terça-feira, 29 de outubro de 2024

Look Back & Kalk Samen Kuri no Hana

Aaaahhhhh eu estou com uma preguiça descomunal de escrever alguma coisa aqui mas quero manter a decência de pelo menos fazer um post por mês.

Eu fui com um amigo meu ver uma maratona de dois filmes: Look Back no Cine Marquise e Love Exposure no Cinusp da Maria Antonia (o primeiro filme é curtinho e tem uma hora, o segundo tem quase quatro...).

E entrei em uma profunda crise de identidade.

Acho que os dois filmes são extremamente pessoais para quem os fez: Look Back é o mangá mais pessoal do Tatsuki Fujimoto (autor de Chainsaw Man) e o diretor Kiyotaka Oshiyama conseguiu fazer uma adaptação que trouxe tudo do mangá e ainda deu um toque pessoal dele. Love Exposure foi uma obra de paixão feita pelo Sion Sono, onde ele realmente quis fazer uma obra que expressasse tudo o que ele gosta e não podia fazer nos filmes que ele geralmente faz, maioria adaptação de mangá.

Mas Look Back em particular é uma obra apaixonante sobre o ato de CRIAR.

Eu particularmente tenho uma obra que me guia sempre quando o assunto é metalinguagem, quando é uma obra que fala sobre o ato de criar: Kalk Samen Kuri no Hana (ou KZK).

Pra quem não sabe, KZK é o terceiro álbum da cantora japonesa Shiina Ringo, mulher esta que na minha escala de respeito só perde para a minha mãe, e o terceiro álbum dela é do caralho, do balacobaco. Eu inclusive escrevi um review sobre esse álbum no blog e no Rate Your Music (TOP 1 em duas listas que fiz, o review separado é igual ao do blog).

E cara, pra mim KZK é minha bíblia, eu sempre testo fones novos com esse álbum e todo o processo criativo da Shiina Ringo e a história por trás de cada detalhe sempre me inspirou muito a não desistir de tudo. 

A última faixa do KZK, Souretsu (que traduz pra Procissão Fúnebre) é sobre aborto. Mas, ouçam-me bem, dá pra interpretar como sendo sobre o processo criativo. A letra e a tradução podem ser consultadas aqui e em modo geral o consenso é que o aborto seria o descarte de ideias em busca de novas e o ódio que o eu lírico tem da Samsara, o ciclo infinito do Budismo de vida e morte, nesse caso aplicado ao ciclo criativo. 

Enfim, a visão da Shiina Ringo do processo artístico é algo extremamente doloroso e penoso, e pra mim se a Shiina Ringo falou tá falado, quem sou eu pra contradizer a pessoa que fez Kalk Samen Kuri no Hana?

Mas Look Back não romantiza a ideia de criar, não floreia e também não faz parecer mais penoso do que já é. 

Crie, apenas crie! 

Não posso falar muito mais sobre o filme/mangá porque seria spoiler, mas assistam se puderem.

E depois de ver Look Back eu assisti Love Exposure, que é uma puta expressão, não só do Sion Sono, mas também de todos os atores e staff envolvidos no filme, é uma verdadeira obra que só poderia ser feita com muita paixão.

Aí entrei numa crise profunda.

Eu sempre vi o processo de criação como sendo algo quase sacro. A Shiina Ringo me ensinou o que era a perfeição e como o processo era extremamente sacrificante, e eu nos altos dos meus 17 anos só concordei. Eu fui fazer Engenharia Naval com a mais inocente motivação que talvez eu fizesse minha grande obra lá, um navio, um barco, sei lá, mas algo material. Não demorou muito pra eu desistir da ideia e só aceitar que eu nunca criaria nada que pudesse ser chamado de obra em vida.

Mas Look Back me tocou, se desisti faz tempo de criar algo porque então ainda escrevo neste blog? Porque não paro de usar este site e só jogo meus pensamentos aleatórios no Twitter? Se valorizo tanto a perfeição do KZK porque então prefiro ouvir uma cantora quase gritando no meu ouvido do que a Shiina Ringo? A resposta estava lá o tempo todo, eu que não enxergava.

Eu quero criar algo, quero sair chorando na chuva, quero fazer alguma coisa, não pra ser lembrado pela posterioridade, mas pelo simples processo de criar algo, esse era o grande segredo.

Eu estou passando por esse processo neste momento, e em todo momento que escrevi um post aqui. Por isso continuo aqui.

Por hoje é só.

vlw flw té mais!