Eu amo Judy and Mary, amo da mesma forma como amo o Santos Futebol Clube e Strogonoff, por isso eu relevo alguns detalhes e evito falar que JAM seja a "melhor banda japonesa" assim como não falaria que o Santos é o melhor time do mundo (mas já foi, isso é inegável) e também não falaria que o Strogonoff é a melhor comida do mundo, por quê? Porque eu sei que se eu entrar numa discussão muito profunda sobre as coisas que amo, a paixão vai se misturar com a razão, e daí não vai sair coisa boa.
Mas enfim, pra quê eu disse tudo isso? Pra esclarecer que Judy and Mary talvez tenha sido minha banda favorita de todos os tempos mas é Mass of the Fermenting Dregs (ou MOTFD) que fica com a coroa de melhor banda japonesa que já ouvi.
Pode parecer que escrevi o nome da banda errado mas é isso mesmo: Mass of the Fermenting Dregs é uma banda que surgiu em 2002 com uma lineup toda feminina: Natsuko Miyamoto no baixo/vocal, Chiemi Ishimoto na guitarra e Reiko Gotoh na bateria, essa lineup durou até os meados de 2007 e no lugar da Reiko entrou o Isao Yoshino. E foi aí o auge da banda, foi nesse período que lançaram dois EPs e um álbum, todos geniais e consistentes.
MOTFD no período entre 2007 até 2010 foi a melhor banda a ter surgido no underground do Japão (e quiçá foi a melhor banda que já surgiu no Japão como um todo), com melodias extremamente contagiantes, performances ao vivo geniais e o melhor disso é que a banda não tinha grandes talentos singulares, era o conjunto que movia a música do MOTFD:
- A técnica da Natsuko podia não ser igual do Flea mas sua voz emocional e enérgica e a forma como o baixo é encaixado perfeitamente nas músicas sem ser relegado a um papel secundário é incrível;
- O Isao é um exímio baterista sem sombra de dúvidas mas a forma como ele toca rock sem praticamente usar os pratos em algumas músicas é genial, o começo de Kaku Iu Mono com ele tocando quase que uma marcha na caixa é arrepiante;
- Por fim a Chiemi pode parecer ter um papel secundário na construção da música da banda, já que os solos são escassos, mas quando trocaram ela pelo Naoya Ogura na lineup deu pra perceber como a técnica dela era essencial.
E então, depois de muita espera, que em 2015 a banda anunciou a volta. Lembro que fiquei sabendo da notícia por uma foto que a guitarrista do Tricot publicou no Instagram com a Natsuko, fiquei maluco, MOTFD é uma das bandas que mais se destacaram no cenário underground japonês nos últimos anos e mesmo assim não "traiu" seu próprio som (SIM, EU TO ME REFERINDO A VOCÊS, KINOKO TEIKOKU) e nem assinou com uma major label.
Sim, obviamente que eles não voltaram 100%, o Naoya não tem a técnica da Chiemi e eles decidiram ir pra um som mais mainstream nesse último álbum que eles lançaram neste mês, mas ainda com aquela vibe que a banda tinha em 2010.
A melhor descrição que li sobre o som da banda é que "as músicas têm um apelo muito físico, quase atlético, é como pedalar com tudo num desfiladeiro ou correr num parque às 6 da manhã", eu não poderia concordar mais, o som deles é MUITO intenso, quase claustrofóbico. Mas o mais curioso é que, apesar do som da banda parecer até que normal na primeira ouvida, sempre houve um debate na hora de enquadrar o som deles em algum sub-gênero, dá pra ver influências de post-punk, hardcore e até shoegaze EM UMA MESMA MÚSICA, isso sem contar umas experimentações que a banda fez no último álbum, fazendo um puxadinho pro metal.
Em suma: Mass of the Fermenting Dregs é uma ótima banda, criminalmente subestimada (tanto no Japão quanto fora), e definitivamente um dos destaques da leva de bandas que surgiu no Japão no começo dos anos 2000. Com um nível técnico altíssimo e um estilo que consegue destacar as individualidades de cada membro, MOTFD foi a melhor banda a ter saído do Japão nos últimos 20 anos e talvez desde Happy End da década de 70.
Eu sinceramente não sei porque nunca dediquei um post a essa banda, descobri o som deles no Ensino Médio e sempre achei que MOTFD era uma banda 10/10.
Ouçam essa banda, sério.
Nenhum comentário:
Postar um comentário