Você sente inveja de alguém? Mas inveja de querer a vida da pessoa de qualquer jeito?
No fim do meu médio, e no meu ano de cursinho em particular, o Instagram estava começando a decolar de verdade e só tinha uma conta que todo moleque da minha idade seguia: Dan Bilzerian. Ele era bombado, brincava com armas de fogo, "vivia dos ganhos do poker" e vivia rodeado de modelos, era o que todo moleque de 17 anos sonhava na vida.
Aí até que uns anos atrás descobriram o óbvio: o cara era uma farsa. O cara herdou toda a grana do pai, que por sua vez tinha pego a grana de um esquema super suspeito. As modelos todas eram pagas pra aparecerem do lado dele e a marca que ele criou também era, de algum jeito, um esquema de pirâmide.
Eu sinceramente nunca quis ter pra mim esse estilo de vida cheio de excessos de um Charlie Sheen da vida, mas estaria mentindo se dissesse que nunca invejei um estilo de vida desses. Eu demorei pra perceber que minha felicidade tava mais em explorar show de banda desconhecida do que em curtir tardes em iates cheios de modelos suecas.
Outro dia eu falei pra um amigo meu que foi pro Japão comigo que minha estadia lá foi a melhor época da minha vida. Ele mandou um "Sério mesmo?" com razão. A gente tava lá de mão de obra barata, mal tínhamos tempo pra curtir e passamos uns bons perrengues por termos pouca grana e sabermos pouco japonês, mas eu amei. Quero dizer, não amei essas partes de passar perrengue, mas foram o contraste com as folgas que fizeram eu curtir tanto dar meus passeios.
Eu te asseguro que o dia que fui pra Shinjuku pela primeira vez foi um dos melhores dias da minha vida, e ele começou comigo CORRENDO de Yamanashi pra pegar o primeiro busão pra Tokyo e terminou comigo dormindo num chão duro (porém estofado) de um net café em Yoyogi. As únicas interações sociais que fiz no dia foram com os atendentes dos lugares onde comi, o cara da recepção da casa de shows e os caras da banda que fui assistir, com quem tive a maior conversa do dia, depois disso foi o cara do net café tentando entender meu inglês sofrível. Foi realmente um dia do Yoiti pro Yoiti.
Isso não quer dizer que não aprecio uma boa companhia, as viagens de formatura ainda são parte das minhas mais preciosas memórias, mas quando você é forçado a ficar o dia inteiro com pessoas com quem você não se sente 100% ok, a bateria social acaba esvaziando rápido.
Qual era o assunto original mesmo? Ah, inveja. Bem, eu nunca experimentei uma tarde num iate com modelos suecas pra saber se seria melhor que conhecer minha banda favorita E Tokyo no mesmo dia, mas tenho minhas suspeitas.
No meu atual estado de espírito acho que invejo mais as meninas hipsters de Tokyo que o Dan Bilzerian. Depois de muito pesquisar e ler relatos de quem trabalha com música no underground japonês eu entendi que é uma coisa bem bosta, de ver gente sem talento fazer muito sucesso enquanto que as bandas e artistas que realmente tinham tudo pra voar fracassam.
Então fico com a vida das meninas hipsters japonesas que vivem indo em show (e por isso só veem o lado bom do cenário musical japonês) e trampam com algo relacionado a moda, design ou arquitetura, não que essas profissões pareçam ser mais fáceis que a que exerço agora, mas convenhamos que parece melhor que fazer engenharia naval no Brasil.
Mas enfim, eu escrevi esse post todo bem desconexo só pra chegar na conclusão que sinceramente não invejo ninguém de verdade de verdade. Tive o privilégio de ter vários momentos incríveis aqui com meus amigos e desfrutei de uns dias como um legítimo hipster em Tokyo, acho que pouca gente pode falar que participou de um Integrapoli e foi ver um show de shoegaze no Shibuya Club Quattro no mesmo ano, mas menos gente ainda vai me invejar por essas coisas, cada um tem sua felicidade.
Vamo que vamo, novas memórias felizes não serão criadas sozinhas.
vlw flw té mais!
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