Este post é uma continuação deste post aqui. Na real eu tava planejando fazer um post com os dois assuntos assim que eu voltasse do Japão mas como em Setembro do ano passado eu não sabia se ia mesmo rolar a viagem ou não, acabei postando a primeira parte do pensamento todo aí nesse post, aqui vai a continuação.
Pra começo de conversa: minha experiência no Japão foi EXTREMAMENTE superficial, eu literalmente só tive uma experiência mais imersiva na sociedade japonesa que um turista, fiquei maioria do meu tempo dormindo ou trampando no cu do Japão (vulgo Yamanashi) e os raros dias de folga foram gastos indo pra Tokyo, pelas minhas contas eu passei uns 12 dias na capital japonesa, de um total de 90 e poucos dias que passei no país.
Eu me senti bem.
Olha, eu moro na Liberdade, e NUNCA cheguei num lugar com 100% de gente parecida comigo e onde eu não me sentisse pelo menos um pouco deslocado no local. Claro que em São Paulo o povo é acostumado em ver os asiáticos, nas vezes que fui com minha família pra Minas que eu me senti num nível de desconforto um pouco maior, pelo menos em cidades mais do interior, onde TODO MUNDO ficava olhando pra gente e achando que éramos gringos ou algo assim, mas nada do tipo de ficar bolado pro resto da vida.
O absurdo é eu estar num lugar no extremo oposto da minha terra natal e me sentir mais incluído, pelo menos num nível superficial. Até eu abrir minha boca eu era um legítimo japonês, depois que me esforcei pra ficar parecido com os jovens locais, os atendentes das lojas até demoravam um pouco pra entender que eu era gringo, achava isso demais. Eu andava pelas ruas e ninguém me notava, ninguém se importava, ninguém achava minimamente estranho, eu era finalmente apenas mais um na multidão, totalmente incógnito. Obviamente que toda essa sensação caía por terra quando eu precisava me comunicar com os japoneses, mas isso gerou algumas situações engraçadas pelo menos.
Foi só depois, falando com minha prima que está no Japão faz um tempão trampando num trabalho decente, que fiquei sabendo como o workplace no Japão é xenófobo e machista pra um caralho, que é algo que eu já esperava mas ouvir de quem tá lá faz tempo reforça a ideia. Por eu não ser um egoísta filho da puta também me deixa triste que qualquer avanço pelo casamento LGBT no Japão esteja BEM mais avançado nos mangás que na vida real, além do pessoal ser bem... BEM alienado, eu preferia assistir Brasil Urgente pelo resto da minha vida que assistir os noticiários japoneses entendendo eles, sério.
Mas na moral que tive uma crise existencial fodida lá no Japão, eu já sabia que ia rolar isso cedo ou tarde quando eu estivesse lá mas puta que pariu, bateu forte a bad. Eu projetei a imagem de Tokyo tão forte e por tanto tempo que eu tinha certeza que ia me decepcionar, mas não, a cidade superou TODAS AS MINHAS EXPECTATIVAS. Setagaya então me deixou no chão, eu amei tanto o lugar que no dia seguinte da minha visita lá eu já tava vendo apê pela região, eu conseguia fácil viver o resto da minha vida SEM SAIR DE SETAGAYA, só faltava uma praia decente mas acho que isso já é pedir demais.
E então, depois de andar pelas ruelas de Shimokitazawa, e pelos outros bairros de Setagaya, que eu projetei lá minha vida simples se eu soubesse japonês: sei lá, viver de garçom ou atendente numa lojinha hipster e com a graninha abrir meu próprio negócio local, eu sei que esse parece daqueles casos de nego que curte a viagem e se muda pro lugar só pra quebrar a cara, mas achei legal demais que Setagaya era mais pacata que maioria dos lugares que conheço na cidade de São Paulo e está localizada EM TOKYO. Louco demais pensar nisso.
Mas voltando ao ponto principal: eu achei que me sentiria mais deslocado lá no Japão do que realmente senti, acho que por ter ido em lugares que são geralmente longe do alcance de turistas normais (os shows no caso), acabei por ter uma experiência mais autenticamente nipônica que a maioria do pessoal que foi comigo (que foi mais turistão mesmo) e por isso tive meio que a sensação de estar mais inserido na sociedade japonesa.
Então, me considero japonês ou brasileiro afinal?
Sei lá, eu me sinto brasileiro o suficiente no Brasil pra sair de havaianas na rua e falar pro garçom "DESCE MAIS UM LITRÃO, CHEFIA!" ao mesmo tempo que me sinto japonês o suficiente no Japão pra usar pochete como shoulder bag e falar "OTSUKARESAMA!" pro pessoal que tá saindo do trampo quando eu tava entrando.
Não sou 100% japonês nem 100% brasileiro, peguei o pior dos dois HAHAHAHA, não fui malandro no Japão e não tenho um dakimakura no Brasil então acho que tá safo por enquanto. Eu achei que ia estar mais na crise identitária, mas acho que isso a viagem resolveu: eu sou eu, percebi que não preciso estar na caixinha BR ou na caixinha JP pra me sentir esclarecido, todo japonês é diferente e todo brasileiro é diferente, e todo mundo lida com isso de maneira diferente e é isso aí.
Mas agora, passado um mês da minha volta à terra brasilis, eu volto pra valer pro Japão ou não? Pergunta difícil hein. Acho que nas condições atuais o melhor seria aprender a língua japonesa antes de tomar qualquer decisão, sem saber a língua não dá pra viver decentemente lá. Outra é esperar se melhora a situação do Brasil né, porque na situação que tá não dá pra viver decentemente aqui... não pera.
Tá foda galera.
vlwflw
té mais
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