sábado, 15 de novembro de 2025

FUI PRO JAPÃO DE NOVO

"E aí, como foi a viagem pro Japão?"

Legal, mas...

Foi uma experiência totalmente diferente da primeira vez que fui, acho que amadureci decentemente nesses últimos seis anos e passei a encarar os empecilhos e dificuldades de um jeito muito mais racional e menos infantil, de modo que muito do frio na barriga e incerteza que tive na primeira vez que me aventurei por Tokyo simplesmente não aconteceu de novo por motivos de: eu tinha internet dessa vez; já conhecia boa parte dos bairros e cidades; e estava com três amigos que, por mais que conhecessem menos que eu o Japão, me davam segurança de que pelo menos eu não me ferraria sozinho.

Por mais que eu tenha tentado sair um pouco do usual pros turistas alguns dias, maioria do roteiro era o mais manjado: Shibuya, Shinjuku e arredores em Tokyo, templos e santuários em Kyoto e Universal, Dotonbori e correlatos em Osaka. Nesse ponto, acho que por estar no Outono, é notável o crescimento do turismo no Japão desde a última vez que fui lá, ao ponto que tem lugar que ficou muito pior de visitar (Shibuya, Harajuku, Akiba e Shinjuku em particular e imagino que Kyoto também, apesar de não ter conhecido lá antes). Mas bom ver que bairros mais afastados tipo Setagaya fora de Shimokita e Kichijoji estão com poucos turistas.

Viajar com amigos que conheciam pouco ou conheciam só a parte mais pop da cultura japonesa foi bem diferente de viajar com o pessoal do arubaito por exemplo, fiz o papel de guia pra muitas coisas e levei o pessoal pra comer pratos que provavelmente passariam despercebidos por eles, e que pra gente que cresceu em uma família japonesa era mais do mesmo do que você acha num festival do Japão, mas acho sempre gratificante melhorar o dia das pessoas e apresentar coisas novas pra elas, de modo que acho que mimei muito meus amigos ao fazer boa parte do roteiro de viagem. Viajar num grupo de quatro pessoas com gostos totalmente diversos foi bem DESAFIADOR mas interessante, acho que muita coisa que aconteceu (e que virou história de bar) não rolaria se eu tivesse viajado com mais três nihonjapa, e pro objetivo da viagem era isso mesmo que eu esperava.

Mas estou escrevendo tudo isso porque foi uma boa viagem no final, comprei coisa pra caralho e CONSEGUI IR EM UM SHOWWWWWWWWWW!!!!!!

Por uma sorte absurda, bem nos dias que a gente planejou de estar em Tokyo, marcaram um festival em Shinjuku com artistas que amo:

SHIN-ONSAI 2025 Official on X 

O festival era bem interessante: cada palco era na verdade um casa de shows em Shinjuku, de modo que pra você ir de um palco pra outro era preciso andar pelo bairro. Aí quem tivesse a pulseira do festival tinha acesso a uns descontos legais nos restaurantes perto também. 

Eu vi quatro shows aí: Yeye, Lovely Summer Chan, Ohzora Kimishima e Odottebakarinokuni. 

Yeye é a cantora dessa música que é um clássico cult dos descobridores de música japonesa no Youtube:

 

O show dela foi num jazz club mais afastado dos outros, em Shinjuku Sanchome. Show acústico bem intimista com cadeiras e tal, muito bom.

Depois fui ver a Lovely Summe Chan:

 

Foi um show bem informal dela com um baterista, o azar era que batia com o Ohzora Kimishima e eu queria muito ver ele, então fiquei meia hora no show dela e rumei pro Shinjuku Face pra ver o cara que considero um dos melhores musicistas do Japão:

 

Foi um set acústico mas puta que pariu, isso só amplificou como o Ohzora Kimishima é foda tecnicamente. A casa de shows Shinjuku Face é feita de um jeito que parece que você tá vendo o show num Sesc:

Imagem 

Foi talvez a melhor performance ao vivo que vi na vida, sem qualquer exagero. O homem realmente é um gênio.

Depois foi vez de rumar pro Shinjuku Loft, única casa que eu já conhecia da vez passada, pra ver Odottebakarinokuni:


Foi o show mais emotivo dos que vi no dia, com total destaque pra Ghost (música do vídeo), onde pela primeira vez na vida vi japoneses gritando um refrão (GHOOOOOSTTT)... e fazendo um mini mosh.

Cara, eu CHOREI no Ghost. Essa música é tão épica numa proporção palpável, dá uma sensação tão quente de esperança que toda insegurança que eu tinha até aquele momento me atingiu no mesmo momento e só me restou o sentimento que não importa o que aconteceu até agora, tudo vai ficar bem no final. 

Depois disso saí pra comer yakiniku com uns amigos lá por Shinjuku.

O festival realmente foi uma mão na roda porque foi 4000 ienes e se fosse pra ver cada um desses artistas em shows solos deles o valor que eu desembolsaria seria 4000 POR SHOW e seriam quatro dias perdidos pra ver os quatro também, então fiquei mais que feliz e cancelei o plano que eu tinha pra ver uma banda menor no dia seguinte, ver Ohzora Kimishima e Odottebakari em seguida já foi demais pra minha alma.

Mas enfim, gostei muito da viagem e fiquei feliz em conhecer Kawaguchiko, Osaka e Kyoto e também Jimbocho e Kichijoji, esse último em particular quero explorar mais da próxima vez, me deu muito a vibe da Shimokitazawa que só li em livros, antes do turismo chegar, além de ter um parque maneiro do lado.

Assisti duas vezes o filme do Chainsaw Man, uma vez legendado em inglês (sim, passam uns filmes legendados em inglês lá, maioria dos populares de anime) e outra em ScreenX, e gastei uma grana em merch, mas não consegui a alusiva figure da Reze... mas conheci as localizações do filme! Ponto alto da viagem com certeza. 

Eu voltei do Japão sem muito sentimento de "devia ter feito tal coisa mas não deu" porque sei que eventualmente vou voltar lá, se vai ser sozinho pra um mochilão (meu plano) ou com família, amigos ou sei lá? Não sei, mas sei que vou voltar, assim como sabia que ia voltar quando voltei em Março de 2019 do arubaito. Os shows em particular são exemplos de coisas que aproveito sempre pra ver quando vou lá porque sei que não é sempre que rola e bandas são suscetíveis a terminar a qualquer momento, outra coisa que é bom aproveitar enquanto existe da forma que existe: Shibuya, aquele bairro tá sendo mutilado pelas passarelas.

Hmmmm, acho que é isso. Farei mais posts sobre a viagem, já que preciso justificar a grana descomunal que gastei nela, mas vai ser algo bem mais contido que os posts da época do arubaito.

Vou dormir porque o jetlag está me matando.

vlw flw té mais! 

domingo, 12 de outubro de 2025

Se você tem dentes retos teu trisavô açoitou meu trisavô 200 anos atrás

Eu amo o Twitter, amo o suficiente pra nunca cogitar chamá-lo de X e gosto de ver como as discussões inúteis parecem não ter fronteiras naquela plataforma. Essa semana eu vi esse tweet e fiquei bem contemplativo sobre: 

O Tradutor cagou aí, era pra ser Hitsuji Bungaku ao invés de Hitsuji Kagaku.

Acho que o mais legal aqui é ler os retweets e comentários subsequentes e ver que "ter os dentes retos" é uma expressão no Japão para pessoas privilegiadas em geral, e nesse caso mais específico é sobre o tipo específico de artista que estudou arte na faculdade. Dá pra fazer um paralelo com a classificação que o Ian F. Martin fez no livro Quit Your Band: Notes from the Japanese Underground, onde ele classifica o underground de Tokyo em duas categorias: bandas de Setagaya e bandas da linha Chuo. Bandas de Setagaya (de Shimokitazawa na maioria) em geral são os tais artistas de dentes retos: estudantes de arte, bem conectados e de classe média alta num geral, já as bandas da linha Chuo (que podemos falar que são de Koenji na maioria) são os artistas de uma classe trabalhadora e menos "descolados", não sabendo usar as redes sociais para se promover como as bandas de Setagaya.

Até bandas que não são necessariamente de Tokyo podem ser divididas nessas categorias, porque esse som mais artístico e experimental mas com um grau perceptível de educação e naiveté é algo que permeia o cenário japonês inteiro. E, como todo discurso de Twitter, obviamente temos essa pauta no Brasil também:

Usernames censurados pra evitar dores de cabeça, não censurei o print de cima por preguiça e por duvidar que japoneses tenham o trabalho de chegar no meu blog.

 

O artista branco privilegiado é nosso artista de dentes retos no Brasil.

Quero dizer, essa dualidade sempre esteve presente: só lembrar da batalha do Britpop entre Oasis (classe operária) e Blur (classe média educada em escolas de arte), bem que nesse caso em especial tem o Pulp, que é de classe operária E educada em escolas de arte.

Eu particularmente não vou ficar sinalizando virtude aqui e dizer pra vocês que só vou ouvir música da classe operária, até porque entre classe operária e classe média alta, minha criação foi muito mais do segundo caso, mas isso tudo me fez lembrar de uma fala no Blue Period:

 

E essa é a maior crítica a artistas privilegiados: eles nunca sofreram de verdade ou passaram por dificuldades que a pessoa média já passou. Mas sinceramente, o artista precisa sofrer pra fazer algo bom? Eu acho que não.

Eu me identifico com muitas letras da Kaneko Ayano porque são experiências universais intrínsecas do ser humano urbano de hoje: seja passar por desilusões amorosas ou querer mandar tudo pro caralho, e ela faz isso de uma forma que é muito genuíno. Acho que tem muito de mono no aware nessa valorização do cotidiano que a Kaneko Ayano faz que só é possível porque ela teve uma criação privilegiada.

Quero dizer, o próprio conceito de Mono no Aware só surgiu porque os monges budistas da época eram de uma classe privilegiada e tinham tempo de pensar nessas coisas. Mas pera, acho que estou me perdendo no argumento.

Eu entendo quem não goste de uma forma de arte que claramente não tem nenhuma conexão com sua realidade, mas acho legal de um ponto de vista que aquilo também é um registro de um certo modo de vida, e o estilo de vida dos hipsters japoneses de Setagaya em particular é o que mais anseio desde minha adolescência, então sou meio suspeito de falar qualquer coisa. 

Mas no final nada é preto no branco só. A própria Kaneko Ayano vem de um background privilegiado mas não é a típica musica de uma art school kid tipo Luby Sparks ou sei lá Laura Day Romance. O que eu vejo muito de artistas formados em arte é abraçarem as tendências de som ocidental mas cantando em japonês, tipo a Ako, Lovely Summer Chan, ou o DYGL (que canta em inglês aliás). Mas você me pergunta bandas que não vieram de escolas de arte ou background privilegiados? Mass of the Fermenting Dregs, Asagaya Romantics, Stereogirl e Yuragi são bandas que não têm o som de estudantes de escola de arte, apesar de uns membros dessas bandas terem frequentado escolas de arte.

E a minha conclusão? Não sei. 

Eu sinceramente consumo todo tipo de música, com óbvio ênfase em música de artistas de Setagaya porque sou eu né, mas acho que se limitar a ouvir só música que condiz com sua realidade é tão limitante. Talvez se eu tivesse nascido em outras circunstâncias, em outro lugar e em outra época, também ficaria com raiva de cantoras com dentes retos, ou musicistas treinados desde criança em conservatórios, mas eu, Yoiti, estou bem suave pra esses e quaisquer outros artistas.

Mas enfim, eu fiz esse post porque achei curioso ligarem o fato de uma pessoa ter dentes retos com o fato dela ser privilegiada no Japão. Meus dentes são decentemente retos e nunca usei aparelho hmmmm...

Vou botar um exemplo de artista privilegiado (Kaneko Ayano que começou essa polêmica toda) e uma banda que acho que não é privilegiada no Japão:


 

 


Enfim, o assunto é polêmico e é totalmente opinião de cada um, mas onde estamos senão num blog que escrevo minha opinião sobre coisas irrelevantes faz quase 15 anos?

E é isso, acho interessante ver o twitter do lado japonês porque as discussões inúteis do lado de lá são muito parecidas com as nossas às vezes e no fim somos todos iguais.

vlw flw té mais! 

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

PASSARALHO

Entrei na minha fase mangá seinen do jovem adulto revoltado e puto e... DESEMPREGADO

Passei pelo meu primeiro PASSARALHO, ou como dizem em terras de Hot Dog e Hamburguer: Lay Off.

Não vou entrar em detalhes porque, literalmente, meus advogados não permitem. Mas se vocês me conhecem pessoalmente ou se entraram pelo menos uma vez no LinkedIn ou Twitter essa semana já sabem onde eu trabalhava.

É meio foda, eu queria ter a vontade de chorar e beber e sei lá, aproveitar a oportunidade pra CORRER ATRÁS DOS MEUS SONHOS, mas sinto uma impotência enorme frente à situação toda. Eu não sei quanto tempo vou ficar sem emprego, onde que vou trabalhar agora, o que vou fazer, de onde vou tirar motivação pra mudar algo na minha vida.

Quero dizer, não é como se eu tivesse muito diferente quando eu tinha emprego ainda, ou sequer na faculdade pra falar a verdade, acho que sempre fui uma pessoa sem grandes paixões e esperanças que buscava essas coisas no tempo livre.

E como a gente não escolhe o timing das coisas na vida: eu tenho uma viagem pro Japão mês que vem. Pelo menos eu já paguei tudo o que tinha que ser pago e meu planejamento financeiro tá em dia (graças ao fato de eu morar com meus pais, sabia que seria fria inventar de morar sozinho) então a viagem tá de pé ainda. 

Eu estou me candidatando pra vagas que acho interessante por aí mas eu não cancelo a viagem nem fodendo, vou usar esse tempo pra ver o que realmente quero fazer da vida e ver se tenho paixão por algo ainda. Eu brinco que quando fui pro Japão em 2018/2019 eu pensei seriamente em ficar por lá pra trampar em roadie em casa de show, e pra ser sincero: se eu soubesse o mínimo de japonês eu pegaria essa deixa e ficaria um bom tempo lá trampando em konbini, restaurante de lamen e casa de show e com certeza eu estaria mais feliz que nos meus últimos meses, isso é algo a se considerar.

Mas não pretendo achar o sentido da minha existência numa viagem de 20 dias pelo Japão com 3 amigos, talvez em um mochilão de dois meses... mas isso é pra próxima vez que eu inventar de fazer uma loucura. 

É isso, eu tirei essa semana pra sair pra conversar (e comer) com meus amigos. A pior merda é sofrer sozinho né, então quero fazer as coisas que eu não tinha tempo pra fazer antes, ou que eu dava desculpa que não tinha tempo pra fazer, e ser feliz. 

Então é isso pessoal, muitos me perguntaram se estou bem e óbvio que estou mal pra caralho porra, estou desempregado! Mas estou ouvindo Kaneko Ayano neste momento e sei que vai dar tudo certo no fim, não porque ela está me confortando com uma promessa vazia, mas porque sei que enquanto eu tiver a vontade de ser feliz, nada está perdido.

Música para o post: Kaneko Ayano - Sansan 

Minha parte favorita da música é:

しっかりとした気持ちでいたい
自ら選んだ人と友達になって
穏やかじゃなくていい毎日は
屋根の色は自分で決める
 
Que numa tradução livre usando o DeepL fica mais ou menos:
 
 

 Quero ter uma forte determinação
Fazer amizades com quem eu escolher
Nem todos os dias precisam ser tranquilos
Quero escolher a cor do meu próprio telhado 

Entendam como quiser, mas pra situação essa é a música.

Se tiverem afim e com tempo livre, me chamem pra tomar um café e trocar um papo, agora tempo é o que não falta pra mim.

vlw flw, té mais! 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

GASTEI TODO MEU PATRIMÔNIO EM INGRESSOS DE SHOW, O QUE FAÇO AGORA?????

Eu amo ir em show, amo mesmo, é meu tipo de rolê favorito.

Eu tava catalogando os shows que fui (e que vou ainda) e tá mais ou menos assim:

 9/5/2009 - Cachorro Grande, Oasis
12/6/2015 - Edy Lemond
9/10/2016 - Libertines
7/5/2017 - Jun Miyake, Ryuichi Sakamoto
11/1/2019 - Laura Day Romance, 17year ond and Berlin Wall, For Tracy Hyde, Sobs
25/1/2019 - Tricot, Mass of the Fermenting Dregs
10/2/2019 - Stereogirl, Tricot, Regal Lily, eastern youth, Shinsei Kamattechan
19/2/2019 - 17year old and Berlin Wall, Luby Sparks, Hitsuji Bungaku
20/2/2019 - Kaneko Ayano
4/3/2019 - The Paellas, Chiaki Sato, odol
9/3/2019 - Hitsuji Bungaku, Futoshi Kurauchi, paionia
9/3/2023 - Eliminadorzinho, Terraplana
19/6/2023 - Terraplana
24/8/2023 - Terraplana
30/11/2023 - Terraplana, Slowdive
21/4/2024 - Terraplana
14/9/2024 - Adorável Clichê
15/9/2024 - Elephant Gym
2/2/2025 - Adoravel Clichê
5/4/2025 - Terraplana
25/4/2025 - paira
28/7/2025 - paira
[13/8/2025] - Ado
[5/10/2025] - Lamp
[22/11/2025] - Oasis
[25/11/2025] - Ichiko Aoba
[2/12/2025] - Ichiko Aoba

O que está em colchetes são shows que vão rolar ainda e já comprei ingresso.

Botei o Edy Lemond aí pelo meme mas eu realmente fui na festa dos bixos da Poli em 2015 só pra ver ele, pô, era o Edy Lemond.

Uma coisa que percebi é que eu não ouço muita música no dia-a-dia, o momento que mais ouço é indo pro trabalho (o que não é todo dia, trabalho de casa na maioria dos dias) e aos fins de semana. Todo ano no Wrapped do Spotify eu sempre tenho menos minutos ouvidos que boa parte dos meus amigos, mas sou quem mais gasta com fones de ouvido e shows (na maioria dos casos), por quê?

Cara, tem certos tipos de música que toda a graça é ver ao vivo: shoegaze em especial é outra experiência você ouvir ao vivo com a cara na frente da caixa de som e sair totalmente atordoado.

Eu sempre gostei de música japonesa, então aproveitei o arubaito pra ir ao máximo de shows possíveis lá no Japão, aí percebi que era um negócio muito louco. Dá pra você ver na lista acima que eu raramente via show antes de ir pro Japão, mas foi lá que percebi que boa parte da graça da música underground está em ir pros shows e comprar merch e pedir setlist e conversar com a banda depois do show. 


 

Eu achei então que só no Japão que eu teria essa alegria de ver bandas menores e tal, mas depois de ficar maluco na quarentena vendo minhas bandas favoritas de lá fazerem lives (e ver minha banda favorita terminar), acabei arriscando e comecei a ir em shows de bandas do Brasil. 

Três bandas que gostei bastante aqui e estou acompanhando são: Terraplana, Adorável Clichê e Paira.


 

Eu estou com uma preguiça de falar sobre cada uma mas não foge muito do que eu amo de música japonesa também: algo próximo de Dream Pop/Shoegaze com vocais femininos, e por algum motivo essas bandas nunca são de São Paulo (assim como no Japão as bandas boas raramente são de gente nascida em Tokyo).

Mas os shows dessas bandas aqui no Brasil são bem parecidos com os que fui no Japão, tirando o eventual show de SESC que é uma particularidade nossa, shows pequenos com a própria banda vendendo o merch e conversando depois do show é uma coisa global, e é meu rolê favorito. Eu sempre vou sozinho nessas coisas e geralmente vou pra ver o show e já vazo (tirando os shows em SESC que chego antes pra comer alguma coisinha na comedoria), e é quase uma terapia pra mim todo o ritual de me vestir com uma camiseta de banda, pedir o uber, chegar no lugar, ver o show, pegar setlist, comprar merch, etc. Me sinto incrivelmente bem depois de um bom show pequeno.

Acho que shows grandes envolvem uma logística mais avançada e acabam cansando em si (apesar de me sentir recarregado também após um bom show grande) mas é outra pegada. Acho que no Japão eu só fui em um show "grande" que foi o mini festival no Studio Coast, e aqui a maioria dos shows que fui antes da pandemia e os que comprei pra depois de agora são todos relativamente "grandes", onde paguei no mínimo uns 200 e pouco e no teto um atingiu MIL E QUINHENTOS REAIS, aí obviamente as expectativas são diferentes. São EVENTOS onde você se planeja e dedica maioria do tempo útil do dia pra aquilo, tem show pequeno que fui com a mala do trabalho depois de um Happy Hour.

Mas enfim, faço uma distinção bem clara entre shows grandes e shows pequenos, não vou falar que prefiro um que outro porque depende muito, por exemplo: pra Kaneko Ayano eu prefiro ver ela onde vi (no Shinjuku Loft) onde mal cabiam 200 pessoas do que num Budokan da vida onde eu precisaria estar sentado longe pra cacete e pagaria o triplo do preço no ingresso, e ainda é num lugar bem pior de ir de metrô, mas tem bandas que se beneficiam de lugares maiores, só que aí você tem que pensar se está indo realmente pra ver o show e não um espetáculo de pirotecnia.

Moral da história? Muita gente só foi pra shows grandes na vida, vá para um show pequeno de uma banda independente. Não me vem com banda cover e couvert artístico, pega uma banda interessante que toque algo que você curta e vá no próximo show que essa banda tocar perto de você, melhor ainda se for num SESC. Compra merch, conversa com a banda e seja feliz. Tem muita banda boa com menos de 10k ouvintes no Spotify fazendo exatamente o tipo de música que você curte e reclama que não fazem mais como antigamente.

E é isso, gaste dinheiro com shows!!!!! 

Vejo vocês na fila do show da Ado, estarei lá!!!! 


 

vlw flw té mais!! 

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Salsicha de Frango

Eu estou com quatro rascunhos de post mas não tive capacidade de desenvolver nenhum deles, e nisso fiquei Maio inteiro sem postar nada.

Novidades na minha vida? Ehh...

Teve umas coisas no trabalho mas nada MUITO impactante a ponto de reportar aqui, terminei de reservar os hotéis pra viagem pro Japão, acho que fui num show nesse meio tempo e uma pre-order que eu tinha feito lá no começo do ano debitou no meu cartão ONTEM DE MADRUGADA, coisas da vida. Ah, e começaram as aulas do cursinho onde dou aula.

Eu sigo um monte de japonês no Insta/Twitter, maioria é músico mas tem uns pessoal aleatório meio influencer (youtuber e coisas do tipo) e chega essa época do ano e aparecem as famosas fotos do Natsuyasumi japonês, as férias de verão. 

Você que lê este blog já deve estar minimamente familiarizado com o conceito de férias de verão no Japão: Praia ou Montanhas, Matsuri (festival) onde tem barraquinhas e gente de yukata, caçar insetos com uma redinha e fazer bolas de barro (coisa que me fascina).

A coisa que mais acho legal é ver o pessoal (japonês) da minha idade indo pro equivalente de Parelheiros/Marsilac em São Paulo em Tokyo: Okutama. É basicamente um lugar com bastante natureza, pouca gente e bem bonito (parou aí as comparações com o extremo sul paulistano). Mas o legal é ver que parte do rolê é preparar um bentô com onigiris e salsichas e comer tomando uma cervejinha na beira do riacho.

Isso me trás pra memórias de férias de verão que tive quando criança.

Acho que boa parte dos nipo-brasileiros já tiveram essa experiência: descer pra praia (provavelmente Bertioga, Caraguá, Guarujá ou alguma outra cheia de japoneses) em família com uns bentôs cheios de onigiris e salsichas, no caso da minha família era especificamente salsichas de frango. O dia então consistia em brincar na praia e na hora do almoço voltar para o carro para comer o bentô, provavelmente estacionado numa rua atrás de algum hotel. Antes de ir embora pra casa, caso os pais estivessem generosos, rolava um sorvete. 

Algumas vezes o roteiro mudava: "Vamos almoçar no Pastel do Maluf! (incrível nome)" ou então passávamos por várias praias, mas o objetivo sempre era curtir o momento em família, por mais que não pudéssemos, na época, pagar um restaurante caro de frutos do mar.

Acabou que a condição financeira da família, e geral como um todo, melhorou e a gente agora pode comer nos restaurantes caros a beira-mar, mas perdeu um pouco a magia de descer a serra. Obviamente prefiro minha posta de Cação a molho de alcaparras e minha entradinha de Casquinha de Siri, mas até hoje, toda vez que como uma salsicha de frango, lembro das minhas idas à praia quando criança com minha família.

E acho que é isso que acabo buscando quando tento me conectar com minhas origens, seja idealizando um estilo de vida japonês ou voluntariando em eventos da comunidade. O conforto que sinto com essa conexão é tipo a memória da salsicha de frango com onigiri num bentô dentro de um carro na rua atrás do Delphin Hotel de Guarujá.

Para musicalizar este post nada melhor que o clássico "Férias de verão dos meus 23 anos" do Shinsei Kamattechan:


O legal dessa música é que ela tem sequências: a banda lançou uma versão de 26 e 33 anos (talvez tenha alguma mais nova no momento que eu estiver escrevendo este post). Mas as letras são todas sobre envelhecer.

Outra música legal que queria botar é do Hara From Hell, teve duas pessoas que comentaram (uma aqui e outra pessoalmente) como gostaram da música que botei da banda noutro post, então aqui vai outra que também é pertinente ao tema:

 

O tema de natsuyasumi é um negócio incrível na mídia japonesa. Tem um monte de jogo, anime e os caralho que tentam mostrar a essência das férias de verão no Japão, mas é uma coisa tão folclórica que acaba sendo uma experiência mais pessoal mesmo pra cada um.

E é isso, pessoal!

Quando peguei esse esboço que tinha começado a escrever semana passada eu mal sabia no que ia dar, e acabou chegando numa experiência bem pessoal minha e uma (breve) reflexão da minha essência como nipo-brasileiro. 

Vou tentar pegar mais ritmo pra escrever mais aqui.

vlw flw, té mais! 

domingo, 20 de abril de 2025

Yoiti recomenda: mangás

Eu estou com uns três posts pela metade que estou escrevendo sobre música japonesa e percebi que venho falando só desse assunto faz um tempo, então decidi escrever um post sobre minha outra grande paixão: mangás.

Cara, eu estou com preguiça de pesquisar mas tenho quase certeza que já fiz um post parecido uns anos atrás mas não lembro ao certo quais mangás que recomendei, então vou falar de mangás que comecei a ler pouco tempo atrás e que sejam bem novos.

 

Ichi the Witch

 
Revelação da capa de Ichi The Witch Volume 2. Lançamento previsto para  terça-feira, 4 de março. : r/WeeklyShonenJump

É o mangá desenhado pela artista do act-age, isso já é um motivo forte pra ler. Mas em linhas gerais: "Num mundo fantástico existem bruxas que precisam caçar as criaturas que fornecem mágica pra elas, só mulheres podem ser bruxas até que acham um menino que consegue usar mágica também!!". Acho que é o típico shounen fantástico com magia que se baseia na exploração de um mundo fictício, pensa em, sei lá, Frieren mas shounen... MAIS shounen.

Hope You're Happy Lemon

 

Hope You're Happy, Lemon - Wikipedia

Mangá de romcom com body swapping, sim, mais um desses. Um tempo atrás fui extremamente julgado por revelar que gosto de mangás de romance, e sinceramente? Julgamento totalmente justificado. O mangá é bem bobinho e não tem grandes dramas (eu pensei o mesmo do começo de Kimi no Iru Machi...). Esse tipo de romance da Shounen Jump tipo, sei lá, Nisekoi ou Kaguya-sama (eu sei que nesse caso era da Young Jump) é o tipo de entretenimento que você consome sem compromisso e sem nenhuma expectativa, se você tá atrás de algo assim, take a shot.

 

The Jeweler's Maid

 

Manga Mogura RE (Anime & Manga News) on X: ""The Jeweler's Maid -  Housekishou no Maid" vol 5 by Yamase Chika Elegant Slice of Life Manga in  short episodes about a maid

Um mangá sobre uma perita em joias (jewel appraiser, foi assim que o Google traduziu) e que por algum motivo é uma Maid, hummm. Acho que foi aqui que falei que tem mangá pra toda profissão possível menos engenheiro né, pois é. É um mangá bem legal sobre uma coisa totalmente aleatória, meu gênero favorito pra ser bem sincero. 

Super no Ura de Yani Suu Futari 

 

 Super no Ura de Yani Suu Futari | Primeiras impressões

Outro mangá de romance, me julguem (vocês não fazem ideia da quantidade desses que acompanho). Cara, só de ser um romance de dois adultos já fora da escola e da faculdade já é um sopro de ar fresco nesse gênero. É uma obra bem mais séria que o outro romance que botei nessa lista mas nada deprimente, é do tipo "vida adulta é difícil, vo fumar meu cigarrin rsrsrs" nada do tipo que acontecia no Oyasumi Punpun de "vida adulta é UMA DOR INFINDÁVEL e VOU ME MATAR", enfim, recomendo.

Kono Yo wa Tatakau Kachi ga Aru

 Konoyo wa Tatakau Kachi ga Aru - Wikipedia

É o meu favorito da lista.

Cara, é o mangá que surge a cada 10 anos no Japão sobre a juventude revoltada e cansada e que lida com isso sendo PIROCA DA CABEÇA. Olha gente, se vocês queriam que eu escrevesse uma sinopse pra cada obra, eu desisti de fazer isso na primeira recomendação, vão procurar no Google. 

Mas voltando ao mangá: cara, esses mangás sobre jovens adultos que cansaram da sociedade japonesa e despirocam é um clássico, que era muito associado à cultura bosozoku, acho que GTO é um pouco disso também. Nesse mangá tem um símbolo dessa era perdida na personagem principal, que começa a usar uma sukejan (jaqueta típica de delinquente no Japão, que eu quero comprar) ao desistir da vida corporativa pra viver livre.

Esse tema recorrente em mídias no Japão da pessoa que só se fode, chora e grita mas que no fim está livre (SUPOSTAMENTE, ninguém nunca é livre em uma sociedade capitalista), e é meu clichê favorito, QUEM NUNCA DESPIROCOU NA VIDA???? (pessoas que leem este blog já me viram despirocar num trabalho voluntário).

Considerações finais

Eu queria recomendar vários romcoms porque é o gênero que mais estou lendo faz uns anos. Não me pergunte o porquê mas eu amo ler mangá claramente ruim depois de ler um mangá que é muito pesado pra ler e digerir, por exemplo: outro dia peguei Red do Naoki Yamamoto pra ler e tive que fazer gargarejo com um romcom imbecil adaptado de light novel pra não ficar muito noiado da cabeça. 

A merda é que esse meu costume (adquirido na pandemia, como tudo de ruim) me fez ler 9 mangás MERDA pra cada mangá minimamente decente. Eu tenho lá meus requisitos pra continuar lendo uma obra: em dois capítulos tem que ter o mínimo de plot pra me manter interessado, esse é um requisito extremamente leniente mas mesmo assim eu dropo boa parte dos mangás que começo por curiosidade antes de terminar o primeiro capítulo.

Eu gosto muito de vocês pra recomendar os mangás ruins que acompanho, não é nem por vergonha que eu não vou citá-los por nome aqui, se um leitor do meu blog me parar na rua me indagando sobre os meus bookmarks no Mihon, eu vou mostrar sem problema nenhum, mas não quero fazer vocês perderem tempo das suas vidas indo atrás de um mangá merda romcom adaptado de light novel que leio pra digerir um capítulo de um mangá do Shuzo Oshimi. 

Acho que por muito tempo eu me sentia "superior" por ler coisa "complexa", "pesada" e "triste", eu lia Oyasumi Punpun, Historie, Aku no Hana, Vinland Saga, Monster, etc. (apesar que não cheguei a ler Berserk). Mas é uma merda você ficar se limitando a esses seinen, assim como é ruim se limitar a fight shounen. O mangá que considero o melhor que li até hoje que já terminou é Oyasumi Punpun, mas o melhor que leio hoje é Blue Period, aí já dá pra ver que mudei bem meu gosto.

Vendo agora que falei que Kono Yo wa Tatakau Kachi ga Aru é meu favorito da lista de hoje e meus favoritos hoje são GTO e Katabami no Ougon (que já citei no blog), acho seguro dizer que o clichê de protagonista que só se fode e grita e chora e etc. é o que mais gosto, muito porque eu me identifico com isso mais que deveria. O que me leva pra música do dia:

 

 

Essa minha mudança de pensamento sobre o que é meu tipo de mangá favorito aconteceu ao mesmo tempo à minha mudança de gosto musical. 

Mas pera Yoiti, você mudou de gosto musical nos últimos 10 anos? Sim porra, você não leu o último post?

Minha banda favorita de todos os tempos ainda é o depressivo Kinoko Teikoku entre 2010 e 2013, mas a Kaneko Ayano ocupa esse lugar do meu coração desde então.

Mas pera, o que a música que postei tem a ver com tudo isso? Assiste o clipe pô.

O que mais gostei de ver nos shows pequenos lá no Japão eram as pessoas "normais" que iam pra ver o show, cantavam chorando as músicas e depois vazavam, mesmo com a facilidade de falar com a banda e tudo mais. Nos shows aqui vejo muita gente que vai porque é da cena, porque conhece a banda pessoalmente, que quer tirar foto com a banda e tal, não vou dizer que isso não rola no Japão, mas o que rola lá não acontece aqui necessariamente.

NO FIM FUI PRA MÚSICA JAPONESA NO FIM DE NOVO, e isso que nem entrei em detalhes sobre o porquê do Kinoko Teikoku na verdade não ser depressivo no fim, mesmo na sua era mais dark... (prévia pra um próximo post?).

Tem dia que quero mesmo ir num karaoke pra chorar cantando uma música do Digimon (você já parou pra ler a letra de Brave Heart?? Puta que pariu, me descaralhei todo chorando na primeira vez que li a tradução). EU QUERO DESCER A RUA TAMANDARÉ NUMA BIKE OUVINDO MASS OF THE FERMENTING DREGS E CHORANDO PORRRAAAAAAAAAA-

eu estou bem, juro

Enfim galera, eu não manjo tanto de mangá porque sinceramente eu não quero. Pelo menos sabendo de música japonesa eu consigo dar uma de palestrinha sem parecer um otaku, eu acho. Mas consumo muito mangá, mais do que qualquer outro meio de mídia, o que é honestamente preocupante, vou pegar algum livro pra ler.

É isso rapaziada, tentem tirar algum sentido desse post que fiz num domingo entre-feriados, podem me mandar e pedir recomendações de mangá também, juro que tento ter boa vontade pra responder neste post, eu não costumo responder comentários porque maioria eu responderia com "ah sim, concordo vdd" e não quero fazer o tipo de coisa que me veria sendo forçado a fazer no trabalho, só que no meu blog. Mas saibam que leio todo comentário neste blog quase que instantaneamente porque recebo e-mail com notificação.

É ISSO

obrigado por continuarem dando palco pra maluco,

vlwflw té mais! 

sexta-feira, 28 de março de 2025

Meus 20 e poucos anos e Shimokitazawa

Eu li (uma tradução bem porca do DeepL de) um post da Lovely Summer Chan relatando a mudança dela de Shimokitazawa e um dos últimos dias dela morando naquele bairro, descrevendo a estadia dela lá como a mais clássica imagem de uma pessoa nos seus 20 anos, desempregada, pobre e pessimista morando sozinha. E isso me fez refletir sobre os meus 20 anos.

Claro, a Lovely Summer Chan é de 95, então ela realmente está no fim dos 20 anos dela, mas eu tenho pela frente os créditos finais antes de atingir os 30, mas não quero guardar essa ideia de post pra daqui um ano, então o que fiz dos meus 20 aos meus 29 anos?

Com 20 anos eu tava no segundo ano da Poli, com 29 estou como analista pleno em um bancão, e nesse entremeio?

Eu fiz uma lista que englobava umas coisas que fiz antes também no último post que fiz de aniversário (ano passado) mas acho interessante focar nos meus 20 anos.

Com 20 anos (em 2016) eu tava chorando pelos cantos porque eu só tava me fudendo na faculdade, o sonho de entrar na Poli já estava no pesadelo e eu não tinha muita esperança de melhora. Logo depois um dos meus melhores amigos morreu e minhas memórias por uns bons meses virou uma moçoroca, não lembro de muita coisa.

Minhas próximas memórias já são de quando eu tinha 22/23 anos e além da depressão de estar me fudendo sem igual na faculdade, o cenário político no Brasil não ajudava muito, então fiz a única decisão que parecia razoável à época: trabalhar 14 horas por dia numa fábrica de doces no Japão pra custear minha viagem pra lá, e sinceramente? Essa foi a melhor ideia que tive até hoje.

Eu tinha uma imagem muito idealizada do Japão, mas mais ainda de Shimokitazawa. Eu sou fã de música underground japonesa desde meu ensino médio, e o que mais simbolizava tudo o que eu mais ansiava era o bairro de Shimokitazawa. Eu li o livro da Banana Yoshimoto ambientado no bairro (Moshi Moshi Shimokitazawa), vi vídeos, mini-documentários em japonês sem legenda, eu amava ver a série de entrevistas "Uchuu Nippon Setagaya" (nome do último álbum do Fishmans) que era gravada numa casa de shows próxima a Shimokita, enfim, pra mim aquele bairro era o paraíso.

Até que fui lá, e felizmente o bairro não me decepcionou.

Eu já contei isso milhares de vezes mas vou contar de novo: eu aproveitei que ia ter um show do Mass of the Fermenting Dregs numa casa de show perto de Shimokita e reservei duas noites num hostel lá pra me sentir parte do bairro. E meu sonho era ver a rua onde foi gravado o clipe de uma banda que amo (Chronostasis do Kinoko Teikoku). O foda era que eu realmente não sabia como perguntar pro cara da recepção onde que foi gravado, será que abro o vídeo e pergunto? Não vou parecer um otário? Chegando lá no hostel uma caixinha de som tava tocando uma playlist SÓ COM MÚSICAS DO KINOKO TEIKOKU, eu só perguntei onde que foi gravado Chronostasis e o cara abriu o Maps e me indicou onde era. 

Eu pertencia a aquele lugar, eu acho.

Andando pelas ruas de Shimokitazawa, e de Setagaya num geral, eu me sentia abraçado por todas as minhas expectativas e memórias que eu tinha das bandas que passaram por ali.

Mas puta que pariu, me desviei totalmente do tópico original.

Meu maior sonho da minha vida era ir pro Japão e ver shows e conhecer Shimokita e tal, e porra, realizei meu sonho com 23 anos. O que fazer agora?

Daí pra frente eu tava ainda fodido na faculdade mas pouco tempo depois estourou uma pandemia e parece que foi a intervenção divina pra eu terminar minha graduação, daí foi estágio, efetivação, me formei e senti só alívio, pisquei e cá estamos: 29 anos quase 30.

Meu plano original antes de ir pro Japão em 2018 era ir pro Japão antes dos 30 anos, então tive a ideia de ir turistar lá antes de completar 3 décadas neste mundo. Planejamento foi e voltou e acabei incluindo mais três amigos do trabalho nessa empreitada.

Eu encaro essa viagem que vou fazer como uma última chance de ter uma viagem dessas com amigos, não quero ser clichê em dizer que seria o fim da minha juventude mas gostaria de encarar como se fosse.

Nessa última década não vivi grandes paixões (só umas desilusões amorosas aqui e ali), não me aventurei pra MUITO além da minha zona de conforto e sequer cheguei a morar longe dos meus pais por muito tempo, mas de certa forma acho que tive uma juventude plena. Não consegui alcançar o estilo de vida de um jovem hipster que mora em Shimokitazawa mas também não me torturei muito por isso, não possuo maiores arrependimentos.

Agora nos meus créditos finais dos 20 anos, espero criar boas memórias e me preparar pra ser um bom adulto de 30 anos, e como disse a Lovely Summer Chan no final do post que linkei:

"Eu passei meus 20 anos sozinha e o fim deles neste bairro, e essa foi minha juventude, obrigada"

 Pra ser a trilha sonora deste post, nada mais justo que botar uma música da autora do post que me inspirou:

 

Antes eu achava esse tipo de música muito superficial, pra mim a sinceridade estava nos versos gritados da Kaneko Ayano ou do Noko no Shinsei Kamattechan, mas conhecendo mais e acompanhando esses artistas, dá pra ver que eles são tão sinceros com suas composições quanto qualquer outro.

E é isso, na verdade eu tenho uns 3 posts que eu tava escrevendo e parei no meio, mas a ideia desse aqui veio muito forte, tanto que estou terminando este post depois da meia noite sendo que tenho trabalho presencial amanhã! A ideia era muito boa pra esperar.

Aliás, leiam traduzido (ou não se você souber japonês) o post que linkei no começo. É super bobinho e tal mas pra mim seria um dia perfeito e uma reflexão muito legal de uma pessoa que leva o estilo de vida que sempre sonhei.

Bem, vou nessa. Espero que vocês estejam bem e também tenham uma visão positiva dos seus 20 anos (se já passaram por eles).

 vlw flw, té mais!