sábado, 11 de janeiro de 2020

For Tracy Hyde

Hoje vai fazer um ano do primeiro show que fui no Japão, do For Tracy Hyde, nada mais justo que um post sobre a banda.

Acho que eu falei no post do show mas eu conheci For Tracy Hyde no meio de 2018, sempre que estudava na sala CAD da Naval eu botava um álbum randômico inteiro que tinha no Youtube pra escutar, nessas encontrei o Film Bleu e o he(r)art do FTH.

A decisão pra ir pro show quando estava no Japão foi repentina, eu sequer planejei direito mas acabei decidindo ir dois dias antes do show, pedi pro chefe mudar uma folga minha e fui pra Tokyo sem saber onde dormir e sem saber como chegar no local, o resto você pode ler aqui.

Eu achei que não podia tirar foto do show então só tirei antes mesmo, eu tava pertinho.

For Tracy Hyde começou em 2012 com o Natsubot (ou Azusa Suga) nos vocais, ele é até hoje o compositor e líder da banda, e continuou na obscuridade até meados de 2014 quando a Lovely Summer-chan assumiu o vocal da banda. Dessa primeira fase com vocal masculino só achei uma release: "Juniper and Lamplight".

Com a Lovely Summer-chan foram duas releases: "Born to be Breathtaken" (disponível no Spotify) e "In Fear of Love" (que é bem difícil de achar), o estilo vocal dela era bem sussurrado e chegava a ser meio dissonante do estilo da banda na época, que era bem animadinho e com influências bem explícitas de twee-pop.

A Lovely Summer-chan tem uma carreira bem sólida desde que saiu do For Tracy Hyde, o álbum LSC (no Spotify) é um bom ponto de partida pra conhecer a obra dela, hoje ela lança mais singles e músicas pra propagandas. Se você souber japonês acho que vale a pena seguir o twitter dela também (@imaizumi_aika), acho que ela é uma das únicas pessoas do Japão que é tão comicamente sincera que chega a doer, eu genuinamente queria ser amigo dela.



Em 2015 a Lovely Summer-chan saiu e a vocalista atual Eureka entrou no lugar. A voz da Eureka é completamente oposta ao da Lovely Summer-chan e isso fica bem óbvio ao comparar as versões distintas de músicas como Outcider com as duas vocalistas. Em suma a Eureka tem uma voz bem mais aguda e nasal que a Lovely Summer-chan, o que não curti quando conheci a banda já que umas músicas foram feitas pra voz da outra vocalista, mas em músicas escritas já pra voz da Eureka como Atatakakute Amai Umi, ela brilha nos vocais.



A partir da entrada da Eureka a banda só cresceu e lançou três álbuns em quatro anos: Film Bleu (2016), he(r)art (2017) e New Young City (2019).

Film Bleu é meio que um apanhado de músicas escritas anteriormente e umas novas, a voz da Eureka parece meio fora de lugar em algumas músicas, "First Regrets" e "SnoWish;Lemonade" em especial, já que foram escritas pra voz da Lovely Summer-chan. Mas Atatakakute Amai Umi é muito boa e é uma música que não ficaria boa com qualquer voz senão a da Eureka, eu não vou falar que a música salva o álbum (já que o álbum seria ótimo mesmo sem essa música em particular) mas é a minha favorita do Film Bleu.

he(r)art é um álbum conceito que foi construído como se fosse uma soundtrack de um filme sobre Tokyo, preciso falar porque este é o meu favorito da banda? A primeira faixa se chama "Opening Logo (FTH Entertainment)" e é um sample de uma abertura de filme antiga e assim o álbum segue com músicas sobre Tokyo num dream pop que é meio... etéreo? Não sei descrever bem mas é o estilo perfeito pra capturar a alma de Tokyo. Depois de lançar o he(r)art e antes de começar as gravações do próximo álbum, a banda trocou de baterista.



New Young City, diz o Azusa pelo menos, que é um álbum conceito sobre o mar, tem até um "Opening Logo" que nem o último álbum. Eu não achei que este álbum se limita o suficiente num tema pra conseguir ser chamado de concept album como seu antecessor mas isso faz com que ele seja bom de se ouvir tanto em sequência quanto individualmente sem muita culpa de estar esquartejando a obra. Os destaques aqui são o "Can Little Birds Remember?" que é a primeira música em inglês que a banda lançou e "Sakura no Sono" que é a música mais shoegaze que a banda soltou até hoje e foi a primeira do álbum a ser revelada. NYC foi o melhor álbum de 2019 e é evidente a maturação pela qual a banda passou desde o último álbum, mas pelo hype todo e por achar que o álbum seria todo na vibe do "Sakura no Sono", acho que acabei esperando demais e me desapontei um pouco, mas ainda assim é um puta álbum.



A banda segue um estilo meio The Pains of Being Pure at Heart, com um twee puxado pro shoegaze, mas às vezes bebe de outras fontes, seja fazer uma releitura de Chapterhouse  no Atatakakute Amai Umi, seja pegar um riff aqui e ali do The Cure. Pra ser bem sincero eu não acho que a banda seja muito original nesse sentido, eles dependem muito das influências ocidentais e não têm um som característico próprio que nem o Mass of the Fermenting Dregs por exemplo, mas com certeza a banda não é genérica.

O líder/compositor/guitarrista do For Tracy Hyde, Azusa Suga (ou Natsubot) é uma das pessoas mais ativas no cenário underground hoje. Além do FTH ele ainda tem uma banda mais focada num estilo Jpop mainstream, o April Blue, e ele ainda compõe pra projetos bem legais como o Dots Tokyo e o RAY (grupos idol com músicas no estilo shoegaze). Mas o que acho mais interessante do que ele (e o guitarrista do "17 year old and Berlin Wall" também ajuda) anda fazendo é integrar os cenários underground asiáticos: o For Tracy Hyde fez uma tour pelo sudeste asiático (Filipinas, Indonésia, Singapura e Taiwan) e também promoveu bandas de lá a fazerem tour no Japão, aposto que nos dois casos as bandas saíram no prejuízo, fazer show deixa os caras no vermelho até na terra natal, quanto mais fora, mas achei bem legal das bandas quererem se unir, acho que é uma das primeiras vezes que as bandas japonesas buscam por uma simbiose mais local do que ir atrás das bandas americanas/inglesas tão distantes do alcance deles.

O meu álbum favorito é o he(r)art mais por questões afetivas do que racionais, já que tenho ele assinado pela banda e foi a minha soundtrack nas viagens que fiz de ônibus pra Tokyo. Talvez New Young City até seja um melhor álbum, pelo menos é mais popular e foi o que atraiu uma boa quantidade de fãs pra banda no último ano, mas he(r)art pra mim ainda é especial.

For Tracy Hyde ainda é bem desconhecido, nenhum vídeo da banda alcançou sequer 100 mil visualizações no Youtube e dificilmente shows deles enchem no Japão, mesmo com lotação inferior a 200 pessoas na maioria, mas é uma banda extraordinária e ainda vai causar muito barulho no cenário underground japonês.



O diferencial da banda é fazer (depois da entrada da Eureka na banda) sempre álbuns sólidos, que aderem a um tema, e longos, indo na contracorrente do que é usual hoje em dia: EPs curtinhos e sem nenhuma coesão, só juntando as músicas que a banda fez até certo ponto. Além disso, só da banda se interessar em se integrar com o cenário underground asiático e não ficar só no Japão, ou tentar se vender pra Europa/States, já é bem legal.

O faz com que For Tracy Hyde seja especial pra mim, além de terem sido o primeiro show que fui em terras nipônicas e ter sido a única banda com quem consegui conversar lá, é o fato de que os membros da banda são todos meio relatable, comigo pelo menos. Os integrantes da banda não são working adults já nos mid-30s como o Mass of the Fermenting Dregs, não são jovens descolados que nem o Luby Sparks e não são meninas com uma vibe meio fine arts college que nem Hitsuji Bungaku, For Tracy Hyde claramente é um grupo de meio-otakus com seus 20 e poucos anos, recém saídos da faculdade que por ventura curtem shoegaze e twee e são bem introvertidos, mesmo a Eureka sendo bonita o suficiente pra ser um bom chamariz pra banda (o que fez com que ela protagonizasse uns MVs), não possui metade da presença de palco da Natsuko do MOTFD ou da Erika do Luby Sparks.

Me fala se dá pra odiar essa banda. Aliás, é a porta do Mandarake de Shibuya! Amo esse lugar.


For Tracy Hyde é minha banda ativa favorita no momento? Não. Mas é a banda mais interessante. Eles podem mudar de rumo e seguir os passos do Kinoko Teikoku que eu já nem fico puto, acho que me amadureci nesses anos acompanhando bandas underground, além de que FTH já tem um estilo bem mais pop desde o começo e foram tantas mudanças de estilo só nesses últimos três álbuns desde 2016 que nada mais me impressiona, ou será que...

Em suma é isso: For Tracy Hyde é uma banda de introvertidos que busca lançar só álbuns-conceito, possuem esse projeto de integrar os cenários underground da Ásia e merecem muito mais reconhecimento.

Obrigado For Tracy Hyde por ser uma banda tão interessante, eu passaria dias falando da banda, sério.
E como disse a Eureka quando comprei o CD e a camiseta no show há um ano atrás: 本当にありがとう!

Nenhum comentário:

Postar um comentário