonato dali a duas semanas.

Eu fui um eletricista consertando a fiação elétrica em Gotokuji.

Eu fui dono de uma loja de conservas em Sangenjaya.

Eu fui um guitarrista vindo de outra província procurando a chance para o sucesso nas ruas de Shimokitazawa.

Eu fui um pintor amador que praticava sketches de natureza nas margens do vale de Todoroki numa manhã ensolarada de terça-feira.

Eu fui uma garçonete de um café pequeno, mas aconchegante, em alguma ruela de Shimokitazawa.

Eu fui um imigrante turco que se sustenta vendendo Kebab pra locais e turistas perto da estação de Akihabara.

Eu fui um barista, dono de um café em Futako Tamagawa, fascinado não só pelo café, mas também pela música brasileira.

Eu fui um operário de uma serralheria em Shin Kiba que ama ver os jogos de futebol do Kashima Antlers e tem como cerveja favorita a Asahi Super Dry.

Eu fui uma estudante que para pagar a faculdade de administração se viu forçada a trabalhar em um Maid Café em Akihabara.

Eu fui um atendente da Jins de Shibuya vindo da Coreia do Sul que foi contratado pelo conhecimento da língua inglesa, já que o número de turistas que vinham à loja estava aumentando exponencialmente.

Eu fui uma das funcionárias de uma pequena casa de shows em Yoyogi, como a casa se mantém praticamente com umas cinco pessoas então ela acumulava as funções de roadie, bartender, segurança e recepcionista.

Eu fui um atendente da Disk Union de Shinjuku que viveu o auge da juventude ouvindo Happy End e RC Succession nos anos 70 mas que valoriza o atual cenário musical japonês.

Eu fui um turista brasileiro que fora pro Japão trabalhar em Yamanashi mas sempre que podia estava em Tokyo pra ver shows de bandas underground.

vlw flw
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