sexta-feira, 28 de março de 2025

Meus 20 e poucos anos e Shimokitazawa

Eu li (uma tradução bem porca do DeepL de) um post da Lovely Summer Chan relatando a mudança dela de Shimokitazawa e um dos últimos dias dela morando naquele bairro, descrevendo a estadia dela lá como a mais clássica imagem de uma pessoa nos seus 20 anos, desempregada, pobre e pessimista morando sozinha. E isso me fez refletir sobre os meus 20 anos.

Claro, a Lovely Summer Chan é de 95, então ela realmente está no fim dos 20 anos dela, mas eu tenho pela frente os créditos finais antes de atingir os 30, mas não quero guardar essa ideia de post pra daqui um ano, então o que fiz dos meus 20 aos meus 29 anos?

Com 20 anos eu tava no segundo ano da Poli, com 29 estou como analista pleno em um bancão, e nesse entremeio?

Eu fiz uma lista que englobava umas coisas que fiz antes também no último post que fiz de aniversário (ano passado) mas acho interessante focar nos meus 20 anos.

Com 20 anos (em 2016) eu tava chorando pelos cantos porque eu só tava me fudendo na faculdade, o sonho de entrar na Poli já estava no pesadelo e eu não tinha muita esperança de melhora. Logo depois um dos meus melhores amigos morreu e minhas memórias por uns bons meses virou uma moçoroca, não lembro de muita coisa.

Minhas próximas memórias já são de quando eu tinha 22/23 anos e além da depressão de estar me fudendo sem igual na faculdade, o cenário político no Brasil não ajudava muito, então fiz a única decisão que parecia razoável à época: trabalhar 14 horas por dia numa fábrica de doces no Japão pra custear minha viagem pra lá, e sinceramente? Essa foi a melhor ideia que tive até hoje.

Eu tinha uma imagem muito idealizada do Japão, mas mais ainda de Shimokitazawa. Eu sou fã de música underground japonesa desde meu ensino médio, e o que mais simbolizava tudo o que eu mais ansiava era o bairro de Shimokitazawa. Eu li o livro da Banana Yoshimoto ambientado no bairro (Moshi Moshi Shimokitazawa), vi vídeos, mini-documentários em japonês sem legenda, eu amava ver a série de entrevistas "Uchuu Nippon Setagaya" (nome do último álbum do Fishmans) que era gravada numa casa de shows próxima a Shimokita, enfim, pra mim aquele bairro era o paraíso.

Até que fui lá, e felizmente o bairro não me decepcionou.

Eu já contei isso milhares de vezes mas vou contar de novo: eu aproveitei que ia ter um show do Mass of the Fermenting Dregs numa casa de show perto de Shimokita e reservei duas noites num hostel lá pra me sentir parte do bairro. E meu sonho era ver a rua onde foi gravado o clipe de uma banda que amo (Chronostasis do Kinoko Teikoku). O foda era que eu realmente não sabia como perguntar pro cara da recepção onde que foi gravado, será que abro o vídeo e pergunto? Não vou parecer um otário? Chegando lá no hostel uma caixinha de som tava tocando uma playlist SÓ COM MÚSICAS DO KINOKO TEIKOKU, eu só perguntei onde que foi gravado Chronostasis e o cara abriu o Maps e me indicou onde era. 

Eu pertencia a aquele lugar, eu acho.

Andando pelas ruas de Shimokitazawa, e de Setagaya num geral, eu me sentia abraçado por todas as minhas expectativas e memórias que eu tinha das bandas que passaram por ali.

Mas puta que pariu, me desviei totalmente do tópico original.

Meu maior sonho da minha vida era ir pro Japão e ver shows e conhecer Shimokita e tal, e porra, realizei meu sonho com 23 anos. O que fazer agora?

Daí pra frente eu tava ainda fodido na faculdade mas pouco tempo depois estourou uma pandemia e parece que foi a intervenção divina pra eu terminar minha graduação, daí foi estágio, efetivação, me formei e senti só alívio, pisquei e cá estamos: 29 anos quase 30.

Meu plano original antes de ir pro Japão em 2018 era ir pro Japão antes dos 30 anos, então tive a ideia de ir turistar lá antes de completar 3 décadas neste mundo. Planejamento foi e voltou e acabei incluindo mais três amigos do trabalho nessa empreitada.

Eu encaro essa viagem que vou fazer como uma última chance de ter uma viagem dessas com amigos, não quero ser clichê em dizer que seria o fim da minha juventude mas gostaria de encarar como se fosse.

Nessa última década não vivi grandes paixões (só umas desilusões amorosas aqui e ali), não me aventurei pra MUITO além da minha zona de conforto e sequer cheguei a morar longe dos meus pais por muito tempo, mas de certa forma acho que tive uma juventude plena. Não consegui alcançar o estilo de vida de um jovem hipster que mora em Shimokitazawa mas também não me torturei muito por isso, não possuo maiores arrependimentos.

Agora nos meus créditos finais dos 20 anos, espero criar boas memórias e me preparar pra ser um bom adulto de 30 anos, e como disse a Lovely Summer Chan no final do post que linkei:

"Eu passei meus 20 anos sozinha e o fim deles neste bairro, e essa foi minha juventude, obrigada"

 Pra ser a trilha sonora deste post, nada mais justo que botar uma música da autora do post que me inspirou:

 

Antes eu achava esse tipo de música muito superficial, pra mim a sinceridade estava nos versos gritados da Kaneko Ayano ou do Noko no Shinsei Kamattechan, mas conhecendo mais e acompanhando esses artistas, dá pra ver que eles são tão sinceros com suas composições quanto qualquer outro.

E é isso, na verdade eu tenho uns 3 posts que eu tava escrevendo e parei no meio, mas a ideia desse aqui veio muito forte, tanto que estou terminando este post depois da meia noite sendo que tenho trabalho presencial amanhã! A ideia era muito boa pra esperar.

Aliás, leiam traduzido (ou não se você souber japonês) o post que linkei no começo. É super bobinho e tal mas pra mim seria um dia perfeito e uma reflexão muito legal de uma pessoa que leva o estilo de vida que sempre sonhei.

Bem, vou nessa. Espero que vocês estejam bem e também tenham uma visão positiva dos seus 20 anos (se já passaram por eles).

 vlw flw, té mais!

sábado, 8 de março de 2025

Kaneko Ayano

Minha cantora favorita faz uns quatro anos é a Kaneko Ayano, mas por quê?

Eu gosto de muitas cantoras japonesas, MUITAS. A Shiina Ringo é uma excelente compositora e produtora e tem letras muito boas e instrumentais incríveis (e fez a maior obra de arte da história). A Ichiko Aoba te transporta pra outro universo: seja uma floresta cheia de youkais, o fundo do oceano ou o Espaço Sideral, só com a voz e um violão. A Momoe Yamaguchi foi a maior Idol de todos os tempos, sua breve carreira pautou o que seria cobrado de uma idol nas décadas a seguir e sua aposentadoria no auge é o fim de carreira mais icônico da história do Japão. A Izumi Sakai foi o símbolo de superação de um Japão devastado pela bolha econômica dos anos 80, com letras otimistas e uma presença de palco marcante, sua morte trágica só aumentou a lenda que era.  Mas e a Kaneko Ayano?

A Kaneko Ayano é uma cantora nascida em 1993 (apesar de parecer ser mais jovem) em Yokohama. Ela que compõe as músicas que toca e sempre alterna em fazer shows acústicos sozinha e com uma banda. Acho que dá pra pegar essas infos mais básicas facilmente procurando no Google, mas assim, nada de extraordinário na vida dela.

Tem um tweet que vi esses dias (e que perdi, então acreditem em mim se quiserem) que falava mais ou menos: "Eu sempre escuto Kaneko Ayano para me lembrar de não trair a mim mesmo" e isso ficou na minha cabeça.

Eu gosto muito da Kaneko Ayano porque ela é extremamente honesta nas músicas dela. Na moral que 90% das músicas dela são sobre amor, e nas suas mais variadas fases e perspectivas, todas elas cantadas com uma ânsia jovial que é impossível de não ser contagiado. Vou botar aqui umas músicas legais dela das distintas fases da carreira dela, que classifico (arbitrariamente) em três partes:

  • [2014~2017]: De Raise wa Idol até Muretachi, fase pré Shukusai onde as músicas eram mais felizes com letras mais simples e tinha uma experimentação com instrumentais que só viria a voltar bem depois na carreira dela. 
  • [2018~2021]: Shukusai, Sansan e Yosuga, é a tríplice que consolidou a carreira dela. Foi a partir do Shukusai que ela começou a lançar todos os álbuns em versão com banda e acústico, acho que foi o auge dela artisticamente.
  • [2023~]:  De Towelket wa Odayakana pra frente, acho que esse último álbum dela teve uma guinada pra um som diferente e mais interessante! Os instrumentais e letras são consideravelmente mais complexos que os dos álbuns anteriores, mas isso deixa uma certa saudade da simplicidade de antes (e é pra isso que ela lança uma versão acústica pra todo álbum desde o Shukusai).

 

Vou botar uns vídeos ao vivo com legenda em inglês pra vocês terem noção das letras, e vou botar o Spotify pra caso dê merda nos vídeos (o que é altamente provável).

 

 Cowboy (Raise wa Idol) [2014]  


 

Shuuake (Koisuru Wakusei) [2015]

 


Shukujitsu (Shukusai) [2018]


Essa é minha favorita de todos os tempos!! Acho que ela tem tudo que gosto da Kaneko Ayano: um pouco de arrependimento, um pouco de esperança e uma busca incessante pela felicidade, além dos gritos incríveis dela que só contribuem pra esse retrato da juventude que está em toda música dela. Acho que o legal dessa música é ver os covers, independente de ser cantada por um grupo de universitários bêbados ou por um barbudo no meio da rua, não dá pra cantar ela sem estar carregado de emoções.

 

Sansan (Sansan) [2019]

 

 

Acho que essa tem a letra que mais gosto, é tão simples mas essa autodeterminação de falar "vou ser amigo de quem eu escolher, tá tudo bem se meu cotidiano não for sossegado, eu que vou escolher a cor do meu telhado" num sentido de "daqui pra frente sou eu quem vai decidir meu futuro".

 

Houyo (Yosuga) [2021]

 



Acho que a versão com banda dessa música é mais cataclísmica mas essa versão é super emotiva, e pra letra acho que combina mais.

 Towelket wa odayakana (Towelket wa odayakana) [2023]

 

Eu sinceramente não chamaria o novo álbum dela de novos rumos num sentido de total mudança em relação ao que ela fazia antes, mas só de ter umas distorções de guitarra a mais e ter uma estrutura de música um pouquinho diferente já faz o fã de Kaneko Ayano de longa data ter um pouco de estranheza.

 

 Mas porque eu gosto tanto da música dela (de novo)?

Acho que é muito fácil falar de amor, mas falar com sinceridade sem parecer clichê, ou melhor, falar sem medo de parecer clichê, é pra poucos. A Kaneko Ayano se entrega quando canta as músicas, mesmo sem entender um pingo de japonês você consegue sentir o que ela tá cantando, você consegue sentir quando ela está te consolando por uma desilusão amorosa, ou quando ela grita pra você não desistir de um amor improvável ou quando fala quase chorando de um arrependimento, é uma coisa universal.

E não tem muito mais o que falar. O instrumental das músicas dela não é nada de outro mundo, apesar de ser o que faz tudo ficar coeso, mas não é o foco como nas músicas japonesas que geralmente fazem sucesso fora do país. 

Mas assim, vocês sabem como sou a pessoa mais cética deste lado do Rio Tietê, mas lembro como se fosse hoje o show que vi dela no Shinjuku Loft. Era uma casa de shows minúscula, não cabia nem 200 pessoas lá, eu estava na terceira fileira logo de frente pra ela, e só de ela entrar no palco eu já senti a energia radiante dela, que se confirmou como sendo real quando ela começou a cantar e eu conseguia escutar a voz dela antes de ser amplificada, ELA GRITA CANTANDO, que mulher incrível.

E pra terminar eu quero botar um vídeo de um pessoal cantando a música dela que acho que já postei aqui:

 

É isso que é a Kaneko Ayano no final do dia: fazer amizades, se apaixonar e curtir a vida, sendo sempre sincero consigo mesmo.

Vou botar uma playlist que fiz dela aqui mas encorajo vocês a verem os ao vivo no Youtube, tem vários legendados e dá pra sentir melhor a energia dela nesses vídeos.

 

 


E é isso, pessoal.

Acho que as músicas da Kaneko Ayano fazem mais ou menos sentido dependendo do momento que você está na vida, e pra mim está fazendo um bom sentido faz um tempão.

vlw flw té mais!