Poucas vezes pude dizer que eu realmente tinha orgulho de ser brasileiro.
Pra começo de conversa eu sou bem particular em falar de ter "orgulho" de algo que eu não conquistei, que eu sequer escolhi, mas às vezes me via emocionado quando a imagem do Brasil era projetada no exterior de forma positiva.
A maioria das vezes era no esporte. Mais que no futebol, eu sempre torci mais pro Brasil nas olimpíadas, era sempre legal ver nosso país conseguir vencer um adversário que, na maioria das vezes, tinha bem mais verba de patrocínio e apoio dos governos locais.
Enfim, eu comecei a escutar Bossa Nova um bom tempo atrás, acho que lá no ensino médio, e apesar de ter começado pela Nara Leão por causa da pagação de pau que ela tem na gringa e pela minha preferência por vocalistas mulheres pra músicas calmas, quando eu cheguei pra ouvir o Chega de Saudade do João Gilberto eu quase caí da cadeira, nunca pensei que a voz pudesse ser usada de tal forma.
O João Gilberto foi o maior gênio que já pisou neste país, quanto a isso não há a menor dúvida, não só criou um gênero musical sem praticamente não ter composto as músicas com que ficou famoso, mas também fez desse gênero o símbolo de um país, o cartão de visita do Brasil na década de 60 era a Bossa Nova.
E ler sobre o João Gilberto é uma diversão em si, cada história que alguém conta sobre ele revela uma faceta: seja a de ouvido absoluto dele dirigir sem olhar pros lados, seja da imensa sensibilidade dele por ter evitado o suicídio de um amigo através da música, seja a de perfeccionista por praticar por horas a fio uma única nota e sempre mudar pequenos detalhes de músicas gravadas a décadas. João Gilberto era uma lenda.
Quando você escuta a voz macia dele cantando de barquinhos, patos fazendo quá quá, abraços e beijinhos ou o amor, o sorriso e a flor, é impossível não se imaginar no Brasil do final dos anos 50 pro começo dos 60, um Brasil que estava em pleno crescimento e com um enorme otimismo, um Brasil que prometia ser o líder daquele que parecia o começo do protagonismo latino americano no cenário mundial, um Brasil que era moderno, progressista e aberto a novas ideias, um Brasil que nunca existiu.
E essa é uma das magias da Bossa Nova em geral, e a razão pela qual ela enfrenta críticas até hoje: ela é um retrato do Brasil dos anos 60 que mostra as coisas boas e oculta as ruins, é uma foto que mostra as moças bonitas tomando sol na praia mas não mostra a favela ao lado.
Às vezes eu ainda vejo essa imagem romântica do Brasil das moças de bikini e dos barquinhos pesqueiros sendo repetida lá fora, e ouvindo Chega de Saudade enquanto se olha para o mar é impossível não acreditar um pouco nessa imagem e sentir um pouco de saudade de uma época que nunca aconteceu.
Eu tenho orgulho de ter nascido no mesmo país que João Gilberto nasceu, o maior músico brasileiro da história e talvez o maior intérprete de música popular no mundo. Eu nunca vi ele ao vivo, só comecei a ouvir a música dele no ensino médio e a bossa nova em particular nunca foi minha coisa favorita, o Jpop estava sempre lá pra superá-la no meu coração, mas minha admiração por esse homem é infinita e para mim ele é o melhor representante que nossa cultura poderia ter.
Esqueça o futebol, a comida, a fauna, a flora ou qualquer coisa que seja, o maior motivo para eu me orgulhar do Brasil era o João Gilberto.
Obrigado por tudo, João.
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